Concurso PC RJ: conheça mais sobre a carreira de perito criminal

Perito criminal fala sobre dia a dia da carreira, perfil do profissional, além de dar dicas de preparação para o próximo concurso PC RJ.

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Publicado em:29/09/2020 às 08:12
Atualizado em:29/09/2020 às 08:12

Tiago Hermida está lotado atualmente na Divisão de Homicídio da corporação, tendo participação em investigações de casos de repercussão nacional, tais como o de Marielle Franco e Flordelis.

Para quem pretende se inscrever no próximo concurso PC RJ, Hermida aponta duas falhas que os futuros servidores não podem cometer.
 

“A primeira falha e a mais comum é não cumprir um planejamento e um cronograma de estudos. Estudar sem planejamento pode até dar certo, mas não é a regra e exige muito mais tempo. A segunda grande falha dos candidatos é se comparar a outros achando que está melhor ou pior preparado que estes. Isso, além de causar um grande prejuízo psicológico, não reflete a realidade.”

 

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Confira a entrevista!


Folha Dirigida → QUANDO INGRESSOU NA POLÍCIA CIVIL-RJ? COMO FOI A SUA PREPARAÇÃO À ÉPOCA?

Tiago Hermida → Ingressei na Polícia Civil no concurso de 2013. À época, eu trabalhava cerca de 10 horas por dia e estudava de madrugada. Fiz isso por três anos, mas já estudava para outros concursos com matérias afins anos antes.


Folha Dirigida → SEMPRE FOI UM SONHO SER POLICIAL CIVIL?

Tiago Hermida → Por incrível que pareça, não. Eu nunca me imaginei me tornando policial. Na verdade, tinha até uma certa aversão à área. Prestei concurso para a Polícia Civil porque este certame se antecipou ao meu concurso alvo e, após entrar e conhecer a carreira, me apaixonei. Hoje não penso em fazer outra coisa.


Folha Dirigida → ABDICOU DE MUITA COISA PARA CONSEGUIR A APROVAÇÃO NA POLÍCIA CIVIL-RJ? QUAIS OS SACRIFÍCIOS QUE VOCÊ ENFRENTOU?

Tiago Hermida → Abdicar é a palavra chave do concurseiro. Na verdade, abdiquei de tudo, menos do meu trabalho à época. Abdiquei de vida social e finais de semana. Fiz um cronograma e planejamento de metas e fui extremamente fiel a ele.
 

As pessoas precisam entender que concurso público é uma decisão, não somente uma possibilidade de melhoria de vida ou estabilidade. Ninguém entra em nada pra perder, nem você, nem sei concorrente. Quando você decide por alguma coisa, basta ser fiel a sua própria decisão e fazer o que for preciso para mantê-la.


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Folha Dirigida → COM BASE NA SUA EXPERIÊNCIA COMO EX-CONCURSEIRO E PROFESSOR, QUAIS SÃO AS FALHAS QUE UM CANDIDATO NÃO PODE COMETER AO ESTUDAR PARA UM CONCURSO DO PORTE DA POLÍCIA CIVIL-RJ?

Tiago Hermida → A primeira falha e a mais comum é não cumprir um planejamento e um cronograma de estudos. Estudar sem planejamento pode até dar certo, mas não é a regra e exige muito mais tempo.

A segunda grande falha dos candidatos é se comparar a outros achando que está melhor ou pior preparado que estes. Isso, além de causar um grande prejuízo psicológico, não reflete a realidade.


Folha Dirigida → O CONCURSO PARA A POLÍCIA CIVIL-RJ ESTAVA PREVISTO PARA SER ABERTO NO PRIMEIRO SEMESTRE DESTE ANO, MAS EM VIRTUDE DA PANDEMIA E DO BLOQUEIO DE MAIS DE 900 CARGOS NA CORPORAÇÃO, A SELEÇÃOESTÁ EM COMPASSO DE ESPERA. NA SUA VISÃO, A ABERTURA DESSE CONCURSO É INEVITÁVEL? O MAIOR ERRO QUE UM CANDIDATO PODE COMETER É PARALISAR OS ESTUDOS?

Tiago Hermida → A própria Acadepol informou que o edital já estava pronto, aguardando apenas o término da pandemia para ser lançado, o que desanimou muitos candidatos, principalmente pela falta de previsibilidade. Paralisar os estudos é deixar passar uma oportunidade de ouro. E o retorno ao mesmo ritmo e intensidade anterior é paulatino, por isso, interromper os estudos agora é dar um tiro no pé. Particularmente, acredito em edital no primeiro semestre de 2021 e prova no segundo semestre, mas isso é apenas um palpite.


Folha Dirigida → A SÉRIE CSI, QUE REVELA AS INVESTIGAÇÕES DE UM GRUPO DE CIENTISTAS FORENSES DA POLÍCIA DE LAS VEGAS, ÉUMGRANDESUCESSONO BRASIL E, POR ISSO, DEVE MEXER COM O IMAGINÁRIO DE MUITOS DOS QUE PRETENDEM PARTICIPAR DO CONCURSO PARA PERITO CRIMINAL DA POLÍCIA CIVIL-RJ. HÁ MUITAS SIMILARIDADES NO TRABALHO DOS PERITOS DA SÉRIE COM OS DA POLÍCIA CIVIL-RJ?

Tiago Hermida → O que as séries de TV fazem é trazer ao conhecimento do grande público algumas técnicas que usamos em locais de crime, obviamente sob a ótica romantizada dos filmes e séries.

Isso traz grande visibilidade à área forense e aos peritos criminais, o que é muito bom. Entretanto, não tem muita obrigação com a realidade estrita dos fatos.

Por exemplo, o perito da vida real é responsável pelo levantamento da prova técnica e sua descrição em laudo, diferente dos vistos nas séries, que participam diretamente das investigações, fazem interrogatórios e saem diretamente do laboratório para efetuar prisões em flagrante.
 

Outra diferença gritante é a falta de um banco de perfis genéticos, que no Brasil, inclusive, não há legislação que o permita. Isso, entre outras coisas, impede vermos na vida real aquelas cenas onde se coloca o material genético coletado em um computador e já aparece o rosto do suspeito na tela, algo inimaginável no Brasil hoje em dia.


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Perito criminal da corporação acredita que editais da PCERJ sairão no primeiro semestre
Perito criminal da corporação acredita que editais da PCERJ sairão no primeiro semestre
(Foto: Arquivo pessoal)


Folha Dirigida → FALE UM POUCO SOBRE O DIA A DIA DA CARREIRA. É UMA FUNÇÃO DINÂMICA? QUAIS OS DESAFIOS? O PERITO TRABALHA EM REGIME DE ESCALA OU TODOS OS DIAS?

Tiago Hermida → Os peritos criminais oficiais, via de regra, trabalham de duas formas. Os peritos de local de crime trabalham externamente, analisando o cenário de diversões tipos de crime, coletando vestígios, traçando a dinâmica do evento, quando possível.

Está é uma forma de trabalho bem dinâmica, onde a rotina nunca baterá a sua porta. Este profissional normalmente trabalha em regime de escala 24x72 horas.
 

A outra grande forma de trabalho pericial é feita pelos peritos de laboratório, também chamado de perícia interna. Como o próprio nome sugere, este profissional tem a incumbência de descrever e analisar os vestígios trazidos a ele como, por exemplo, análise de entorpecentes, tratamento de imagens obtidas em câmeras de segurança, extração de dados em aparelhos celulares, verificação de autenticidade de documentos e assinaturas, entre outros.


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Este profissional trabalha em regime de expediente em horário comercial e normalmente é o preferido para os que querem ficar longe dos riscos da rua. Como eu costumo dizer, na perícia criminal há lugar para todo mundo.


Folha Dirigida → O PERITO CRIMINAL É LOTADO NO INSTITUTO MÉDICO LEGAL (IML) E NO INSTITUTO DE CRIMINALÍSTICA CARLOS ÉBOLI (ICCE)?

Tiago Hermida → Na verdade, o perito criminal é lotado no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) e nos chamados PRPTCs, sigla para Posto Regional de Polícia Técnico-Científica, espalhados por todo o Estado.
 

Na estrutura destes que estão inseridos os IMLs. Logo, dentro dos Postos Regionais de Polícia Técnico-Científica, além dos peritos criminais, também são lotados papiloscopistas e peritos legistas. Algumas delegacias especializadas também podem abrigar peritos criminais, como é meu caso. Atualmente, estou lotado na Divisão de Homicídios.


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Folha Dirigida → QUE TIPO DE PERFIL DEVE TER AQUELE QUE ALMEJA SE TORNAR UM PERITO CRIMINAL?

Tiago Hermida → O aspirante a perito criminal deve ser, antes de tudo, um grande curioso, um grande questionador. Além disso, deve ser detalhista e ter olho clínico. Outra característica importante é ter o conhecimento científico como premissa básica, não se atendo a "achismos" ou a concepções pré-concebidas. A prova técnica formulada pelo perito deve ser calcada pela Ciência e esta deve ser seu único guia.


Folha Dirigida → QUAL INVESTIGAÇÃO VOCÊ PARTICIPOU QUE MARCOU SUA CARREIRA NA CORPORAÇÃO?

Tiago Hermida → A vida do perito criminal é cercada de casos marcantes e este deve se doar integralmente a todos os locais, independentemente da repercussão midiática.
 

É importante o candidato saber disso. Mas alguns casos sempre marcam a todos, como o de uma família inteira morta por disputa de herança, Marielle Franco, entre outros. Atualmente, estamos trabalhando no caso Flordelis e do menino João Pedro, morto em uma operação policial na comunidade do Salgueiro.


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Folha Dirigida → A NECESSIDADE DE PERITOS CRIMINAIS NA POLÍCIA CIVIL-RJ É MUITO GRANDE?

Tiago Hermida → Vejo este problema como estrutural, não como conjuntural. Desde sempre ouvimos que a Polícia Civil do Rio de Janeiro tem os quadros defasados, o que prejudica em muito o bom andamento dos trabalhos.

A impunidade se deve não só às leis brandas, mas também à falta de insumos, tecnologias e material humano na investigação desses crimes. Isso se reflete diretamente, lá na frente, em morosidade na investigação e/ou impunidade.


Folha Dirigida → QUAL MENSAGEM PODE DEIXAR PARA AQUELES QUE ESTÃO ESTUDANDO PARAOS CONCURSOS DA POLÍCIA CIVIL-RJ?

Tiago Hermida → Eu costumo dizer aos candidatos que concurso público há muito deixou de ser para os inteligentes. Muitos cérebros privilegiados já ficaram pelo caminho, seja por falta de planejamento, seja por falta de psicológico.
 

Concurso hoje é para os esforçados, ou melhor dizendo, para os disciplinados. Obtém sucesso nas provas, não os "gênios", mas aqueles que acordam senhor no mesmo horário, com ou sem cansaço, e respeitam seu planejamento e rotina de estudos. Tal qual um atleta, não existe um estudante de sucesso que não respeite disciplina, planejamento, metas e comprometimento com o horário de estudos.