Confira 6 projetos que incentivam o afroempreendedorismo no Brasil

Em entrevista à Folha+, Washington Grimas, secretário geral do Ceabra, explica a importância do afroempreendedorismo e os seus principais desafios.

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Publicado em:17/11/2020 às 18:30
Atualizado em:17/11/2020 às 18:30

Um estudo divulgado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em outubro de 2019, mostra que, no Brasil de cada 100 negros adultos, 40 são empreendedores. O panorama foi traçado com informações do ano de 2018. 

Ainda de acordo com os dados levantados, 55,56% dos empresários afrodescendentes abrem um negócio por oportunidade, enquanto o percentual de branco nesse contexto é de 71,5%. 

Para Washington Grimas, secretário geral do Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro Brasileiros (Ceabra), os projetos que fomentam as iniciativas voltadas para o afroempreendedorismo, de certa forma, são uma “reparação” a uma sociedade onde o racismo estruturado está enraizado. 

"Essas iniciativas, além de dar oportunidade para mostrarmos nossos produtos e serviços, mostram o quanto nós, afroempreendedores, temos a oferecer em questões de qualidade, assertividade, competência e inovações."

Grimas cita a superação do racismo e suas variações de preconceito como os principais desafios do afroempreendedorismo. De acordo com o secretário geral do Ceabra, esses obstáculos dificultam ou até mesmo fecham oportunidades para novos negócios, linhas de crédito e financiamento, por exemplo. 

"O racismo estruturado é outro desafio difícil, pois está em nossa sociedade escondido em meio a frases, atitudes e comportamentos. Além desses, tem a falta ou a ineficiência de políticas públicas destinadas a nós, afroempreendedores, que garantam por meio de decretos e leis nossos direitos e garantias de acesso igualitário a oportunidades como todos demais empresários e empreendedores não negros", complementa. 

Em comemoração ao Dia da Consciência Negra, Folha+ separou seis projetos que incentivam o afroempreendedorismo no Brasil. Confira! 

 

Afroempreendedorismo
O preconceito ainda é um desafio para o afroempreendedorismo
(Foto: Freepik)


O que + você precisa saber:


Afrobusiness 

Hoje, a Afrobusiness tem como principal objetivo gerar conexões entre empreendedores negros, promovendo a sustentabilidade desses negócios e a movimentação econômica, chamada Black Money. Além disso, oferece capacitação desses empreendedores negros para conexão com grandes empresas dentro da cadeia de fornecimento.

O Afrobusiness surgiu a partir da inquietação de três profissionais negros que queriam unir suas redes de networking: Fernanda Ribeiro, que vinha do mercado corporativo, o empreendedor Sergio All e o advogado Marcio Valencio.

Os três foram apresentados e começaram fazer negócios e juntos resolveram ampliar a experiência positiva (e de blackmoney), criando uma rede com outros profissionais. 

Em pouco tempo, foram premiados pela iniciativa em uma premiação de uma Big Tech, o que proporcionou uma repercussão de mídia e alavancagem do ingresso de empreendedores negros. Ao realizar as primeiras conexões, verificaram que havia uma diferença entre os graus de maturidade dos negócios e então incluíram o braço de capacitação.

"Quando falamos da realidade dos empreendedores negros, é preciso considerar também os desafios impostos pelo racismo estrutural. Sendo assim, o processo de empreender para pessoas negras é mais complicado. Logo, inciativas que fomentam e que foram criadas pensando nas necessidades e especificidades desse empreendedor, são fundamentais para a sobrevivência desses negócios. E fomento do ecossistema em que os mesmos estão inseridos", diz Fernanda Ribeiro, diretora executiva da Afrobusiness. 

Mercado Black Money 

O Mercado Black Money, lançado em março de 2020, é uma plataforma online (marketplace), que permite a conexão entre empreendedores e consumidores negros. No início, como projeto piloto, possuía 30 lojas. Atualmente, são mais de 500 lojistas cadastrados, todos negros. 

Com um projeto totalmente escalável e replicável, o objetivo do Mercado Black Money é aumentar a visibilidade e quantidade dos negócios pretos assistidos na plataforma digital, com melhores condições tecnológicas e impulsionamento do ​black money​.

O Mercado Black Money utiliza o conceito de Economia Circular, não somente para o reaproveitamento de recursos naturais, mas para fomentar o recurso de capital circulando por mais tempo dentro da plataforma/comunidade negra. Esse conjunto de ações aumenta o potencial de vendas da plataforma e conhecimento digital dos empreendedores, possibilitando a melhoria da receita dos mesmos.

Go To Market e diferenciação:

  1. Produto: Marketplace onde podem ser ofertados produtos e serviços diversos;
  2. Público: Focado em afroempreendedores e consumidores negros e não negros antirracistas; e
  3. Lojistas recebem nossas oportunidades de parcerias, educação e tração, pois as redes do Movimento Black Money atraem 100 mil pessoas por mês. Além disso, enviamos por e-mail uma vitrine digital quinzenal com produtos em destaque. O marketplace não possui mensalidades.

PretaHub

A PretaHub é o resultado de dezoito anos de trabalho do Instituto Feira Preta no mapeamento, capacitação técnica e criativa, aceleração e incubação do empreendedorismo negro no Brasil. 

"É um hub de inventividade, criatividade e tendência pretas. É a compreensão de que muito já foi feito, mas que o futuro é promissor, vasto e precisa ser olhado a partir da inventividade preta para fazer negócio", explica Adriana Barbosa, CEO da PretaHub e criadora da Feira Preta.

A PretaHub tem como objetivo expandir o alcance dos projetos do Instituto Feira Preta junto à população e aos investidores. A plataforma PretaHub não se relaciona exclusivamente com empreendedor negro como fim de um processo solto na lógica de quem produz e consome no país. 

"O PretaHub pensa a relação com este empreendedor a partir de um olhar honesto e propositivo, entendendo seu papel fundamental na mudança estrutural de um mercado que precisa absorver este empreendedor não apenas em seus processos, mas no respeito à sua existência enquanto potência criativa e empreendedora", diz Adriana.

"Todas as iniciativas que envolvem a Pretahub são parte integrante de um processo maior e estrutural da inclusão de empreendedoras e empreendedores negros em um ecossistema empreendedor que precisa ser mais justo e equilibrado em oportunidades e resultados financeiros, desde a criação com o suporte do programa Afrolab, passando pela produção e estratégias de distribuição e consumo com o escoamento no Festival Feira Preta e também no marketplace em uma parceria com o Mercado Livre", complementa. 

ÉdiTodos

A coalizão ÉdiTodos é uma aliança que reúne vários atores do ecossistema de empreendedorismo negro no Brasil. Criada em 2017, reúne seis empresas e Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de impacto social: 

  1. Vale do Dendê;
  2. Agência Solano Trindade;
  3. Afrobusiness; 
  4. Feira Preta;
  5. FA.Vela; e
  6. Instituto Afrolatinas.

O seu propósito é enfrentar o racismo estrutural e as disparidades de gênero para promover um empreendedorismo baseado na oportunidade; levar recursos para empreendedores (formais e informais) negros e fazer o dinheiro circular entre eles; atrair e administrar recursos financeiros privado, público e de órgãos de fomento nacionais e internacionais.  

No contexto de pandemia, o seu principal objetivo foi arrecadar recursos com empresas privadas para fornecer apoio financeiro a cerca de 500 pequenos e nano empreendedores das periferias do país, especialmente jovens e mulheres, em dez estados, além do Distrito Federal. 

Afrohub

O Afrohub foi criado em 2018, a partir da união da Feira Preta, Afrobusiness e Diáspora.Black, em parceria com o Facebook. A plataforma foi criada se pautando nas principais dúvidas e necessidades dos empreendedores que passaram nas edições anteriores do projeto. 

Com o foco na digitalização, os conteúdos abordam as melhores formas de se utilizar as ferramentas de marketing no ambiente online e como aprimorar o relacionamento com os consumidores nesses espaços.

O objetivo é apresentar elementos estratégicos para o negócio e para aprofundar os temas e atender às necessidades específicas dos afroempreendedores. O propósito é fortalecer o ecossistema de afroempreendedorismo no Brasil com a democratização do acesso à tecnologia e conteúdo de alta performance para criação e qualificação dos negócios.

"No que diz respeito ao trabalho que o Afrohub desempenha, o contexto da pandemia mostrou que os nanos e microempreendedores, principalmente os negros, precisam estar dentro do ambiente online. A plataforma vai trazer conteúdos para acelerar esse processo e trabalharemos também para apoiar o processo de transformação de cultura e democratização da população negra em relação a esse contexto digital", conta Antonio Pita, cofundador e COO da Diáspora Black. 

FA.VELA 

O FA.VELA é uma organização que atua como uma plataforma de educação e aprendizagem inclusiva, com o foco no desenvolvimento social e econômico de grupos e territórios vulnerabilizados.

Além de oferecer educação empreendedora e aceleração de negócios e projetos, atua no desenvolvimento de metodologias de ensino, trilhas de inovação e impacto social, elaboradas para preparar pessoas ao futuro do trabalho e a economia do conhecimento.

Fundada em 2014 e com sede em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, o FA.VELA já empoderou mais de 2.300 jovens, adultos e idosos, de mais de 25 municípios localizados nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Pará.

Isso se deu por meio de cursos, eventos e outras atividades de curto, médio e longo prazo de formação e fomento à cultura empreendedora, que facilitaram a criação, consolidação e crescimento de mais de 260 empreendimentos com ou sem fins lucrativos, formais e informais.

Entre as pessoas impactadas pelas atividades, 82% são pessoas negras, 70% identificam-se como mulheres, 30% como LGBTQI+, 67% têm até o ensino médio em termos de acesso a educação formal, e a maioria é de famílias que recebem até dois salários por mês. 

"Um dos principais impactos é na autoestima e empoderamento de afroempreendedores, que se reconhecem neste lugar, do afroempreendedorismo, em toda sua potência e possibilidades, assumindo o protagonismo na geração de soluções a desafios sociais, econômicos e até mesmo ambientais, se tornando verdadeiros agentes de transformação local, regional e nacional. 

Há também o fortalecimento do rico ecossistema moldado por empreendedores periféricos e historicamente vulnerabilizados, em especial no âmbito da economia criativa, mas também em áreas que demandam maior diversidade, como a economia digital e do conhecimento", conta Tatiana Silva, cofundadora e CEO do FA.VELA.

 

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