Da análise ao saque, auxílio emergencial é marcado por problemas

Erros no app e dificuldade de comunicação estão entre as reclamações

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Publicado em:28/04/2020 às 16:00
Atualizado em:28/04/2020 às 16:00

O que deveria ser uma medida para ajudar os brasileiros a enfrentarem a crise, se tornou dor de cabeça para muitos. Apesar de emergencial, o auxílio de R$600 foi marcado pela demora no atendimento, na análise e no pagamento.

A saga começou com as 11 milhões de pessoas aptas a receber o benefício que não estavam inscritas no Cadastro Único (CadÚnico). Para solicitar o auxílio, os usuários tiveram que preencher um cadastro via aplicativo ou site.

No entanto, a plataforma de cadastro não foi capaz de suportar o alto número de acessos e apresentou inúmeros erros. Os usuários reclamaram da impossibilidade para solicitação do dinheiro. 

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Com bastante dificuldade, os beneficiários foram conseguindo, aos poucos, solicitar o auxílio. Porém, a análise do cadastro não aconteceu de forma tão ágil e, na internet, essa demora foi alvo de memes.

Depois da espera, quem conseguiu aprovação no auxílio ainda teve que passar por mais outra provação. O dinheiro foi liberado no aplicativo Caixa Tem, que possibilita pagamento de boletos e transferências bancárias, mas a movimentação do benefício não foi nada fácil.

Assim como a plataforma de cadastro, o aplicativo não suportou a quantidade de acessos simultâneos. Os usuários não conseguiam realizar transações no app e o sistema apresentou diversos erros.

Os beneficiários relataram que o melhor momento para acessar o aplicativo era de madrugada, período em que havia menos pessoas tentando o acesso. Mas não adiantou muita coisa, pois a transferência era restrita ao horário das 7h às 21h.

O problema foi corrigido, mas apenas para celulares Android. Para quem tem iPhone (iOS), o aplicativo disponibilizado ainda não foi atualizado.

Saque do auxílio gera aglomerações em filas

Nessa segunda-feira, 27, começou o calendário de saques do auxílio emergencial. Para garantir o atendimento, muitas pessoas chegaram a dormir na fila e se aglomeraram sem máscaras e distanciamento mínimo. 

Em diversas cidades, as filas dobravam a esquina e foi possível notar a presença de muitos idosos (grupo de risco da Covid-19). Alguns trabalhadores levaram caixotes, papelão e cobertores para aguardar a abertura da agência.

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Beneficiários encontram diversas dificuldades para solicitar o auxílio
(Foto: Agência Brasil)

 

5,5 milhões de brasileiros não têm conta ou acesso à internet

Apesar de todas as dificuldades para recebimento do auxílio, para alguns brasileiros não foi possível sequer fazer a solicitação. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Locomotiva, mais de 5,5 milhões de brasileiros elegíveis para receber o benefício não têm conta em banco ou acesso regular à internet.

Essa parcela da população é quem corre o maior risco de não receber os R$600. O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, conta que a pandemia jogou luz em problemas já existentes e acentuou a desigualdade.

“A crise do coronavírus tirou renda e jogou para a pobreza muita gente que tinha pouco, mas não era alvo de programas sociais. O vírus joga luz a problemas que já existiam, como a baixa renda dos informais, e acentua uma desigualdade histórica”, diz Meirelles.

FOLHA DIRIGIDA questionou a Caixa Econômica Federal sobre todos os problemas apresentados acima, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno. O governo estuda alternativas para levar o auxílio às pessoas sem acesso à internet.

Segundo o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, maior parte dos informais conseguirá solicitar o auxílio pelo aplicativo ou site. Em conversa com o Estadão/Broadcast, Onyx disse que as pessoas sem acesso à tecnologia poderão contar com uma rede de apoio para fazer o cadastro.

“Se, ainda assim, surgirem situações expressivas, vamos tentar buscar essas pessoas. Mas, pelo aplicativo e site já temos resultados expressivos, o brasileiro está muito digitalizado. Caso a pessoa não consiga (pelo site ou aplicativo), ela pode ir em uma agência da Caixa, em uma associação comunitária, enfim, tem toda uma rede de solidariedade para ajudá-la”, afirmou.