Sem privatizações e reforma, Guedes vê 'debandada' na Economia

Na última terça, 11, os secretários Salim Mattar e Paulo Uebel deixaram o Ministério da Economia, no que Paulo Guedes chamou de 'debandada'.

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Publicado em:12/08/2020 às 07:44
Atualizado em:12/08/2020 às 07:44

Na última terça-feira, 11, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou os pedidos de demissão dos secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. O chefe da pasta da Economia afirmou que houve uma 'debandada'.

O anúncio foi feito em uma entrevista, após uma reunião no Ministério da Economia com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Na ocasião, Guedes disse que as saídas não vão afetar o andamento das reformas.

"Se me perguntarem se houve uma debandada hoje, houve […] Nossa reação à debandada que ocorreu hoje vai ser avançar com as reformas", afirmou.

De acordo com Paulo Guedes, o secretário Sallim Mattar afirmou que estava insatisfeito com o ritmo das privatizações.

"O que ele me disse é que é muito difícil privatizar, que o establishment (ordem ideológica, econômica e política do país) não deixa a privatização, que é tudo muito difícil, tudo muito emperrado", declarou Guedes.

O ministro, no entanto, disse que o governo mantém o objetivo de fazer privatizações. Vale lembrar que, no último dia 6, Guedes anunciou que o Governo irá propor, em até 60 dias, a privatização de três ou quatro grandes empresas públicas. Até o momento, os nomes das estatais não foram revelados.

No caso do secretário Paulo Uebel, Guedes afirma que ele estaria insatisfeito com o andamento da Reforma Administrativa.

"A Reforma Administrativa está parada. Então, ele (Uebel) reclama que a reforma parou. A transformação do estado tem várias dimensões", afirmou Guedes.

Com a saída dos secretários, chega a sete o número de integrantes da equipe econômica que deixaram o governo desde o ano passado. Além dos dois, já haviam saído:

  • Marcos Cintra (ex-secretário da Receita Federal, demitido)
  • Caio Megale (ex-diretor de programas da Secretaria Especial de Fazenda)
  • Mansueto Almeida (ex-secretário do Tesouro Nacional, que pediu para sair)
  • Rubem Novaes (ex-presidente do Banco do Brasil, que se demitiu)
  • Joaquim Levy (ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES, que pediu demissão)

 

Guedes vê debandada na Economia (Foto:José Cruz/Agência Brasil)
Guedes vê 'debandada' na Economia (Foto:José Cruz/Agência Brasil)

 

Guedes pode deixar governo? Entenda!

Com as saídas de mais dois secretários, Paulo Guedes perde "braços", no Ministério da Economia. No anúncio da última terça, 11, o ministro afirmou que há insatisfações pelas mudanças nos rumos da política econômica do governo.

Não é a primeira vez que dificuldades em aprovar projetos e avançar com o plano econômico foram citados no governo. Quando Rubem Novaes deixou a presidência do Banco do Brasil, os obstáculos com a privatização e modernização da instituição foram motivos anunciados nos bastidores do Planalto.

Segundo o Blog de Valdo Cruz para o G1 desta quarta, 12, com as demissões da última terça, assessores do presidente Jair Bolsonaro avaliam que o ministro Paulo Guedes mandou sinais claros de que pode seguir a "debandada" de secretários e deixar o cargo, caso o governo decida furar o teto de gastos públicos.

Para os interlocutores do presidente, Paulo Guedes até aceita não enviar a Reforma Administrativa este ano, motivo da saída do secretario Paulo Uebel. Mas, avaliam, que Guedes não vai tolerar mudanças no teto de gastos públicos.

Na terça, 11, ao anunciar os pedidos de demissão, Guedes disse que "pessoas" aconselham o presidente a furar o teto de gastos. Isso, segundo o ministro, pode levar o presidente da República para "uma zona sombria, uma zona de impeachment".
 

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Reforma Administrativa fica para 2021

O secretário de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, deixou o governo na última terça, 11, por entender que a Reforma Administrativa "parou". Para Paulo Guedes, é preciso entender que "a transformação do estado tem várias dimensões".

Na última terça, o Governo Federal decidiu por adiar o envio da Reforma Administrativa, ao Congresso, para 2021. Segundo reportagem do O Globo, técnicos da equipe econômica afirmam que a estratégia agora é esperar o resultado das eleições presidenciais da Câmara dos Deputados e do Senado.

A decisão por adiar o envio da Reforma, no entanto, não é nova. Em julho, durante sua participação no terceiro dia da Expert 2020, o ministro Paulo Guedes afirmou que o Governo focará no discurso de outras reformas nos próximos meses. Nesse sentido, a Reforma Administrativa ficaria em um segundo plano

"Para não criar um ambiente politicamente instável, a Presidência preferiu segurar um pouco a Reforma Administrativa. Mas a proposta já está pronta", disse o ministro.

Segundo Guedes, apesar da proposta estar pronta, "o tempo da política é diferente do tempo da economia". Desta forma, a Reforma Tributária foi priorizada pelo governo.

Mas depois de ser adiada diversas vezes, a Reforma Administrativa pode estar sendo "barrada" pelo próprio presidente. Em reunião fechada no fim de julho, segundo O Globo, o ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Wagner Rosário, teria dito estar tranquilo com relação ao projeto, pois Bolsonaro seria "completamente contra".

"Fico tranquilo porque o presidente é completamente contra. O máximo que ele (Bolsonaro) aceitou foi congelar os salários durante dois anos a contar de março" declarou o ministro, segundo O Globo.

Ainda de acordo com o ministro da CGU, o presidente deseja reajustar as remunerações até o fim do seu mandato, em 2022. Em videoconferência com servidores da Controladoria, em julho, Rosário afirmou que a informação foi repassada pelo próprio Bolsonaro.

Tal reajuste, no entanto, vai contra um dos pilares da Reforma Administrativa, que visa diminuir os gastos públicos com pessoal, acabar com a progressão automática na carreira e reduzir os salários iniciais dos futuros servidores. 

Sobre isso, o ministro da CGU destacou que o presidente tem restrições a assuntos abordados na Reforma Administrativa.

"O presidente falou na reunião: 'eu queria dar um aumento salarial para os servidores antes de terminar meu mandato, no meu mandato eles não tiveram nenhum aumento'", disse Rosário, segundo o jornal O Globo.