Pesquisa aponta diferença salarial entre brancos e negros nas ONGs

De acordo com o levantamento, em 2019, as pessoas negras ganharam, em média, 27% menos do que as brancas nas ONGs. Confira outros dados apresentados!

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Publicado em:14/12/2020 às 12:30
Atualizado em:14/12/2020 às 12:30

A Associação Brasileira de ONGs (Organizações Não Governamentais - Abong) realizou uma pesquisa que mostra a diferença entre a remuneração e cargos ocupados por negros e brancos nas organizações da sociedade civil. De acordo com o levantamento, em 2019, as pessoas negras ganharam, em média, 27% menos do que as brancas nas ONGs

Os dados estão baseados em informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério da Economia, no período de 2015 a 2019, apurados nas 27 capitais brasileiras. 

Uma matéria publicada pela Agência Brasil informa que a faixa de remuneração média nas ONGs é de meio a três salários mínimos, ou seja, R$522,50 e R$3.135. 

De acordo com o estudo, enquanto homens brancos têm a maior participação na faixa dos salários mais altos (mais de 20 salários mínimos), os negros são a maioria nas faixas que representam os menores salários. 

Das pessoas que receberam mais de 20 salários mínimos nas ONGs em 2019,  

  • 44,42% eram homens brancos; 
  • 31,45% mulheres brancas;
  • 12,97% homens negros; e 
  • 10,01% mulheres negras.

Por outro lado, na faixa de remuneração de até meio salário mínimo, a maioria é de homens negros (38,19%), seguido de mulheres negras (37,11%), mulheres brancas (12,81%) e homens brancos (11,11%). 

Os dados também apontam que a maior participação de pessoas negras (41,62%) está na ocupação de auxiliar de manutenção predial. Já a maior presença de pessoas brancas (64,81%) é encontrada na ocupação de pesquisador ou pesquisadora. 

Em 2019, a função de diretor era ocupada por 59,25% de pessoas brancas, e 25,07%, negras. Nas gerências, 59,27% eram brancas, e 27,60%, negras. 

"A gente quer chamar todos os outros setores de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e sindicatos a se juntarem conosco para debater esse problema e encontrar soluções. A nossa pauta, efetivamente, é reconhecer que os nossos setores, que atuam primariamente, principalmente, na promoção da igualdade e da inclusão, eles não são impermeáveis ao racismo estrutural da sociedade brasileira. É muito importante a gente reconhecer isso", destacou Athayde Motta, da diretoria executiva da Abong, em entrevista à Agência Brasil. 

"É importante reconhecer [o racismo estrutural nas ONGs] e descobrir maneiras de enfrentar isso. Não é fácil, não basta ter pessoas de boa vontade. A gente está falando de algo que é uma disputa de poder instalada na sociedade brasileira desde sempre e que não vai sumir rapidamente."

 

Diferença salarial ONGs
Faixa de remuneração média nas ONGs é de meio a três salários mínimos
(Foto: Freepik)


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Como o racismo estrutural impacta na empregabilidade de negros?

Piores condições de emprego, menores salários e menos chances de ascensão profissional são apenas alguns dos desafios enfrentados por pessoas negras no mercado de trabalho. Você já se perguntou como o racismo estrutural impacta a empregabilidade de profissionais negros?

Para entender a questão, Folha+ conversou com Delton Aparecido Felipe, diretor de Relações Internacionais da Associação de Pesquisadores (as) Negros (as) (ABPN). Em primeiro lugar, é importante esclarecer a relação entre o racismo estrutural e o mercado de trabalho.

Segundo Delton Felipe, o racismo estrutural nada mais é do que a forma como o Brasil estruturou suas relações sociais, desde o Brasil Colonial. Ou seja, desde a chegada dos portugueses e a adoção da mão de obra escrava africana.

O professor e doutor do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (PR) explicou que, desde esse período, se desenvolveu um sentimento de superioridade em relação aos europeus e sua imagem, a partir da ideia de ser branco. Em contrapartida, o corpo negro passou a ser visto como inferior e atrelado ao serviço braçal e não intelectual.

"O racismo estrutural diz sobre a nossa colonização e sobre as hierarquizações sociais, a partir do critério racial. E aqui no Brasil temos que lembrar que o critério racial está ligado à aparência, ao fenótipo."

No entanto, o especialista destacou que o racismo estrutural só se sustenta no mundo corporativo, porque alinhado a ele existe o racismo institucional, que também causa reflexos quando o assunto é a empregabilidade de pessoas negras. 

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