Estudar no exterior impulsiona carreira e facilita conquista de emprego

Para Gilberto Silva, do Instituto Piaget, experiência internacional agrega valor no currículo

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Publicado em:04/06/2020 às 07:00
Atualizado em:04/06/2020 às 07:00

Estudar no exterior é o sonho de muitos jovens e recém-formados. Além de ter acesso a cursos de alta qualidade e de conhecer novas culturas, essa experiência trará um grande peso no currículo do profissional quando ele voltar ao Brasil, conforme explica Gilberto Silva, que é representante do Instituto Piaget no Brasil e consultor educacional da Tecfy Sistemas.

Segundo ele, estudar no exterior impulsiona a carreira de qualquer profissional e facilita a conquista de um emprego com salários mais atrativos. “Em condições normais, a experiência internacional agrega muito valor para o profissional e é, sim, um elemento que contribui para qualificá-lo para empregos de mais remuneração”, disse Gilberto Silva.

Mas quais os passos devem ser tomados por aqueles que querem estudar no exterior? Quais falhas não podem ser cometidas? É possível conseguir bolsas de estudo? Todas essas respostas podem ser conferidas na entrevista abaixo com Gilberto Silva, que já teve chance de participar de um programa de curta duração em Stanford e fazer um doutorado em Portugal.

Segundo ele, essas experiências foram extremamente importantes em sua vida:

“Definitivamente você volta transformado e querendo transformar o mundo a sua volta, além, é claro, da valorização profissional que a experiência traz".

FOLHA DIRIGIDA - Quais as vantagens de estudar no exterior?
Gilberto Silva - São diversas vantagens, mas vou destacar as mais conhecidas: impulsionamento da carreira no Brasil – uma experiência no exterior tem grande peso no currículo de um profissional e geração de oportunidades de trabalho no exterior; possibilidade de dominar outro idioma; oportunidade de conhecer novos modos de vida e outras culturas; chance de descobrir ou desenvolver novos interesses e a possibilidade de viver uma experiência única e diferenciada e de fazer muitos contatos.

Um network internacional também tem grande valor profissional.

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Quais são os principais passos que um estudante deve tomar caso decida por estudar no exterior, seja para fazer uma faculdade, um MBA, mestrado ou doutorado? Fazer uma reserva financeira é indispensável, correto?
Os passos principais são: primeiro, definir os principais objetivos relacionados ao desejo ou necessidade de estudar no exterior, que podem estar relacionados à qualificação profissional, desenvolvimento de novas habilidades, aprimoramento de conhecimentos, busca de novas áreas, desejo de ter uma experiência internacional e, ao mesmo tempo, adquirir algum novo conhecimento, etc.

Segundo passo: depois de definido o objetivo, é necessário escolher o curso, ou programa de formação e a instituição ou instituições que melhor atendem aos interesses. Nessa etapa é importante avaliar questões como os conhecimentos de idiomas – relacionados aos países pré-escolhidos, os investimentos envolvidos – além do programa, a hospedagem, a alimentação, o lazer e algum dinheiro de reserva. Depois disso deve-se elencar cursos e instituições para avaliar os custos e benefícios envolvidos.

Depois, é fundamental uma pesquisa aprofundada para saber as condições de oferta, datas, investimentos, seguros etc. O terceiro passo é avaliar e cuidar das questões legais de imigração, para não correr o risco de ser expulso do país por não ter o visto adequado. Sobre a reserva financeira, é sim fundamental, afinal o estudante está partindo para um outro país e surpresas podem acontecer.

 

Gilberto Silva conta sua experiência para falar da importância da
vivência no exterior para o profissional (Foto: Arquivo Pessoal)

 

A adaptação à cultura local pode ser um complicador. Como superar isso? O ideal é escolher um país que tenha uma cultura mais similar à do Brasil?
Essa é uma questão complexa e depende muito do perfil de cada um. Para algumas pessoas é o contato com uma cultura muito diferente, um dos grandes atrativos para fazer um curso no exterior, já para outros, é mais confortável buscar países que aparentemente têm alguma proximidade cultural com o Brasil.

Algumas questões devem ser pesquisadas com antecedência, como hábitos alimentares, comportamento em público e comportamento em relação aos habitantes. Um exemplo simples: não é comum o aperto de mãos em vários países asiáticos, e abraços acalorados e beijos podem ser considerados altamente inapropriados em diversas culturas.

Desejando ou sendo obrigado, por qualquer fator, a cursar um programa em um país de cultura muito diversa, o importante é tomar todos os cuidados e se preparar bem antes. Pode ser necessário recorrer a uma cadeia de fastfood por exemplo, para garantir uma refeição com a qual está mais ambientado.

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Quais outras questões devem ser levadas em conta? Quais erros não podem ser cometidos?
Além do que já citei antes, principalmente em relação a pesquisar e se preparar bem, acredito que um ponto muito importante é lembrar que você não está mais em seus país, assim que chegar ao destino escolhido para o curso.

Então, todo o cuidado é pouco. Além de questões de segurança, documentação e conhecer a cultura local, é importante lembrar que você não está no Brasil, por isso é melhor ficar atento a tudo a sua volta. Por mais que muita gente acredite que todo mundo ama os brasileiros pela alegria e espontaneidade, não dá para sair abraçando todo mundo ou fazendo rodinhas de samba ou pagode em qualquer bar, acreditando que todos em volta vão adorar.

O melhor é ser discreto e acompanhar o comportamento dos habitantes locais.

É fácil conseguir visto de estudante? Em quais países essa questão é facilitada?
Geralmente, é um dos vistos menos complicados a partir do momento que você tem uma comprovação que foi admitido para um curso ou programa de uma instituição de ensino conhecida no país para onde pretende ir. Mas cada país tem suas regras e exigências.

Alguns são mais rigorosos na concessão do visto, como os Estados Unidos, e outros menos rigorosos. Os países do Mercosul e da América do Sul, em geral, não criam dificuldades, por conta dos tratados de livre circulação. Alguns países da Europa como França, Itália e Portugal também costumam ser menos complicados.

Mas, como eu disse, é preciso estudar as regras de cada país. Na Alemanha, por exemplo, é exigido em programas de longa duração que o interessado abra uma conta em um banco do país e deposite lá o valor equivalente às despesas do primeiro ano do curso. Depois terá que fazer novo aporte a cada ano e comprovar as autoridades migratórias.

É uma conta especial controlada, com liberação de saques mensais programados. Já em outros países como Portugal, por exemplo, você deverá comprovar condições de subsistência e contrato de alojamento – pode ser da própria universidade ou um contrato de aluguel.

É fácil conseguir bolsas para estudar no exterior, sobretudo em Portugal, país que já possui uma enorme colônia brasileira?
Já foi mais simples, mas devido ao desinvestimento em educação, principalmente em programas públicos de pesquisa no exterior, já não é tão simples. Tem estudantes com dificuldade de receber recursos de bolsas ou renovar programas, mas existem, sim, algumas opções.

Existem alguns programas internacionais de bolsas e algumas entidades globais também têm programas especiais. Uma destas organizações é o Banco Santander, que distribui diversas bolsas focadas em educação para alunos e professores brasileiros que desejem fazer uma formação em outro país, desde que seja um onde se fale português ou espanhol.

O programa europeu Erasmus também prevê bolsas para alunos que resolvam estudar em outros países dentro do continente, mas é possível que brasileiros consigam algumas dessas bolsas. No caso de Portugal, algumas instituições têm programas de financiamentos e condições especiais para estudantes brasileiros.

Muitas universidades portuguesas aceitam a nota do Enem para ingresso em vários cursos. Mas é possível se matricular em universidades portuguesas e de outros país, mas estudar aqui no Brasil, por meio de vídeoaulas e outras ferramentas?
Hoje, existem muitas opções de ensino a distância pelo mundo, principalmente em programas livres, de pós-graduação e até mestrados e doutorados.

No caso de graduação, a oferta ainda não é tão grande no exterior, mas já existem experiências exitosas como a Open University da Inglaterra e a Universidade Aberta de Portugal, onde o aluno pode fazer o programa quase inteiro no Brasil, indo ao país somente para algumas atividades, provas ou defesa de dissertação ou tese, no caso de mestrado ou doutorado.

É fácil revalidar um diploma de graduação ou pós-graduação ao voltar para o Brasil?
Infelizmente não. O Brasil não possui nenhum acordo de revalidação automática de diplomas com nenhum outro país. O estudante que faz um curso no exterior deverá buscar na plataforma Carolina Bori, do MEC, uma instituição no Brasil que ofereça um programa parecido com o que cursou e solicitar a revalidação por esta instituição, atendendo às exigências apresentadas.

Ao voltar ao Brasil, essa experiência no exterior aumentará bastante as chances de conseguir empregos com salários mais atrativos?
Geralmente sim. Em situações mais graves, como a que estamos passando, pode contribuir para a manutenção do emprego ou aumentar as chances numa disputa com outros candidatos em uma nova vaga.

Em condições normais, a experiência internacional agrega muito valor para o profissional e é, sim, um elemento que contribui para qualificá-lo para empregos de remuneração mais alta.

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Aquele que vai com visto de estudante pode trabalhar no exterior? As empresas do exterior costumam contratar estudantes brasileiros para vagas de estágio e/ou empregos?
Geralmente o visto de estudante não permite trabalhar legalmente no exterior. O que acontece é que muitos estudantes arrumam empregos informais para gerar uma renda extra. Eventualmente, é possível mudar a condição do visto, já estando no país, passando de estudante para investidor ou empregado.

Mas é necessário buscar informação nos serviços de imigração para não correr nenhum risco.

Fale um pouco sobre sua experiência de estudar no exterior e como isso transformou a sua vida?
Estudar em um outro país é uma experiência pessoal única. Fiz um programa de curta duração em Stanford e um doutorado em Portugal (grande parte em EAD, mas tive que ir quatro vezes ao país para cumprir etapas do programa).

Você conhece o país ou a região com mais profundidade, tem a oportunidade de conhecer lugares especiais, que somente moradores conhecem, convive com outras realidades totalmente diversas das nossas, como as escolas públicas da Califórnia, que têm estruturas e recursos que pouquíssimas escolas de elite no Brasil, e por outro escolas mais simples em Portugal, mas com alta qualidade de ensino, por conta do sistema educacional do país.

Definitivamente você volta transformado e querendo transformar o mundo a sua volta, além é claro da valorização profissional que a experiência traz.

Hoje você é representante no Brasil, do Instituto Piaget, que é uma instituição portuguesa. Fale um pouco sobre ela e os cursos que oferece. Todos são presenciais?
Fiz parceria com o Instituto Piaget, pois encontrei na instituição o ambiente e oportunidades que podem fazer a diferença para brasileiros que desejem estudar em Portugal. O Instituto oferece cursos em diversas áreas, como educação, gestão, saúde e tecnologias, além de diversas pós-graduações e mestrados. Além disso possui quatro unidades nas principais regiões de Portugal, além de estar presente também em alguns países da África e no Brasil (em SP).

Essas condições permitem o desenvolvimento de projetos e parcerias diversas. Já estou desenvolvendo para o Piaget alguns convênios e protocolos de cooperação com escolas e instituições de ensino superior brasileiras e também alguns projetos relacionados à capacitação e formação de colaboradores.

A maior parte dos cursos do Instituto são presenciais, mas ele já oferece diversos programas de pós-graduação 100% online ou o que ele classifica de B-learning, com parte presencial e parte a distância, como é o caso de um mestrado em Educação, onde o aluno precisa ir a Portugal basicamente para o período de exames do curso e defesa da tese.

Por Luiz Fernando Caldeira
luiz.fernando@folhadirigida.com.br