Eleições 2020: Benedita da Silva defende política de concursos

Confira as propostas de Benedita da Silva, candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo Partido do Trabalhadores (PT), nas Eleições 2020.

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Publicado em:14/10/2020 às 09:00
Atualizado em:14/10/2020 às 09:00

A candidata à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PT, Benedita da Silva, concedeu uma entrevista exclusiva exclusiva à Folha Dirigida. Dentre os principais assuntos abordados estão a valorização do servidor público e propostas para concursos das áreas de Segurança, Educação, Fiscal e Saúde. 

Benedita também falou sobre empregabilidade no município carioca. Confira na íntegra! 

Folha Dirigida: Porque a senhora quer ser prefeita da cidade do Rio de Janeiro. Quais são os seus diferenciais em relação aos demais candidatos?
 
Benedita da Silva: Aos 78 anos, eu poderia ficar em casa com meus netos e bisnetos, mas decidi colocar minha experiência de vida a serviço do povo, a quem devo tudo que conquistei. Nasci na favela, com muito orgulho, e por isso conheço os problemas da parcela da população que mais precisa da prefeitura. 

Eu nunca esqueci de onde eu vim, nem deixei de lutar pela favela, pelo meu povo. Eu venci as dificuldades da vida, fui a primeira vereadora negra do Rio, a única deputada negra da Constituinte, a primeira negra senadora, a primeira governadora negra do Brasil, ministra do governo Lula. A ONU me colocou como uma das 10 maiores lideranças negras do mundo.

Não é pela minha origem humilde que eu acho que mereço o voto da população, mas porque, além de conhecer a vida real das pessoas, eu tenho experiência de gestão.  Essas duas coisas juntas me dão mais capacidade para ajudar o povo o Rio nesse momento de tantos retrocessos nas políticas e serviços públicos, de tantos governantes que não se esforçam para encontrar soluções criativas e participativas para melhorar a vida dos cariocas. 

Eu sou evangélica com muito orgulho. Não misturo religião com política, mas Deus me ajudou muito e me permitiu vencer. Infelizmente a maioria das mulheres e dos jovens das comunidades não têm a mesma sorte que eu tive. Falta apoio para que as pessoas possam ter uma vida digna.

É para isso que eu quero ser a prefeita do Rio, é isso que me diferencia dos outras candidatos: o fato de conhecer profundamente os problemas do dia a dia da maioria dos cariocas e o fato de ter experiência de política e de gestão.

Folha Dirigida: Manter uma relação de harmonia com os governos federal e estadual é de suma importância para os municípios, sobretudo para captar investimentos para a cidade. Caso eleita, como pretende relacionar-se com o governador em exercício, Cláudio Castro, e o presidente Jair Bolsonaro?
 
Benedita da Silva: Eu tenho 40 anos de vida pública, a maioria deles no Congresso Nacional, onde a gente só sobrevive se souber dialogar, conversar, fazer alianças estratégicas para aprovar os projetos de interesse do povo. Vou dialogar com o governador e o presidente, como deve ser feito e como estabelece o sistema federativo, e captar todos os investimentos que eu puder para a cidade. 

Nosso povo precisa muito de investimentos na saúde, na educação, no saneamento, na construção de moradias e também para o principal projeto de desenvolvimento do meu programa, que é a revitalização da Avenida Brasil, reconhecendo os bairros por onde ela passa como o coração do Rio de Janeiro, gerando empregos e qualidade de vida para a maioria dos cariocas.
 
Folha Dirigida: A pandemia fez com que milhares de brasileiros perdessem o trabalho, e os trabalhadores do Rio de Janeiro foram um dos mais afetados em todo o país. Caso eleita, quais ações pretende desenvolver para gerar renda para a população e contribuir para a criação de novos postos de trabalho na cidade do Rio de Janeiro?
 
Benedita da Silva: Vivemos um período muito difícil com a pandemia, e temos um plano emergencial para reduzir o sofrimento dos que perderam empregos. Há famílias inteiras morando nas ruas, e a prefeitura não faz nada. Vamos dar um complemento de renda de 100 reais para 250 mil famílias, que ajudam a alimentação de 1 milhão de pessoas.

Nossa prioridade é criar empregos nas áreas mais pobres da cidade. Meu olhar está nas favelas, nas comunidades, na população que mais sofre com a falta de oportunidades de ser alguém na vida. Vamos criar pelo menos 100 mil empregos formais, no curto prazo. Faremos mutirões remunerados para melhoria das casas e pequenas obras nas comunidades.

Vamos contar com a ajuda da Comlurb para resgatar a função dos garis comunitários e estabelecer contratos com as cooperativas de catadores para ampliar a reciclagem na cidade. Vamos abrir mutirões de obras de melhorias nas comunidades. E vamos lançar um programa muito forte para criar empregos ao longo da Avenida Brasil, sobretudo nas indústrias da saúde, de óleo e gás e nas empresas de logística, aproveitando a revitalização que vamos fazer para aproveitar os investimentos no BRT. 
 
Folha Dirigida: Como recuperar o Turismo no Rio, um dos setores que mais gera emprego e que está sendo extremamente afetado pela pandemia?
 
Benedita da Silva: Cada vez mais os turistas do mundo inteiro procuram cidades bem cuidadas, que tratam bem o seu povo. É isso que o Rio precisa: saúde, educação, segurança. Precisa cuidar bem do carioca, para que ele possa produzir cada vez mais música, dança, festas populares, cultura. Essa é a nossa força, a nossa beleza, a riqueza que atrai gente do mundo todo. 

O Rio é a porta de entrada de milhões de turistas no Brasil. Mas o descaso e a falta de planejamento têm feito a cidade desperdiçar seu potencial. A pandemia piorou o
que já estava crítico, reduzindo o turismo internacional não só aqui, mas em todos os países. Nossa atenção deve se voltar para o potencial do turismo nacional,
doméstico, como fazem as cidades mais turísticas do mundo. 

Para os brasileiros, o Rio é sinônimo de história, de cultura. Nós precisamos encher a cidade de paulistas, mineiros, nordestinos, sulistas, brasileiros de todos os
lugares. Temos muito para mostrar a essas pessoas o ano inteiro, e não só no Carnaval e no Ano Novo. Vamos criar um calendário de eventos para promover atividades culturais, esportivas e de entretenimento o ano todo.

Vamos criar a Marca Rio, com licenciamento de produtos e serviços para gerar recursos para a promoção do Rio, um ciclo virtuoso. Para criar empregos qualificados no setor, teremos um programa contínuo de formação profissional em parceria com o Senac. O foco da ação serão as comunidades. Com isso vamos disponibilizar para o mercado turístico um novo contingente de jovens profissionais. Também vamos apoiar parcerias entre empresas e agências de turismo com o Sebrae, o que irá aprimorar a qualidade dos serviços prestados. 
 
Folha Dirigida: Os jovens, sobretudo de menor escolaridade e baixa renda, costumam ser os mais afetados quando se fala em boas oportunidades de emprego. O que a senhora acredita que deve ser feito para alterar essa realidade? No seu plano de governo, há projetos voltados para ampliar a empregabilidade entre os jovens e, ainda, permitir que ele se desenvolva profissionalmente?
 
Benedita da Silva: A grande maioria dos jovens e das famílias do Rio de Janeiro tem um sonho. É um sonho que até já chegou a ser realidade, mas o preconceito contra os pobres interrompeu essa realização. São os Cieps. Na verdade, é o ideal da escola de turno integral. Nós vamos resgatar essa proposta, e começar pelo grande choque de desenvolvimento nos bairros cortados pela Avenida Brasil, onde mora a maioria da população, nas Zonas Norte e Oeste. 

Entre 2012 e 2018, no estado do Rio de Janeiro, o número de adolescentes sem emprego cresceu tanto que chegou a 60%. São 20 pontos percentuais acima da média nacional. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o desemprego atingiu 32,2% em 2018. E 80% desses jovens não tiveram acesso ao ensino superior. A evasão escolar é grande, muito em função das dificuldades econômicas. 

Eu vou investir na qualificação dos jovens. Isso sempre fez a diferença, mas agora, com tantos avanços tecnológicos, faz mais ainda. Temos uma proposta para transformação da cidade do Rio de Janeiro numa sociedade do conhecimento e inclusão digital. A cidade e o estado possuem uma infraestrutura de grande potencial, muitas instituições de ensino, pesquisa e fomento à inovação. 

Vamos dialogar com essas instituições, com o Sistema S, com todo mundo que puder colaborar nesse esforço pelo futuro do Rio. Vou fazer uma campanha para a contratação de jovens aprendizes. É preciso também tornar a escola um lugar mais atraente, com espaços que estimulem a criatividade, a inovação e o empreendedorismo desses jovens. 

Nossa preocupação maior, que deveria ter sido a de todos os prefeitos, precisa ser com o fortalecimento do ensino em lugares com baixo IDH e altos índices de violência. É preciso desestimular a presença dos jovens em ações do crime e de violência. A escola é o melhor lugar para fazer isso, e quem não enxerga o óbvio fica
falando para o vazio quando critica a violência. 

A ajuda à produção cultural, com espaços de cultura, também é muito importante para disputar as atenções desses jovens, capacitá-los para a indústria criativa e para o turismo. O acesso ao esporte é outra ação fundamental para ocupar as mentes e inspirar os sonhos e os planos dos jovens. Eles precisam circular nesses espaços de ensino e cultura. 

É importante melhorar a mobilidade, avançar na implementação do passe Livre para jovens no transporte público. É fundamental, também, garantir acesso à banda larga nas periferias e áreas de baixa renda, por meio de internet popular ou a áreas de wifi aberta para a população. Isso aumenta a empregabilidade dos jovens que mais precisam.
 
Folha Dirigida: Quais ações a senhora pretende desenvolver para valorizar os servidores públicos da cidade do Rio de Janeiro? No seu governo, eles terão um papel de
protagonista?
 
Benedita da Silva: É claro que sim. O servidor público é o principal recurso que temos, ele será o protagonista das mudança que pretendemos na gestão pública. Nós vamos cortar cargos comissionados desnecessários e valorizar muito, como nunca antes, os profissionais do serviço público. Faremos uma política de capacitação permanente e aperfeiçoamento dos planos de carreira e remunerações. 

Temos equipes maravilhosas na Prefeitura, profissionais de alta qualidade técnica, que entra prefeito, sai prefeito, são ignoradas ou diminuídas por pessoas que chegam pelas mãos dos políticos, sem saber de nada, e querem reinventar a roda. 

A outra onda que nós tivemos nesse passado mais recente foi a da privatização dos serviços públicos. Eu sou totalmente contra isso. É como se a Prefeitura confessasse sua incompetência e passasse os cuidados com a população para as mãos das OSs. Isso é fonte de corrupção e, muitas vezes, de uma injustiça enorme com os trabalhadores. Veja o caso da Saúde. Vários profissionais sem receber salário, porque a Prefeitura lava as mãos, passa a tarefa de gestão para a OS e depois não repassa os recursos. Isso é uma irresponsabilidade da atual prefeitura.

Vamos contratar o pessoal da saúde gradativamente através da empresa pública Rio Saúde. A gente precisa honrar o cargo que ocupa. Não pode chegar lá e recusar a responsabilidade que você sabia que ia assumir. 
 
Folha Dirigida: É certo que a pandemia que atinge o mundo afetará a economia do país, com a queda de arrecadação. É possível, no atual momento, já traçar um cenário para o Rio de Janeiro, pós-pandemia, sabendo que o município do Rio se encontra em um momento de dificuldades, operando há dois anos acima do limite imposto pela Lei de Responsabilidade Fiscal?
 
Benedita da Silva: Não é muito fácil fazer essas contas porque temos uma das prefeituras menos transparentes do país. Tudo é um mistério, até a fila dos hospitais, ninguém sabe quando vai ser atendido, quais são os critérios, nada. Imagina nas finanças! Mas nós temos informações de que é possível cortar muitos cargos comissionados. Tem muita gente contratada sem necessidade. 

O símbolo disso são esses tais “Guardiões do Crivella”. Que loucura é essa? Pegar dinheiro do povo pra pagar gente para impedir jornalista de cobrar o direito do povo a um serviço de qualidade? Só o Crivella mesmo poderia pensar numa coisa absurda dessas. É lamentável. 
 
Diante dessa quantidade de denúncias, de serviços mal prestados em todas as áreas, principalmente na Saúde e no Transporte, é inevitável que o próximo prefeito faça uma análise rigorosa dos contratos para reduzir pagamentos. Isso inclui os contratos da dívida. Nós passamos por uma pandemia. Vários estados, prefeituras e empresas privadas estão renegociando contratos. Por que uma prefeitura com tantos problemas e tanta responsabilidade não faz isso? A paralisia desse prefeito é um troço que não dá para entender. E quem sofre é o povo, que precisava de ter um líder mais atuante, firme, criativo, trabalhador.

Outra fonte segura de recursos é o combate à sonegação, que os últimos prefeitos homens não souberam fazer. Vai ser preciso uma mulher prefeita para convencer os
sonegadores de que o crime não compensa. Não vou deixar que os ricos soneguem e os pobres paguem impostos no lugar deles. Isso é muito indecente. 
 
Folha Dirigida: O que precisa ser feito para que o Rio de Janeiro possa superar as atuais dificuldades econômicas, de forma que possa aumentar sua arrecadação, reduzir despesas e assim sair do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal?
 
Benedita da Silva: Nós não vamos aumentar o IPTU, este é um princípio, e vamos combater a sonegação, sobretudo dos grandes devedores. Mas vamos, repito, cortar cargos comissionados, renegociar contratos, buscar muitas parcerias e verbas. Tem muito dinheiro por aí no mundo procurando bons projetos. Nós somos bons em projetos, temos muito diálogo com centros universitários de excelência, e a própria prefeitura, como eu já disse, tem um corpo técnico muito capacitado para isso. O que falta é um prefeito que saiba aproveitar esse potencial. No caso, uma prefeita.

A iniciativa privada é super bem vinda. Em todo o mundo, tem dinheiro privado buscando lugares seguros para investir. O Rio precisa ser mais seguro, e isso quer
dizer ser uma cidade que trata melhor o seu povo, que cuida bem de si mesma. Nós vamos fazer isso. Tenho certeza que todo mundo vai querer investir nas oportunidades que eu vou abrir na Avenida Brasil, com esse choque de revitalização e de estímulo à construção civil, ao comércio, à educação, à tecnologia, ao esporte e à cultura.

Eu vou apoiar investimentos nos parques tecnológicos da Fiocruz e da UFRJ, e nas parcerias para concluir o BRT. Vou apoiar a reforma de prédios para abertura de
negócios e moradias populares. Principalmente perto das estações do BRT e da Linha 2 do metrô, para aproveitar a mobilidade.

Nosso projetos do Banco de Apoio ao Empreendedorismo Carioca e a Moeda Carioca vão ser muito importantes para dar apoio a quem quer começar ou recomeçar seu negócio. O Rio vai voltar a sorrir, e todo mundo sabe que o sorriso atrai as pessoas e espanta os males. A tristeza, como estamos hoje, não atrai investimentos. O Rio precisa voltar a sorrir, isso é uma questão de sobrevivência.

 

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Folha Dirigida: Há uma década não é feito concurso para fiscal de rendas da Prefeitura do Rio. Sabe-se que há apenas 202 fiscais na ativa, quando a lei estabelece 400. Pior: 30% do atual quantitativo está para se aposentar. Na sua visão, contratar fiscais é um investimento e não uma despesa para os governos? Se for eleita vai abrir concurso público para fiscais? Sua meta é fazer isso ainda no seu primeiro ano de mandato?
 
Benedita da Silva: A Receita Arrecadada pela Prefeitura está em queda desde 2017.  A Arrecadação média da prefeitura caiu de 31 bilhões para 28 bilhões. A dívida subiu no governo do Paes, mesmo recebendo muito investimento do governo Lula, e o Crivella não fez nada para recuperar as finanças. A política neoliberal dos governos Temer e Bolsonaro exigiu uma austeridade fiscal que reduziu as transferências federais e agravou a paralisia da economia depois do golpe que tirou a presidenta Dilma do governo, em 2016.
 
A questão da ausência de concursos de fiscais de renda da Prefeitura é mais um exemplo do desmonte sistemático da máquina pública. Teremos que reorganizar a Secretaria Municipal da Fazenda para enfrentar os problemas que a gestão Crivella não enfrentou. A prefeitura tem feito muito pouco para cobrar dívidas milionárias de grandes devedores como o Jóquei Club do Brasil, a Unimed, AIS, Infraero, entre outros.

Precisamos conhecer e melhorar os atuais processos arrecadatórios, identificando o papel dos fiscais de rendas. Vamos estudar a possibilidade de realizar novos concursos para esse cargo em função das necessidades levantadas e das estratégias que precisarão ser adotadas para dar maior eficiência às ações e ampliar a arrecadação.   
 
Folha Dirigida: Quais os principais projetos que pretende implementar na área de Educação? 

Benedita da Silva: É importantíssimo aumentar as vagas nas creches e pré-escolas. Nossa meta é a universalização da educação infantil. Isso é importante não só para a criança, para reduzir a diferença das oportunidades entre crianças pobres e ricas no aprendizado, mas por muitas outras questões. Aumenta a empregabilidade da mulher, e isso tem reflexos até no combate ao machismo e à violência doméstica. Um dos motivos da dependência econômica da mulher é a falta de creches. Tem reflexo direto no empreendedorismo, inclusive. 
 
Vamos dar total atenção ao plano de retomada das aulas pós-pandemia, definindo e seguindo todos os parâmetros para um retorno seguro para alunos, servidores e suas famílias. Esse tempo todo sem aula é muito prejudicial ao aprendizado, principalmente para as pessoas mais pobres, que mais precisam do nosso apoio para subir na vida. Mas a vida em si é o bem mais valioso que nós temos, e não podemos ficar indiferentes ao sofrimento das famílias com as mortes provocadas pelo vírus. Já passamos de 10 mil mortos no Rio, e isso é uma grande tragédia. 
 
Nós temos a maior rede pública de ensino municipal da América Latina, com mais de 600 mil alunos e de 1.500 escolas. Mas é preciso melhorar a qualidade da educação e torná-la mais acessível e atraente. Só 14% das nossas escolas têm laboratório de Ciências, metade não tem quadras esportivas. Faltam computadores e, principalmente, banda larga para todos os professores e estudantes. 

O desempenho dos estudantes do Rio nos testes como a Prova Brasil precisa melhorar muito. A quantidade de alunos com aprendizagem insuficiente é muito grande. Como é que pode a sociedade não perder o sono com isso? E tem coisa ainda pior. Metade das escolas não tem acessibilidade para alunos com deficiência. 

Eu vou fazer uma conferência sobre o Plano Municipal de Educação para organizar o orçamento em relação às demandas pedagógicas da população. Vamos melhorar a estrutura de laboratórios, quadras poliesportivas, tecnologia, Wi-Fi.  
 
Folha Dirigida: Pretende imprimir uma política de concursos públicos periódicos para a área de Educação, tanto para o magistério como para carreiras da área de apoio, tais como agente educador e secretário escolar?
 
Benedita da Silva: Certamente faremos concursos para aumentar o corpo docente e vamos valorizar os 54 mil servidores da educação no município. Nosso objetivo é recuperar a autoestima e o protagonismo dos professores e funcionários, que são os responsáveis pela formação e educação das nossas crianças e adolescentes.
 
Temos certeza de que nossa gestão vai tirar o Rio desse buraco, vai aumentar os investimentos na cidade, e, com isso, aumentar a arrecadação. O dinheiro público
precisa ser para isso: prestar um bom serviço à população, principalmente para a população que mais precisa. Não se faz isso sem servidores qualificados, sem
concursos públicos para escolher as pessoas mais capacitadas para atender a sociedade. 
 
O magistério não funciona sozinho. Ele precisa de agentes educadores, de pessoal de apoio comprometido com as diretrizes do ensino de qualidade que a minha prefeitura vai deixar bem claras. Nós vamos conseguir mudar o quadro atual do ensino no Rio, e para mudar nós precisamos de gente trabalhando com tranquilidade, sabendo que, com dedicação, terá a segurança de um bom emprego para cuidar de si e da sua família. 

Folha Dirigida: Para agente de preparo de alimentos da Comlurb, não é feito concurso desde 2011, já para merendeira da SME, há quase duas décadas. Considera fundamental abrir concursos para essas duas carreiras?
 
Benedita da Silva: Há pouquíssimos dados disponíveis em relação ao número de servidores, alocação, estrutura das carreiras. Merendeiras, Agentes de Apoio à Educação Especial, Agentes de Educação Infantil, Agentes Educadores, Docentes. São muitos os profissionais da rede municipal de ensino. 

A Comlurb também tem suas características e vai precisar ter seus quadros ampliados. Precisaremos dar mais transparência, analisar essas informações, consultar servidores e a população para definir uma política de concursos públicos, não só para a área de Educação ou para a Comurb, mas para toda a prefeitura. 

Vamos avaliar a estrutura remuneratória das carreiras e estudar a possibilidade de realizar novos concursos e prover os cargos com pessoal qualificado. Teremos que definir prioridades e estabelecer cronogramas para atender as necessidades e legítimas reivindicações da população. A educação, a saúde, a assistência social estão no topo da nossa lista.
 
Folha Dirigida: Ainda em relação à Comlurb, desde 2014 não se abre concurso para gari. E o pior é que entre 3 e 4 mil garis já reúnem condições de se aposentar. Esse é um dos concursos que ganharão prioridade em sua gestão?
 
Benedita da Silva: Vou promover a mudança do perfil da Comlurb para uma empresa de sustentabilidade pública que cuida do lixo e do meio ambiente. Será um importante instrumento para implementar a política sanitária na fase de transição pós-pandemia.  

Essa nova Comlurb vai precisar de profissionais de diversas áreas e ampliar o número de garis. Vamos retomar o programa Gari Comunitário. Quero ver a Comlurb subindo o morro, entrando nas comunidades, coletando e tratando o lixo para reduzir o impacto dos resíduos na vida dos moradores. 

Eu vou ampliar a coleta e melhorar a reciclagem e o destino do lixo em toda a cidade. Vou cumprir a lei 11445/2007 e contratar cooperativas de catadores para a coleta seletiva, oferecendo equipamentos e capacitação. A Comlurb vai ajudar o pessoal da favela a produzir artesanato de forma cooperativa com material reciclado de maior valor e maior retorno nas vendas.

Na área ambiental, queremos a Comlurb trabalhando para conservar e ampliar as áreas verdes da cidade, conduzindo um amplo programa de arborização urbana e educação ambiental.
 
Folha Dirigida: Quais são seus projetos para a Guarda Municipal do Rio de Janeiro? Ampliar o efetivo, por meio de abertura de concurso, é um dos seus objetivos, sobretudo por que a corporação tem um elevado número de servidores com idade para se aposentar?
 
Benedita da Silva: Temos de estar atentos a tudo isso. O servidor público não fica para sempre, é preciso ter uma dinâmica de renovação permanente, pois a prefeitura não pode ameaçar a cidade com um apagão de serviços públicos como a Guarda. A Guarda é uma instituição muito estratégica, pois tem muitas responsabilidades na
conscientização da população contra o desrespeito aos cidadãos. 

A formação da Guarda precisa assimilar as novas diretrizes de um mundo que precisa promover a cidadania, combater o racismo, o preconceito contra os pobres. O papel da Guarda não é bater em camelô desempregado que está na rua ganhando o sustento da sua família. É proteger a população, não ameaçar e bater. 

Folha Dirigida: Na área de Saúde, sai governo e entra governo, e a população do Rio continua a sofrer com um atendimento deficitário, ocasionado sobretudo pelo déficit de pessoal, falta de estrutura nos hospitais. Pretende desenvolver uma política de concursos periódicos para a Secretaria Municipal de Saúde e para a RioSaúde?
 
Benedita da Silva: Sim. Vamos, gradualmente, transferir as atividades hoje feitas pelas OSs para a Rio Saúde, uma empresa municipal na qual a forma de entrada é o concurso público. Vamos fazer isso gradualmente porque o nosso objetivo não é produzir desemprego nas OS, mas valorizar o serviço público de saúde. Essa mistura bagunçada de público com privado acabou levando a injustiças muito maiores do que as que eventualmente existiriam no serviço público. 

A empresa privada trabalha com a lógica do lucro, e a ideia de lucrar com a Saúde alimenta escândalos de corrupção que nós vimos, inclusive em plena pandemia, quando as pessoas estão desesperadas por atendimento que precisa de recursos, precisa de planejamento, austeridade, honestidade. É o que a Prefeitura fará se eu vencer as eleições.  

Folha Dirigida: Ao longo dos últimos anos, a gestão dos hospitais por meio de OSs tem se mostrado deficiente (atrasos em contratos, atraso no pagamento de salários dos funcionários, hospitais sem insumos básicos e etc), sem falar em foco de corrupção. Se eleita vai abandonar de vez as OSs? Qual será o papel da RioSaúde em seu
governo?
 
Benedita da Silva: O papel da Rio Saúde será recuperar para o poder público a obrigação do poder público de administrar o sistema de saúde público. Essa transferência de responsabilidade, que começou na prefeitura de Eduardo Paes, provocou um forte desequilíbrio no sistema, além de escândalos de desvios de dinheiro e um descuido muito grande com os profissionais de saúde. O prefeito Crivella poderia ter corrigido o rumo disso, mas a não o fez. Então, eu farei.

Pela minha história, pelo compromisso que tenho com o serviço público de saúde, eu não poderia assumir outro compromisso que não fosse dar à RioSaúde este controle sobre o sistema. Vamos fazer isso de forma gradual, mas não lenta. 
 
Folha Dirigida: A PreviRio vem sendo esquecida pelos governos. Há quase duas décadas (desde 2002), a instituição não abre concurso e, atualmente, segundo os
conselheiros do órgão, depende de servidores cedidos para funcionar. Reoxigenar o quadro de pessoal da PreviRio, por meio de concurso, está nos seus planos? Como
enxerga o fato de um órgão tão importante para a prefeitura estar sofrendo esse esvaziamento de seu quadro de pessoal?
  
Benedita da Silva: A PreviRio é uma instituição importante para os servidores públicos municipais e para a cidade do Rio de Janeiro. É um fundo de pensão que tem a missão de garantir aposentadoria digna para os servidores públicos a partir da contribuição dos servidores e do seu empregador, a prefeitura. Nessa estratégia de desmonte do serviço público, a PreviRio vem sendo atacada sistematicamente com contratos que levam servidoras e servidoras a incertezas sobre suas vidas futuramente.

Além de garantir aposentadorias, a PreviRio precisa ser valorizada como um importante ativo que pode viabilizar investimentos na cidade do Rio de Janeiro. Investimentos, é claro, com alto grau de segurança, de baixo risco, mas investimentos que podem ajudar na retomada do crescimento da cidade, na revitalização áreas degradadas, na atração de investimentos e indústrias. 

A PreviRIo pode ter esse papel e não tenho dúvida que é importantíssimo a renovação dos seus quadros até para ter capacidade de investir os recursos que a prefeitura deveria estar aportando.
 
Folha Dirigida: Há muito tempo a Prefeitura do Rio de Janeiro não abre concursos para fiscal de obras, fiscal de posturas e agente da defesa civil. Na sua visão, essas são carreiras que precisam ser contratados novos servidores públicos por meio de concursos?
 
Benedita da Silva: Creio que sim. Nós não temos ainda os detalhes de como está funcionando essa fiscalização de obras, precisamos chegar lá para quantificar e verificar também como está sendo feita a gestão desse sistema de fiscalização. É um trabalho muito importante, porque, sem ele, o descontrole da cidade acaba provocando problemas graves de ocupação irregular, de construções ilegais. 

Não estou falando as pessoas que constroem um abrigo porque não têm onde morar, mas de grupos e empresas ilegais que constroem de qualquer jeito, sem autorização e sem respeitar as regras urbanísticas, de saneamento, de nada. Isso acontece muito hoje na região da Barra, de Jacarepaguá e de toda a Zona Oeste. 

Folha Dirigida: Em quais outras áreas a senhora considera indispensável a abertura de concursos, a curto ou médio prazos, para a Prefeitura do Rio de Janeiro?

Benedita da Silva: Vamos avaliar a estrutura remuneratória das carreiras e estudar a possibilidade de realizar novos concursos e prover os cargos com pessoal qualificado.
 
Entendo que um dos maiores ativos para uma boa gestão é o investimento no servidor público. A Prefeitura do Rio de Janeiro possui um quadro de servidores municipais de alta qualidade técnica, muitos dos quais possuem nível superior e anos de experiência na sua área de atuação. É preciso valorizar pessoal, explorando potencialidades, implementando uma política permanente de capacitações, revisando a estrutura das carreiras e estudando a possibilidade de realizar novos concursos, especialmente para as carreiras vinculadas à formulação, implementação, execução e avaliação de políticas de caráter social.
 
A Prefeitura possui um potencial imenso nos seus recursos humanos e vamos estudar as melhores estratégias para ampliar e adequar o quadro de servidores. Teremos que estabelecer cronogramas de concursos em função das urgências e das nossas prioridades e compromissos de gestão.  
 
Para realizar de novos concursos teremos que tomar pé da real situação da prefeitura e agir com responsabilidade. Sabemos que não vai ser fácil. Em 2019, na
gestão Crivella, a despesa consolidada com pessoal foi de 54,32% da Receita Corrente Líquida, ultrapassando, portanto, os limites previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A partir de 2021, será obrigatório a inclusão das despesas com contratação de pessoal das OSs no limite da LRF. Assim que assumirmos a prefeitura, vamos colocar em prática nosso plano emergencial com geração de empregos, de atração de investimentos para economia girar e ampliar a arrecadação.
 
Folha Dirigida: Em campanha eleitoral, os políticos candidatos a chefe do Poder Executivo fazem mil e uma promessas. No entanto, ao tomarem posse, via de regra alegam que o cenário econômico financeiro era muito pior do que se imaginava e que, em virtude disso, muitas de suas promessas de campanha e ações de investimento não poderão ser realizadas a curto e/ou médio espaço de tempo. Qual garantia a senhora pode dar que não usará desse expediente caso seja eleita?
 
Benedita da Silva: O que a gente pode dar de garantia é a nossa história, o nosso compromisso com aquilo que a gente se propõe a fazer. Eu fui vereadora, deputada, senadora, governadora e ministra. É muito difícil chegar aonde eu cheguei sem ter tido uma condenação, e com a consciência muito tranquila de quem sempre se esforçou ao máximo para não desonrar o compromisso com os eleitores. 

Eu tenho uma missão a cumprir. Quero encerrar minha carreira ajudando o Rio de Janeiro a superar a imensa desigualdade que produz perseguição, racismo, preconceito, miséria e violência. Eu sei que posso fazer isso. Eu também sei que a Prefeitura do Rio tem excelentes quadros, que precisam ser valorizados para que a administração fique mais eficiente e menos politiqueira. 

Vamos também ter o apoio de muitos centros de excelência. Há uma quantidade enorme de profissionais, especialistas, estudiosos e instituições de excelências que já se dispuseram a ajudar nesse esforço histórico de mudar os rumos do Rio de Janeiro. Nosso projeto de revitalização da Avenida Brasil, transformando-a no novo polo carioca de desenvolvimento e geração de emprego e renda, tem entusiasmado muitos urbanistas, economistas e gente que gosta de pensar a cidade como um espaço de felicidade, de integração e de paz.

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