Os desafios da igualdade de gênero no mercado de trabalho

No mundo, 90% das pessoas têm algum preconceito contra as mulheres

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Publicado em:06/03/2020 às 15:00
Atualizado em:06/03/2020 às 15:00

São inúmeras as desigualdades existentes na sociedade brasileira. No mercado de trabalho, por exemplo, o desequilíbrio existente entre homens e mulheres são ainda mais notórios, quando levamos em consideração a diferença salarial, condições de trabalho, carga horária, entre outras. 

Segundo dados divulgados pelo estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), cerca de 90% da população mundial tem algum tipo de preconceito contra mulheres. Por isso, os desafios para a igualdade de gênero precisam ser cada mais debatidos nos dias de hoje. 

Para a gerente de comunicação da Rock Content, Lizandra Muniz, quando falamos de mulheres no mercado de trabalho e a conquista pela igualdade de gênero os desafios são muitos, pelo fato de o machismo estar enraizado na sociedade e a mulher ainda ser vista como inferior em diversos sentidos. 

"O trabalho pela igualdade de gênero é diário e constante. Acredito muito na educação para mudarmos esses cenários. Para o homem entender como mudar seus comportamentos e para a mulher entender todas as oportunidades que ela pode ter e conquistar", ressalta. 

De acordo com o estudo de Estatísticas de Gênero, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, as mulheres trabalham, em média, três horas por semana a mais que os homens, combinando trabalhos remunerados, afazeres domésticos e cuidados de pessoas. 

Para Aline Costa, psicóloga e psicanalista do Campo Lacaniano, no Rio de Janeiro, a divisão das tarefas domésticas no âmbito familiar está entre os principais desafios a serem enfrentados na conquista pela igualdade de gênero. 

Além desses, Aline cita a igualdade de salários para o mesmo cargo dentro das empresas, maior representatividade política dentro das câmaras e congressos e, por fim, a diminuição da violência física e psicológica contra a mulher que manifesta-se quase que em todos os lugares, seja pelo assédio ou pelo feminicídio.

"O combate a esses desafios vai desde a mudança no discurso, passando por penas mais severas nas infrações e fomento das políticas públicas, como o aumento do número de creches", argumenta a psicóloga. 

Lizandra completa dizendo que a mulher precisa sempre se provar capaz de exercer alguma função e que sempre temos as mesmas oportunidades já que, desde crianças, as mulheres são ensinadas a se voltarem às tarefas domésticas. 

"Existem áreas inteiras que são dominadas por homens, porque é ensinado para a mulher que ela não pode ir para a ciência. Precisamos muito debater esses papéis, principalmente para jovens garotas entenderem que elas podem ser o que quiserem." 

mulheres trabalhando
Desigualdade de gênero ainda é alta no mercado de trabalho brasileiro
(Foto: Divulgação)

Mudanças necessárias para uma sociedade menos desigual 

Sabemos que os desafios para uma sociedade e, consequentemente, um mercado de trabalho menos desigual são grandes. No entanto, o que podemos fazer para que, no futuro, não haja tantas disparidades entre homens e mulheres? 

Conforme Lizandra, o machismo vai, inevitavelmente impactar na carreira e nas oportunidades de trabalho de todas as mulheres. Por outro lado, a gerente de comunicação acredita que a educação é a saída para combatê-lo. 

"Precisamos falar sobre isso não só nas salas de aula, mas também nas empresas e em qualquer outro ambiente que estamos inseridos. Deve ser um trabalho que vai muito além do Dia da Mulher. As empresas precisam 'comprar' essa briga e acreditar na diversidade, não só porque é uma palavra bonita, mas como um compromisso com a sociedade. É essencial que haja conversas, discussões e uma educação dos funcionários para entenderem tudo que permeia a igualdade de gênero", afirma.

Segundo Lizandra, comportamentos machistas devem ser coibidos e um código de conduta dos funcionários é importante para que haja um maior equilíbrio no mercado de trabalho. 

"O time de RH deve estar preparado para lidar com essas questões e analisar cada caso que possa surgir. As mulheres da empresa precisam sentir que estão em um ambiente seguro", aponta a gerente. 

Aline percebe que os ajustes necessários para que haja um maior equilíbrio no mercado de trabalho devem ser feitos nas ideias enraizadas dentro da sociedade e das empresas até os dias atuais. De acordo com a psicóloga, o fato de o homem ter que ganhar mais por ser o provedor da casa é uma falácia, pois 39,8% dos domicílios brasileiros possuem mulheres arrimo de família. 

Ela destaca, ainda, que algumas mudanças nas leis são necessárias para que aconteça esses ajustes na sociedade:

"A licença-maternidade, por exemplo, poderia passar a ser compartilhada, já que metade das mulheres deixam o emprego após o nascimento do primeiro filho. Isso as colocam na situação de dependência econômica dos maridos e mais sujeitas a relações abusivas. As que permanecem em seus empregos sentem-se ameaçadas, seja porque terão maior dificuldade de serem promovidas, seja porque podem ser demitidas."

Sobre as expectativas para o futuro 

A perspectiva de igualdade de gênero no ambiente de trabalho é de mais de 200 anos, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial (FEM). O que fazemos até lá? Como podemos contribuir para que essa mudança aconteça? 

Lizandra garante que muitos aspectos já melhoraram. Hoje, por exemplo, existem muitas mulheres em posições de liderança e com ótimas carreiras, mas para outras minorias, ainda temos muito caminho pela frente. 

Segundo a gerente de comunicação, é muito importante que as mulheres se unam, sejam mentoras para aquelas que estão em início de carreira e participem ativamente na contribuição e no crescimento umas das outras. 

"Muitas mulheres têm uma autoestima baixa quando falamos de carreira e de credibilidade técnica. Precisamos nos ajudar, fazer grupos para falarmos sobre nossas questões, comprar a briga uma da outra." 

Já em relação aos homens, Lizandra afirma que é essencial que eles reconheçam e tentem entender quais comportamentos ainda se repetem e que podem ser prejudiciais. Diante disso, ela julga necessário que os homens:

  • Busquem informação;
  • Se eduquem; 
  • Tenham empatia por suas colegas de trabalho e dê voz a elas; e
  • Incentive seus projetos.

"Chame a atenção dos seus amigos e colegas caso perceba que eles estão repetindo padrões machistas. Fale caso veja alguma injustiça acontecendo. De nada adianta empresas investirem em treinamentos de diversidade se não houver um comprometimento por parte dos homens em realmente aprender e mudar. Todos nós precisamos contribuir ativamente para mudar o cenário", completa.

Aline Costa finaliza dizendo que devemos repreender e reportar atitudes machistas ou de assédio em qualquer ambiente. Pesquisar e votar em candidatas mulheres não só pela representatividade, que é importante, mas também para defesa das causas que giram em torno da desigualdade cada vez maior entre os sexos.

"Dentro das empresas, devemos cada vez mais valorizar e estimular a seleção imparcial, apoiar iniciativas que promovam a mesma renumeração para cargos equivalentes e, se possível, promover cursos sobre diversidade e combate ao preconceito."