Por que empregadores têm dificuldade para encontrar talentos?
Mesmo com o desemprego atingindo tantas pessoas, por que empregadores ainda sentem dificuldade para encontrar talentos?
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Publicado em:16/12/2020 às 10:00
Atualizado em:16/12/2020 às 10:00
No trimestre encerrado em setembro, o desemprego chegou à taxa recorde de 14,6%, atingindo 14,1 milhões de brasileiros, segundo o IBGE. Apesar desse dado, os empregadores ainda relatam dificuldade para encontrar profissionais para algumas de suas vagas.
Especialista fala sobre soft skills
(Foto: Divulgação)
Mas se existem tantos procurando, por que, afinal, preencher as poucas vagas que abrem é um desafio? Para entender essa dinâmica, Folha+ conversou com Genis Fidelis, gerente sênior da Michael Page e Page Personnel, líder de recrutamento e seleção.
Porque, ao contrário do que pode parecer, esta não é uma conta proporcional. Não é porque existem milhões desempregados que as vagas abertas podem ser facilmente preenchidas.
E em um primeiro momento, a resposta pode até parecer simples: esses milhões de desempregados precisam estar qualificados para as vagas. Certo?
Sim, mas ainda não é só isso que impacta. Até porque muitos destes milhões estão qualificados. Mas a grande questão é o ‘match’ entre vaga e profissional.
“Na realidade, ter muita gente no mercado não significa necessariamente que os profissionais têm as habilidades que as empresas precisam. Funciona como um ‘casamento’ de competências.”
Fidelis salienta que, para que a contratação seja assertiva, o que conta é a combinação do que a pessoa tem para oferecer com o que a empresa procura em determinado momento. Por isso, ele defende a importância do trabalho de consultoria para realizar esse encontro.
Ser a pessoa certa para a vaga vai além de títulos
Ser qualificado para uma vaga de emprego vai muito além de acumular títulos e nomes de grandes instituições no currículo. Sim, isso é muito importante, principalmente em áreas mais técnicas, mas os empregadores também buscam algo além disso.
São habilidades (também chamadas de soft skills), que tornam o profissional qualificado para lidar não apenas com questões técnicas, mas desafios do dia a dia, trabalhos em equipe, por exemplo.
Para Fidelis, considerando o cenário atual, a capacidade de adaptação, a criatividade e o trabalho em equipe são características essenciais para um profissional. Mas nem sempre é fácil encontrar pessoas com essas habilidades bem desenvolvidas.
No Brasil, em especial, a inteligência emocional aparece em primeiro lugar, sendo a preferência de 42,9% dos respondentes. Seguida por trabalho em equipe (38,4%) e a comunicação assertiva (31,1%).
“Sem dúvida, para o processo de seleção, os títulos acadêmicos chamam bastante a atenção se direcionados para áreas técnicas. Hoje, se procurarmos alguém para o mercado de digital, por exemplo, a especialização é muito relevante. Mas o mais importante de tudo é a experiência que o profissional obteve ao longo dos anos e suas competências. A bagagem que carrega irá determinar se a contratação será satisfatória para a empresa.”
Por que ainda é difícil encontrar talentos?
Como já mencionado pelo especialista em recrutamento, não se trata necessariamente de escassez de talentos ou de poucas pessoas procurando vagas. Mas é importante haver sinergia e conexão entre o desejo da empresa e a habilidade do candidato.
Ele conta que a principal dificuldade é encontrar as competências comportamentais necessárias para assumir a posição.
“Entre as habilidades comportamentais mais difíceis de se encontrar no mercado, estão a comunicação assertiva, a resolução de conflitos e a liderança.”
Mas o gerente sênior não descarta que a qualificação técnica muitas vezes também deixa a desejar. A falta de conhecimentos técnicos e de experiências prévias também são pontos de atenção.
“Falando sobre competências técnicas, o investimento em cursos voltados para a área é importante para preencher possíveis lacunas. Em muitos casos, considerando a alta concorrência do mercado, apenas a graduação não é suficiente. É preciso estar em constante aperfeiçoamento.”
Ou seja, o profissional que quer estar preparado para o novo deve buscar preparo técnico, mas que vá além da grade básica de ensino fundamental, médio e superior. É importante se manter atualizado, fazer cursos e se aperfeiçoar sempre.
Além disso, ter atenção a essas habilidades sociais que os recrutadores buscam em seus funcionários. E que, se ainda não são muito presentes na vida do profissional, podem e devem ser melhor desenvolvidas.