Como as empresas podem levar mais mulheres à liderança?

De que forma as empresas podem contribuir para ampliar o número de mulheres em cargos de liderança? Veja o que dizem as especialistas!

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Publicado em:23/03/2021 às 17:02
Atualizado em:23/03/2021 às 17:02

De acordo com a pesquisa Woman in Business 2020, realizada pela Grant Thornton International, no Brasil apenas 34% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres. Apesar do avanço, em relação aos anos anteriores, o número demonstra que a desigualdade de gênero ainda é alta em funções de chefia. 

Mas, como as empresas, em conjunto com seus setores de RH, podem contribuir para a transformação dessa realidade?

A coordenadora de Facilities da ICSK — líder na execução de projetos de construção e montagem industrial de grande porte —, Ligia Castro Lopes, destacou que ainda existe no mercado de trabalho muito preconceito com mulheres de diferentes faixas etárias.

“Se você tem 30 e poucos anos e não tem filhos muito empregadores entendem que não seria bom promover ou contratar, pois ainda terá filhos ou, se já tem, fazem a mesma análise da sua produtividade: pode cair ou não terá o mesmo comprometimento, o que é um absurdo!”

Para Ligia, as iniciativas pública e privada deveriam caminhar juntas em direção à construção de meios para transformar esse cenário. As empresas, por exemplo, poderiam investir na contratação de mais mulheres, em especial nos setores onde há maior presença masculina, como Engenharia e Obras.

“Importante ressaltar que muitas vezes são as próprias mulheres que possuem um ‘preconceito’ e preferem não contratar mulheres. Nós devemos abrir oportunidades para mulheres e, principalmente, para cargos de liderança, não somente para funções em que dificilmente temos homens, como em atividade de copa, recepção e limpeza”, destacou Ligia.

A especialista ainda alertou que, de maneira oposta, os cargos de liderança em sua maioria são ocupados por homens, que costumam receber salários mais altos, até mesmo que profissionais do sexo feminino que exercem a mesma função.

Outras iniciativas importantes seriam mais flexibilidade em horário e forma de trabalho (home office). Já na iniciativa pública, Ligia destacou que poderiam ser mais trabalhadas políticas governamentais que incentivam contratações de mulheres e disponibilização de mais creches.

 

Mulheres no mercado de trabalho
Mulheres ainda enfrentam diversos problemas para chegar a cargos de liderança
(Foto: Divulgação)

 

Empresas devem "educar" colaboradores para evitar situações de preconceito

Adriele Eliza Goulart, superintendente Jurídico da ICSK, defendeu que as empresas também podem criar mecanismos de tratamento diferenciado para as mulheres, a fim de colocá-las em uma situação de igualdade com os homens. 

“Por exemplo, eu sempre mudei a logística das mulheres do meu time enquanto tinham filhos pequenos, evitando viagens, horas extras que não fossem absolutamente necessárias e liberando para horários flexíveis.”

Ainda de acordo com Adriele, as companhias precisam criar políticas de diversidade efetivas, que garantam a paridade salarial e de cargos em igualdade de condições. Além de treinamentos para evitar situações de preconceito e garantia de número mínimo de mulheres na liderança. 

“As mulheres por natureza são mais intuitivas e resilientes. Em geral, sabem direcionar melhor as tomadas de decisões para que todos os aspectos sejam observados, inclusive aqueles subjetivos, com soluções criativas que geralmente são ignoradas pelos homens”, ressaltou. 

Na Take4Content, ascensão na carreira está relacionada ao trabalho apresentado

Amanda Almeida, diretora na Agência Take4Content, reconheceu que, atualmente, é possível ver um número maior de mulheres no mercado de trabalho, principalmente na área de Comunicação. No entanto, muitas posições conservadoras e fórmulas antigas ainda precisam ser superadas.

A agência conta com um time de mulheres em todas as nossas áreas de atuação. “Acreditamos que essa seja uma forma de incentivar mulheres a ocuparem cada vez mais áreas majoritariamente masculinas.”

Os trabalhos assumidos por profissionais do sexo feminino na Take4Content são os mais variados, como edição de imagem, gravação, redação a até mesmo computação gráfica. 

Internamente, as colaboradoras são incentivadas a fazerem cursos e se capacitarem cada vez mais para o mercado de trabalho. Com isso, aumentam as chances de assumir cargos de liderança dentro da própria empresa.

“Precisamos entender e assumir que não existe diferença técnica ou intelectual entre o trabalho feminino ou masculino, por esse motivo, enxergar, escutar e dar voz ao trabalho de mulheres é primordial! Não convém aqui falar de sensibilidade ou delicadeza feminina, porque cada mulher é única e possui capacidades diferentes. 

Exatamente por esse motivo, pela diversidade e pluralidade entre elas, ter mulheres na liderança é fundamental para ter perspectivas, diálogos e soluções técnicas e criativas diferentes para diversas situações”, defendeu Amanda. 

Amanda Almeida ressaltou que, diferentemente de outras empresas, assumir um cargo de liderança na Take4Content tem a ver com apresentar um trabalho de qualidade. 

“Contudo, esse comportamento não é comum em outras empresas, na qual trabalhar mais do que as suas funções e demonstrar um alto nível de produtividade, paralelo ao esgotamento, ainda não foram o suficiente para ter reconhecimento e conquistar a liderança”, reconheceu.

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Questões sociais evidenciam desigualdades no mercado de trabalho

Já para Lorena Oliveira, diretora da Agência Binder, o sistema sociopolítico contribui para o atual cenário no mercado de trabalho. 

“As mulheres estão em desvantagem em diversas situações, em casa, acumulando funções, quando sofrem violência doméstica, na rua, nas situações mais corriqueiras e também no mercado de trabalho. Historicamente, o líder é do gênero masculino, por isso, ainda hoje, no século 21, nos deparamos com essa dificuldade de ver mulheres em cargo de liderança. Acho que o princípio de tudo é a educação e o contexto social em que estamos inseridos.”

Por isso, a diretora da Binder defende que o ideal é tratar a raiz do problema: a Educação. “Que as crianças sejam educadas entendendo que o mundo é diverso e que todos têm os mesmos direitos.”

Para Lorena, a principal ação que deve ser realizada nas empresas é a de dar oportunidade às mulheres. Inclusive, abrindo vagas exclusivas para elas, se o número de homens e mulheres na companhia estiver desproporcional.

Lorena ainda pontuou que a diversidade de gênero é extremamente vantajosa para qualquer empresa. Ao promover a equidade, a empresa promove, também, a criatividade, além de motivar e gerar maiores resultados. 

“Percebo que as características do próprio universo feminino, que já foram vistas de forma preconceituosa ou como fraqueza, hoje fazem toda diferença: sensibilidade com a equipe, flexibilidade, respeito, cuidado diferenciado com o time e, o principal, entender que a mulher é o sexo forte, faz várias atividades ao mesmo tempo, adapta-se às mudanças com mais facilidade, são extremamente flexíveis... são inúmeros benefícios.”

Eloisa Pinheiro, head de atendimento da Binder, complementou, dizendo que velhos hábitos devem ser deixados de lado. “Por exemplo, taxar a mulher como estressada, louca e nervosa quando ela está batalhando para ser respeitada e ocupar o seu lugar, gera oportunidades.”

Além disso, Eloisa também defende que as empresas devem dar oportunidades para as mulheres liderarem, reconhecendo talentos individuais e não de gênero. Segundo ela, essa é a saída para equipes mais diversas e disruptivas. 

“Eu acredito muito na diversidade como caminho para nossa evolução como seres humanos. E a diversidade é o ponto benéfico nesse contexto da liderança feminina. As equipes mais diversas têm trocas maiores e isso passa não só pela diversidade de gênero, mas de outras naturezas também.”

Eloisa ressaltou que a inserção de lideranças femininas nas empresas provoca a quebra de padrões e contribui para a criatividade e disrupção das equipes.