Falta de servidores afeta políticas dos órgãos ambientais
Entenda como a falta de servidores nos quadros do MMA dificulta políticas ambientais e por que o Governo sofre pressão de investidores.
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Publicado em:09/09/2020 às 12:32
Atualizado em:09/09/2020 às 12:32
Dados divulgados pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) em agosto deste ano apontaram um aumento de 34% no desmatamento na região.
Realizada anualmente e divulgada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pesquisa apontou que a área desmatada foi de 10.129 km². Em meio a isso, entidades seguem alertando a respeito da baixa fiscalização no local.
O presidente da Ramboll, no Brasil, Eugenio Singer, criticou, entre outros pontos, a fragilidade da fiscalização no local. No documento, ele também apontou o relaxamento em exigências de proteção e as ameaças à população indígena.
Essas questões relacionadas à fiscalização estão diretamente relacionadas aos concursos, uma vez que são os fiscais de órgãos como Ibama e ICMBio quem atuam nessa frente. Dados do ano passado demonstram isso.
Segundo o estudo, apenas 43% dos fiscais ambientais da União estavam atuando na função. Isso porque o déficit de servidores resultou na necessidade de deslocar esses profissionais para outras áreas.
Mesmo com os dados sobre desmatamento e crimes ambientais não recuando, um fato importante é que a aplicação de multas não seguiu o mesmo ritmo. Segundo o que já foi apontado em auditoria do TCU, o motivo é a falta de fiscais.
No ano passado, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) registrou o menor número de multas em 25 anos, segundo informações da agência Reuters.
Os dados apontam que em 2019 foram aplicadas mais de 12 mil penalidades por infrações ambientais. Em relação ao ano anterior, a queda foi de 17%.
É interessante observar que, embora não acompanhe o ritmo crescente de crimes e infrações ambientais, o número de multas segue o movimento da perda de servidores.
No ano passado, numa carta aberta enviada ao presidente do Ibama, mais de 500 agentes federais do órgão chamaram a atenção para uma queda de 24% no número de fiscais em relação a 2018.
Ou seja, com menos profissionais trabalhando tem-se também menos fiscalização e menos penalidades para os infratores. O problema é que isso acabe por estimular ainda mais o aumento de crimes ambientais, não apenas na Amazônia, mas também em outros locais.
Atuação militar para suprir servidores deve se estender até 2022
Assim como vem sendo feito em outros órgãos, como no INSS, por exemplo, o Governo Federal recorreu ao uso das forças armadas para lidar com o déficit de servidores nos órgãos ambientais e auxiliar no combate ao desmatamento.
A Operação Verde Brasil 2, ratificada por meio do Decreto 10.341, foi iniciada no dia 11 de maio e seria encerrada em junho. Contudo, a atuação do grupo militar foi prorrogada mais de uma vez e ainda está acontecendo.
Além disso, um plano de metas enviado pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL) ao Ministério da Economia no final de agosto prevê a permanência dos militares na Amazônia até 2022.
Mas essa presença militar é criticada por servidores dos órgãos ambientais. Eles se posicionam contra, uma vez que esses profissionais possuem pouca ou nenhuma experiência nessas áreas para cargos de comando.
“Além disso, a falta de critérios técnicos para a nomeação de pessoas, muitas sem conhecimento suficiente e sem experiência prévia para cargos de direção, com destaque para a substituição de servidores de carreira por militares das Forças Armadas ou policiais militares (inexperientes, porém obedientes), demonstram a intencionalidade do enfraquecimento da área ambiental na atual gestão.”
Veja como está a situação dos concursos ambientais previstos
Entre os órgãos relacionados às políticas ambientais, a expectativa por novos concursos se aplica ao Ibama e ICMBio, ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), além do Incra, vinculado ao Ministério da Agricultura, e da Funai, vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Segundo últimas informações divulgadas, todas essas seleções estão ainda em estudo. Nos próximos meses os Ministérios responsáveis vão elaborar estudos que viabilizem contratações efetivas.
Esses estudos, depois, serão encaminhados ao Ministério da Economia, que será responsável por conceder ou não o aval para a abertura dos concursos públicos. Entenda mais:
Concurso Ibama
O Ibama não informou quantas vagas solicitou ao Ministério da Economia em seu pedido de concurso este ano. No pedido feito anteriormente, em 2019, foi solicitado o aval para preencher 2 mil vagas em carreiras de níveis médio e superior, com ganhos de até R$8 mil. Confira:
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
847
Analista administrativo
Nível superior
R$8.547,64
313
Analista ambiental
Nível superior
R$8.547,64
894
A carreira de técnico administrativo exige o nível médio. Já para analistas é preciso ter o nível superior. Os vencimentos são de R$4.063,34 e R$8.547,64, respectivamente. Os valores incluem o auxílio-alimentação de R$458 e, no caso de técnico, a Gratificação de Desempenho de R$1.382,40.
Concurso ICMBio
Para o ICMBio, o último pedido de concurso que se tem notícia foi protocolado em 2018 para o preenchimento de 1.179 vagas, sendo 524 para cargos de nível médio e 655 para o nível superior.
CARGO
ESCOLARIDADE
REMUNERAÇÃO
VAGAS
Técnico administrativo
Nível médio
R$4.063,34
457
Técnico ambiental
Nível médio
R$4.408,94
67
Analista administrativo
Nível superior
R$9.389,84
94
Analista ambiental
Nível superior
R$9.389,84
561
Todos os valores mencionados na remuneração já incluem os R$458 de auxílio-alimentação.
A Fundação Nacional do Índio confirmou que o pedido para o concurso Funai 2021 já foi encaminhado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), órgão ao qual é vinculada.
Se autorizado, o edital poderá ser publicado no primeiro semestre do ano que vem. Foi solicitado o aval para provimento de 826 vagas nos níveis médio e superior.
Para o nível médio, as vagas solicitadas são para o cargo de agente em indigenismo. A remuneração inicial, segundo dados de junho de 2019, é de R$5.349,07 mensais.
Já para o nível superior as vagas solicitadas são nos seguintes cargos:
Administrador
Antropólogo
Arquiteto
Arquivista
Assistente Social
Bibliotecário
Contador
Economista
Engenheiro
Engenheiro Agrônomo
Engenheiro Florestal
Estatístico
Geógrafo
Indigenista Especializado
Médico Veterinário
Pesquisador
Psicólogo
Sociólogo
Técnico em Assuntos Educacionais
Técnico em Comunicação Social e Zootecnista.
Para essas carreiras, segundo dados de junho de 2019, o ganho mensal é de R$6.420,87. A Funai não divulgou a distribuição das vagas entre os cargos.
Concurso Incra
Já o Incra, que é uma autarquia federal, não informou se enviou novo pedido de concurso este ano. No início do ano passado, o Tribunal de Contas da União (TCU) reconheceu a baixa eficácia do órgão e recomendou que fosse realizado um novo concurso.
O último pedido que se tem notícia foi de 2015, quando o órgão demandava o preenchimento de mais de 800 vagas. Os cargos que compõem o quadro da autarquia são:
técnico administrativo e técnico de reforma e desenvolvimento agrário, de nível médio; e
analista administrativo, analista de reforma e desenvolvimento agrário e engenheiro agrônomo, de nível superior.