Concurso PC SP: delegado conta trajetória e dá dicas de preparação
Conheça a história do delegado Da Cunha, que faz muito sucesso com seus vídeos no Youtube sobre operações da Polícia Civil de São Paulo.
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Publicado em:10/11/2020 às 10:10
Atualizado em:10/11/2020 às 10:10
Com mais de 2 milhões de seguidores nas redes sociais, sendo 860 mil no Youtube, o delegado Da Cunha poderia também ter se tornado famoso por meio do esporte.
Isso porque, após obter várias conquistas nas categorias de base da seleção brasileira de judô, o agente público estava encaminhado para defender a seleção adulta nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996.
No entanto, quis o destino que Da Cunha ingressasse no Exército e lá conhecesse o general Fernando Azevedo e Silva, que atualmente é ministro da Defesa do Brasil.
O ministro, então, o incentivou a fazer faculdade de Direito e, mais tarde, o concurso para a Polícia Civil-SP. Assim, Da Cunha fez da faculdade de Direito o seu curso preparatório.
Durante os seis anos de graduação, o delegado estudava com foco em concursos públicos. Utilizando-se de técnicas de estudo obtidas por meio do livro "Como passar em provas e concursos públicos", do professor e juiz federal William Douglas.
Deste modo, Da Cunha conseguiu a segunda colocação na seleção para delegado da Policia Civil-SP. Segundo Cunha, este é um dos melhores livros de técnicas de estudos que já conheceu.
Na entrevista abaixo, o delegado fala sobre a sua infância pobre, a importância do judô para seus estudos e sua vida profissional, dá dicas para quem quer se tornar um policial civil e conta também um pouco sobre o dia a dia de um delegado.
Confira a seguir:
ATUALMENTE, VOCÊ É DELEGADO DA POLÍCIA CIVIL-SP, RECEBE UM SALÁRIO ATRATIVO, TEM ESTABILIDADE PROFISSIONAL E É UMA CELEBRIDADE NA INTERNET, COM MAIS DE 2 MILHÕES DE INSCRITOS, SENDO MAIS DE 1 MILHÃO NO FACEBOOK E 860 MIL NO YOUTUBE. NO ENTANTO, PARA CHEGAR ONDE CHEGOU, VOCÊ BATALHOU MUITO, POIS VEIO DE UMA FAMÍLIA POBRE. CONTE UM POUCO DA SUA TRAJETÓRIA DE VIDA E COMO A EDUCAÇÃO FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ CHEGAR ONDE ESTÁ?
Delegado Da Cunha - Realmente eu vim de uma família bastante humilde, da cidade de Santos, litoral de São Paulo. O meu pai era um eletricista, minha mãe era dona de casa, e ambos eram semianalfabetos.
Desde sempre, por conta do esporte, eu tive bolsas de estudos em colégios particulares, mas não de altíssimo nível. Eram colégios mais humildes, mas ainda assim isso sempre foi um diferencial para eu conseguir estudar e alcançar os meus objetivos.
O esporte me direcionou e foi fundamental na minha vida, porque ele me deu oportunidade de fazer boas amizades, de viajar para uma série de lugares, de ter disciplina e hierarquia. O meu esporte era o judô, então a junção de esporte e educação foi o que evitou com que eu pudesse seguir um outro caminho, e talvez um caminho nem tão atrativo na vida. Então, a educação foi fundamental e o esporte também muito importante.
VOCÊ FEZ PARTE DA SELEÇÃO BRASILEIRA DE JUDÔ E GANHOU DIVERSOS TÍTULOS. COMO O JUDÔ CONTRIBUIU PARA A SUA FORMAÇÃO?
Delegado Da Cunha - O judô é um esporte que trabalha com disciplina, então ele gera disciplina. Você tem que está focado nos seus treinos, focado na sua dieta. Temos uma pesagem, uma série de fatores que estão diretamente ligados ao resultado, por isso sempre treinava duas vezes por dia.
Além disso, os atributos de caráter, os atributos da área afetiva de um ser humano, que vão formar o caráter e a personalidade, tais como a disciplina, a força de vontade, o espírito de corpo, a superação e o trabalho em equipe, eu os tive passados num primeiro momento no esporte.
O judô é um esporte oriental que demanda uma cultura samurai, de disciplina oriental. Mais tarde, isso foi lapidado nas Forças Armadas.
EM DETERMINADO MOMENTO DA SUA VIDA, VOCÊ ESTAVA MUITO BEM ENCAMINHADO COMO ATLETA PROFISSIONAL E ESTEVECONTADOPARAIRÀS OLIMPÍADASDE ATLANTA. COMO O CONCURSO PÚBLICO E A POLÍCIA CIVIL DE SÃO PAULO SURGIRAM NA SUA VIDA?
Delegado Da Cunha - Bom, o concurso da Polícia Civil de São Paulo surgiu porque eu era atleta de judô. Eu fazia parte da seleção de juniores, e estava caminhando pra tentar uma vaga para Olimpíadas de Atlanta e para a seleção principal.
E quando eu entrei no Exército, eu tive contato com o general Fernando Azevedo e Silva, que atualmente é ministro da Defesa do Brasil. Ele foi meu comandante no segundo Batalhão de Caçadores, em São Vicente (SP).
Ele foi o primeiro a me motivar a fazer faculdade de Direito. Eu era tenente do Exército, tinha saído do judô e fiz o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva na Arma de Infantaria (CPOR).
Como eu já estava vinculado à área da segurança externa, porque o Exército cuida da soberania nacional, automaticamente tive a atenção despertada pela Polícia Civil e pela Polícia Federal.
O primeiro concurso que eu fiz logo depois de formado foi para a Polícia Civil de São Paulo. Eu colei grau em dezembro de 2002 e, no ano seguinte, em setembro de 2003, eu estava passando na primeira fase do concurso de delegado. Mas a motivação para fazer o concurso de delegado veio dos meus chefes, o general Fernando e coronel Sidney, que me orientaram muito e acharam que eu tinha vocação para a carreira.
EM UM VÍDEO NA INTERNET, VOCÊ DIZ QUE O LIVRO ‘COMO PASSAR EM PROVAS E CONCURSOS’, DO WILLIAM DOUGLAS, VIROU SUA BÍBLIA DURANTE A PREPARAÇÃO PARA O CONCURSO DA POLÍCIA CIVIL-SP. COMO O "GURU DOS CONCURSOS" FOI IMPORTANTE PARA VOCÊ CONSEGUIR CONQUISTAR O 2º LUGAR NO CONCURSO DA CORPORAÇÃO?
Delegado Da Cunha - ‘Como passar em provas e concursos públicos’, do professor e juiz federal Willian Douglas, é um livro fantástico e que eu recomendo até hoje. Ele virou minha Bíblia. Inclusive, meu filho atualmente está estudando para prestar vestibular e eu tenho recomendado essa obra para ele.
Trata-se de um livro que explica bastante do funcionamento do nosso cérebro, da parte da memória de curto prazo, memória de longo prazo, técnicas de revisão de matérias, técnicas para resumir matérias e técnicas para fazer provas objetivas e dissertativas. Ou seja, é um livro extremamente completo.
Quando eu decidi estudar, como eu sabia que não ia ter muito tempo, eu optei fazer isso com qualidade. Então, eu parei dez dias, li o livro com muito carinho, aprendi realmente as técnicas e as apliquei. E isso foi no segundo ano de faculdade.
Quando eu concluí o curso, antes de entrar na segunda fase de estudos para o concurso da Polícia Civil-RJ, eu revisei todo o livro, fiz uma segunda leitura. Esse livro é fantástico, não está ultrapassado, é uma obra totalmente atual, que o professor atualiza ano a ano.
É um dos melhores livros de técnicas de estudo que eu já vi na minha vida.
VOCÊ CONQUISTOU SUA CLASSIFICAÇÃO NO CONCURSO DA POLÍCIA CIVIL-SP SEM TER FEITO CURSO PREPARATÓRIO. VOCÊ SE CONSIDERA UM PONTO FORA DA CURVA OU ACHA QUE QUALQUER PESSOA PODE SER APROVADA EM DISPUTADOS CONCURSOS MESMO SEM FAZER UM CURSINHO?
Delegado Da Cunha - Eu não sou uma pessoa muito inteligente, não me considero fora da curva. Eu sou uma pessoa que faço projetos de longo prazo e os cumpro. Então, a partir do momento que eu me predispus a passar num concurso, no segundo ano de faculdade, eu estudei pra ele.
Eu fiz a faculdade direcionado para me tornar delegado de polícia. Eu dava menos atenção para algumas matérias, que eu sabia que não cairiam na prova de delegado, para priorizar aquelas que seriam cobradas no concurso. Então, não existe fora da curva. Para mim, existe trabalho sério. Eu não fiquei esperando me formar para começar a estudar, comecei a fazer isso quatro anos antes do concurso. E eu não estudei de qualquer jeito.
Eu sabia exatamente qual dia era cada matéria, quanto tempo eu teria que revisar os assuntos, em quanto tempo eu tinha que fazer uma prova de múltipla escolha para estar bem treinado.
A cada tantos dias, eu escrevia uma dissertação. Então, eu comecei a estudar muito antes de todo mundo e com muita técnica de estudo. Isso é que é fora da curva. É um projeto bem estruturado, é um projeto executado da forma como ele é desenhado.
QUAL É O CAMINHO DAS PEDRAS PARA SER APROVADO EM CONCURSOS TÃO CONCORRIDOS COMO ESSES? FALE UM POUCO MAIS DA SUA PREPARAÇÃO?
Delegado Da Cunha - Vou contar o meu caminho das pedras. Eu me ative, primeiramente, muito à técnica de estudos, que me ajudou a memorizar as disciplinas, conjugar matérias análogas no mesmo dia de estudo e fazer provas objetivas e dissertativas, por exemplo.
Durante a faculdade, eu estudava uma hora todo dia, e quando terminei a graduação, passei a dedicar seis horas líquidas de estudo, cronometradas.
CONSIDERA INDISPENSÁVEL QUE, EM PARALELO AO ESTUDO TEÓRICO, OS CANDIDATOS SE PREPAREM FISICAMENTE PARA AS PROVAS FÍSICAS?
Delegado Da Cunha - É indispensável. Ainda que não existisse o TAF no concurso, é importante ter um bom condicionamento físico, realizar uma corrida moderada e uma musculação moderada durante o período de estudo. Isso aumenta o desempenho do aluno.
Então, o candidato terá maior oxigenação no cérebro, vai render mais, vai ter mais condicionamento. Eu acordava todos os dias às 6 horas e fazia o meu treinamento até as 7 horas, que envolvia corrida, flexão abdominal e barra. Depois disso, eu ia ler jornais e estudar até as 18 horas.
GOSTARIA QUE O SENHOR FALASSE UM POUCO SOBRE O DIA A DIA DE UM DELEGADO DE POLÍCIA. É UMA CARREIRA DINÂMICA?
Delegado Da Cunha - Eu costumo falar que a carreira de delegado de polícia é extremamente dinâmica. É muito legal, porque nós temos a parte jurídica e a parte operacional.
Então, o delegado consegue operar o Direito durante autuações, prisões em flagrantes, realizando interceptação telefônica, entre outras ações. Aplicamos uma série de procedimentos jurídicos do Código Penal, do Código de Processo Penal e da Legislação Extravagante.
O delegado pode ser piloto de helicóptero, comandar seus homens na rua, na favela, no cumprimento de mandados de prisão e mandados de busca. Então, a carreira é extremamente completa, extremamente agradável e satisfatória. Só brigamos bastante por salário, mas aos poucos a gente chega lá.
QUE TIPO DE PERFIL DEVE TER AQUELE QUE ALMEJA SE TORNAR UM POLICIAL CIVIL, EM ESPECIAL UM DELEGADO?
Delegado Da Cunha - Eu acho que a carreira de delegado de polícia não é definida por um perfil específico. Mas penso que a pessoa tem que ter vocação para portar arma, para atirar, gostar de condicionamento físico e tem que ser destemida para combater o crime de uma forma geral. Mas um perfil específico eu entendo que não exista.
QUAIS AS INVESTIGAÇÕES MAIS MARCARAM DA SUA CARREIRA NA POLÍCIA CIVIL-SP?
Delegado Da Cunha - Bom, ao longo da minha carreira tive várias investigações marcantes. Inclusive, no meu canal no Youtube, eu falo de várias delas. Mas eu destaco a operação 'Sintonia 1', que foi uma operação contra o PCC no município de São Bernardo.
Teve também a operação 'Não Pare na Pista', contra uma grande quadrilha de ladrões de caminhão, e a 'Prisão do Jagunço', que foi um membro do tribunal do crime do PCC. O 'Sequestro do Batateiro' também é um outro caso muito interessante. Todos estão reportados no meu canal no YouTube.
COMO SURGIU A IDEIA DE CRIAR UM CANAL NO YOUTUBE MOSTRANDO AÇÕES POLICIAIS E O DIA A DIA DE UM PROFISSIONAL DA ÁREA DE SEGURANÇA PÚBLICA?
Delegado Da Cunha - Bom, em relação ao YouTube, a ideia era começar a divulgar o trabalho da Polícia Civil nas redes sociais, no Instagram e no Facebook. No entanto, o YouTube nos possibilita passar mais informações.
A ideia é que as pessoas consigam enxergar o trabalho da Polícia Civil por dentro, analisando e enxergando as entranhas, o que acontece nos bastidores. É uma forma de mostrar a importância da polícia judiciária, da polícia investigativa para o sistema jurídico penal.
Na minha humilde opinião, sem o trabalho de investigação fica muito difícil de diminuir índices de criminalidade e de fazer cumprir a lei. Então, a repressão feita pela Polícia Civil é fundamental.
QUAL MENSAGEM DEIXAR PARA TODOS QUE, NO MOMENTO, PASSAM POR DIFICULDADES FINANCEIRAS OU DE ALGUMA OUTRA ORDEM, MAS ESTÃO SE ESFORÇANDO NOS ESTUDOS E SONHAM EM INGRESSAR NA ÁREA DE SEGURANÇA?
Delegado Da Cunha - A mensagem que eu passo é a seguinte: só não passa em um concurso aquele que desiste. Então, existem pessoas que passam em um ano, outras em dois e outras podem demorar dez anos. No entanto, todo aquele que não desistir vai realizar o seu sonho.