Mulheres da Ciência: pesquisadoras se destacam no combate à pandemia

Conheça histórias de mulheres que se destacam no combate à pandemia e as contribuições femininas para a Ciência neste período.

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Publicado em:01/04/2021 às 17:00
Atualizado em:01/04/2021 às 17:00

No decorrer da história, o papel da mulher na ciência foi expressivo e pesquisadoras reconhecidas por gerações tiveram contribuições científicas importantes em diversas áreas do conhecimento.

Temos nomes que são praticamente lendas, como o da polonesa Marie Sklodowska Curie, pioneira nos estudos sobre a teoria da radioatividade, ou Françoise Barré-Sinoussi, que recebeu o Nobel de Medicina de 2008 pela descoberta do vírus da imunodeficiência humana, o HIV.

Apesar da discriminação de gênero, mulheres pesquisadoras continuam se destacando e provando que têm muito a contribuir para o desenvolvimento da sociedade. E hoje, após séculos de exclusão, elas já são maioria em muitos desses espaços.

Um exemplo disso é o Programa de Combate a Epidemias da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Nele, 61% das bolsistas são mulheres, 404 dos 657 beneficiários da iniciativa lançada em 2020.

Em meio à pandemia, muitas delas tiveram um papel essencial. Logo no início da crise sanitária no Brasil, os nomes de Ester Sabino e Jaqueline Goes de Jesus se destacaram. 

As pesquisadoras fizeram parte da equipe que fez o primeiro sequenciamento do genoma do novo Coronavírus, informação essencial para o combate à doença. 

Ana Carolina coordena uma equipe multidisciplinar que estuda o SARS-CoV-2

Para além desses nomes, porém, ainda há toda uma categoria de pesquisadoras por todo o Brasil que seguem atuando com foco na pandemia e contribuindo diariamente com novas informações para que as autoridades possam lidar melhor com o novo vírus. 

Ana Carolina Jardim coordena equipe na UFU
(Foto: Arquivo Pessoal)

Uma delas é Ana Carolina Jardim, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), que coordena uma equipe multidisciplinar que atua em várias frentes de combate ao SARS-CoV-2. 

O seu grupo de trabalho conta com químicos, farmacêuticos, biólogos, biomédicos, médicos, todos trabalhando desde a identificação de moléculas com potencial antiviral, até a produção dessas moléculas e validação de suas atividades contra o vírus que causa a Covid-19.

“Nosso papel no enfrentamento à pandemia, como pesquisadores, tem sido no desenvolvimento de ferramentas que possam resultar em dados e informações que nos dê condições de lidar com o enfrentamento. Porque quando a gente sabe quais são as variantes que estão circulando, a gente pode direcionar essa informação para os órgãos competentes e eles decidirem sobre os protocolos na cidade”, explica a pesquisadora.

Neste momento, a equipe de Jardim atua em duas frentes de trabalho principais relacionadas à pandemia.

Uma delas é um projeto financiado pela CAPES, coordenado pelo professor Robson Sabino, no qual os pesquisadores investigam atividades antivirais, que possam potencialmente vir a ser usadas em um tratamento contra a Covid-19 ou até em medidas de profilaxia. 

A outra frente é de vigilância epidemiológica genômica, numa colaboração com o Instituto de Medicina Tropical, laboratório coordenado pela professora Ester Sabino. Nessa, a equipe avalia as variantes que estão circulando em Uberlândia.

“O conhecimento de como essas variantes estão circulando e desenvolver uma molécula que tenha uma ação antiviral, que possa vir a ser utilizada em um tratamento ou preventivamente por profissionais da saúde, por exemplo.” 

A pesquisadora destaca sua gratidão a seus alunos que fazem parte da equipe e têm contribuindo ativamente para essas pesquisas. De acordo com elas, esses alunos e alunas são a grande força de pesquisa no Brasil.

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“Eles são motivados e engajados. Durante a minha carreira ficou claro para mim que a pesquisa científica é feita junto, ninguém faz sozinho, então quando há uma equipe integrada, motivada, o desenvolvimento flui muito melhor.”

Lucymara Fassarella pesquisa diagnóstico, prognóstico e tratamento da Covid-19

Lucymara Fassarella
Lucymara busca o diagnóstico, prognóstico e tratamento
da Covid-19 (Foto: Cícero Oliveira/ UFRN)

Outra pesquisadora que atua no combate à pandemia é Lucymara Fassarella, coordenadora-geral da Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio).

Ela está à frente de um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que envolve várias instituições de ensino superior e quase 50 pesquisadores. 

Seu trabalho busca o diagnóstico, prognóstico e tratamento da Covid-19, por meio de informações colhidas nos estados da região Nordeste.

O programa de doutorado do Renorbio divide-se em diferentes iniciativas, como desenvolvimento de testes de diagnóstico eficientes e de baixo custo, teste de novas drogas para tratamento e, no caso de Lucymara, com genômica.

O objetivo é identificar variantes virais, mas também respostas do hospedeiro à infecção e à co-ocorrência de outros vírus e bactérias. 

“Estamos sequenciando cerca de 300 amostras de pacientes. Os dados que estão sendo obtidos devem ajudar no entendimento da evolução da doença, como a resposta do hospedeiro poderia afetar o curso da doença para um melhor ou pior prognóstico, e novos alvos terapêuticos”, explica.

Fassarella conta que os resultados ainda são preliminares, visto que o projeto começou a pouco tempo. Então seria prematuro divulgar resultados agora. Mas é certo que essas pesquisas poderão impactar de forma muito significativa no combate à pandemia.

Cientistas destacam presença feminina no meio científico

Como já dito, a participação feminina na ciência é crescente e notável em todas as áreas. A pesquisadora Lucymara Fassarella conta que em seu departamento 67% dos docentes são mulheres.

“Nas ciências biológicas, em alguns setores, as mulheres chegam a ser maioria em termos de formação e atuação no mercado de trabalho. É um espaço que vem sendo conquistado ao longo do tempo”, reconhece a cientista. 

Mas ainda há muito a conquistar e contribuir. Por isso, Lucymara entende que a participação feminina em projetos como esse pode incentivar meninas e mulheres a se interessarem pela área. 

“A minha experiência foi positiva como pesquisadora no Brasil”, conta também a doutora Ana Jardim. “Acho que, principalmente aqui, nós vemos muitas mulheres trabalhando e se destacando, produzindo informação de qualidade.”

Só entre os bolsistas da CAPES, como já mencionado, as mulheres representam 61%. Isso, contudo, é apenas uma pequena demonstração perto da grande contribuição que as pesquisas têm dado para a ciência neste momento de crise sanitária mundial. 

Zena Martins, diretora de Programas e Bolsas no País da CAPES, diz que as mulheres ocupam a cada dia maior e mais expressivo espaço na ciência brasileira: 

“Muitas pesquisadoras com o apoio da CAPES têm mostrado o impacto e a contribuição de seus trabalhos, a partir  de descobertas, artigos, prêmios e reconhecimento nacional e internacional. Bolsistas têm se destacado com suas pesquisas e à frente de equipes que trazem resultados importantes para a ciência e o país."

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