Contra Reforma Administrativa, categorias citam precarização

Sindicatos e federações criticam propostas da nova Reforma Administrativa e dizem que texto é uma nova roupagem da PEC 32. Veja!

Política e Concursos
Autor:Bruna Somma
Publicado em:22/08/2025 às 16:28
Atualizado em:22/08/2025 às 16:42

A proposta de Reforma Administrativa deverá ser apresentada nos próximos dias. Antes de divulgar o texto à sociedade, o grupo de trabalho sobre o tema na Câmara dos Deputados faz articulações com as bancadas partidárias para obter apoio.


O relator do grupo de trabalho da Reforma Administrativa, deputado Pedro Paulo (PSD RJ), já adiantou alguns tópicos que serão abordados.


Para os servidores públicos, algumas medidas anunciadas são:

  • Avaliação de desempenho: a promoção na carreira não será mais baseada somente no tempo de serviço. O avanço acontecerá a partir da avaliação do desempenho individual. Um sistema de avaliação padrão será adotado em todos os poderes e esferas de governo, e cada carreira deverá ter ao menos 20 níveis para progressão.
  • Contratações temporárias: será criado um cadastro nacional para essas contratações. Os contratos poderão durar até cinco anos, com um período de 12 meses de "quarentena" antes de uma possível recontratação. Os trabalhadores terão direitos como licença-maternidade e adicional de férias em contratos com duração superior a um ano.
  • Bônus por resultado: funcionários poderão receber bônus se atingirem metas institucionais, desde que a situação financeira do órgão permita. Essa gratificação não se aplica a agentes políticos.
  • Teletrabalho: O limite para trabalhar remotamente será de um dia por semana, mas poderá ser estendido com uma justificativa formal. Haverá exceções para situações especiais, como problemas de saúde ou questões familiares.
  • Concurso Nacional Unificado: o CNU poderá ser usado para selecionar servidores para governos estaduais e municipais, com o objetivo de tornar o processo de seleção mais eficaz e transparente.
  • Concurso intranível: para determinadas carreiras será possível entrar em um nível mais alto. "Na medida que em estamos tornando obrigatório que cada carreira tenha no mínimo 20 níveis, vamos permitir que para determinadas carreiras, em caráter extraordinário, você possa ter um concurso intranível", disse o deputado Pedro Paulo.
  • Planejamento estratégico: governadores, prefeitos e o Presidente da República terão até 180 dias após assumirem o cargo para apresentar um plano de metas e indicadores para o mandato completo.
  • Fim dos privilégios: proibição das férias de 60 dias para juízes e promotores públicos e a regulamentação de 30 dias únicos de férias para todos os servidores.

Entidades se manifestam contra a Reforma Administrativa

(Foto: Fenasps) 


O deputado Pedro Paulo garantiu que a reforma não vai retirar direitos, como a estabilidade. Mas, segundo ele, a proposta atingirá os atuais servidores públicos.


As medidas serão divididas em quatro eixos:

  • Governança, Gestão e Estratégia;
  • Recursos Humanos;
  • Transformação Digital; e
  • Privilégios no serviço público.

Serão protocolados três anteprojetos, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), um Projeto de Lei Complementar (PLC) e outro de lei ordinária.


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Categoria aponta Reforma Administrativa como 'nova roupagem da PEC 32'

De acordo com o deputado Pedro Paulo, a nova Reforma Administrativa descarta totalmente a antiga PEC 32. No entanto, sindicatos e categorias de servidores discordam.


Em 2020, o governo do então presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso Nacional a PEC 32, que trazia uma série de mudanças ao serviço público, como o fim da estabilidade para determinados cargos.


Em notas oficiais, as entidades destacaram a falta de diálogo com os servidores para a construção da nova proposta da reforma. Veja os posicionamentos abaixo:

Fonacate 

O Fórum das Carreiras de Estado realizou uma Assembleia Geral, no dia 19 de agosto, em que a Reforma Administrativa foi abordada. As entidades afiliadas ao Fonacate avaliaram que a proposta é uma espécie de PEC 32 com "nova embalagem".

“Deram uma nova roupagem à PEC 32, com o objetivo de angariar apoio popular”, destacou o presidente do Fórum, Rudinei Marques.

A afirmação se refere, por exemplo, ao fim das férias de 60 dias, regra que não existe no Executivo, onde o período é limitado a 30 dias.


Outra proposta é a criação de uma tabela única e o consequente achatamento dos salários iniciais. Segundo o Fonacate, isso prejudicaria especialmente as carreiras de Estado, que exigem processos seletivos com maior nível de preparação.


Diante das ameaças, os dirigentes do Fonacate definiram quatro eixos inegociáveis na articulação e enfrentamento à matéria: 

  • o não rebaixamento dos salários iniciais; 
  • a preservação de direitos para os futuros servidores; 
  • a defesa do concurso público como única forma de ingresso;
  • a manutenção da estabilidade.

O Programa de Gestão de Desempenho (PGD) também foi discutido, assim como a proposta de limitar o teletrabalho a um dia.


Para o Fonacate, é inadmissível o Legislativo intervir em matéria de âmbito do Poder do Executivo, que já tem um programa definido, com "excelentes resultados no aumento da produtividade e redução de custos".

Fenasps

A Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social disse que é imprescindível que todos os sindicatos e servidores pressionem os deputados e senadores nos Estados, além de reforçar os fóruns estaduais dos servidores das três esferas de governo.


Na plenária final da 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, realizada em Brasília, a Fenasps marcou presença com a entrega de uma carta aberta denunciando os efeitos nocivos da Reforma Administrativa sobre os serviços públicos e os direitos da classe trabalhadora.


O documento, elaborado pelo Fonasefe, alerta que a Reforma Administrativa representa uma ameaça direta à população, ao enfraquecer e sucatear os serviços públicos.


Segundo a carta, a proposta não responde às reais necessidades da sociedade, que exigem mais investimentos e valorização dos trabalhadores, mas busca reduzir custos à custa da precarização e privatização


O texto denuncia ainda que medidas como a flexibilização da estabilidade, por meio da ampliação das contratações temporárias, abrem caminho para a corrupção, para o clientelismo político e para o desmonte do Estado democrático de direito.

Fonasefe

Para o Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe), antes mesmo do envio do texto ao Congresso, a Reforma Administrativa já mostrou "impor à lógica de mercado aos serviços públicos, esvaziando a sua função social e precarizando o trabalho dos servidores".


Para o Fonasefe, não só os servidores, mas todo o povo brasileiro precisa estar atento e mobilizado.

"As articulações para a aprovação da Reforma Administrativa já começaram nos bastidores do Congresso Nacional. Uma reforma que irá prejudicar não apenas os servidores, mas toda a população que depende dos serviços públicos", disse.

Condsef

Na visão da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), os serviços públicos são peças-chave para o desenvolvimento do Brasil e para a soberania nacional.

"Somos referência mundial quando o assunto é sistema público de saúde. E nada disso seria possível sem os milhares de corações e mentes das servidoras e servidores, que trabalham diariamente para garantir os direitos da população e para proteger os interesses nacionais. Investir nos serviços públicos para um Brasil justo e soberano! Diga Não à Reforma Administrativa".

Para a Condsef, sobre a avaliação de desempenho, o ponto de atenção é que a proposta fere a autonomia técnica e expõe os servidores a metas abusivas e assédio.


A ampliação das contratações temporárias é observada como ameaça à estabilidade, favorecendo interesses de mercado. 


Outro ponto de atenção é o bônus por resultado que reforça a lógica da meritocracia sem considerar as condições reais de trabalho dos servidores. Já o teletrabalho deveria ser responsabilidade do governo, incluindo custos e suporte psicossocial. 


É preciso ainda seguir cobrando a regulamentação do direito à greve, a defesa de cotas sociais e raciais no CNU, e seguir criticando o planejamento estratégico com metas que mudam a cada governo.


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Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público

A Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público teve uma reunião no dia 11 de agosto para reforçar a mobilização contra a proposta de Reforma Administrativa. 


Foram decididas as seguintes ações pela frente e entidades parceiras:

  • Mobilização permanente no Aeroporto de Brasília: todos os representantes se comprometeram a participar das recepções a parlamentares às terças-feiras, às 8h, no Aeroporto de Brasília. O objetivo é fortalecer a pressão direta contra a reforma administrativa.
  • Intensificação da comunicação nas redes: as entidades compartilharão conteúdos sobre a reforma administrativa marcando o perfil da Frente no Instagram.
  • Elaboração de carta política: uma nova carta com posicionamento atualizado da Frente será entregue nos gabinetes parlamentares da Câmara e do Senado. O documento buscará qualificar o debate e propor alternativas que valorizem e fortaleçam o serviço público.
  • Vigília no Anexo II da Câmara: A Frente organiza uma vigília na entrada do Anexo II.

No dia 19 de agosto, foi realizado um ato nacional contra a Reforma Administrativa, no aeroporto de Brasília. A mobilização reuniu servidoras e servidores públicos federais, estaduais e municipais, além de entidades representativas da categoria, pressionando os parlamentares que chegavam à capital federal para suas agendas.

Fenajufe

Em nota, a Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal e Ministério Público disse ser contra a Reforma Administrativa por ela representar a privatização e precarização, abrindo caminho para terceirizações e contratos temporários em larga escala. 

“A proposta representa perda de direitos, aumento da desigualdade social e enfraquecimento do Estado, desmontando garantias históricas do funcionalismo público, enfraquecendo carreiras e a estabilidade, que assegura a autonomia frente a pressões políticas”.

Ainda segundo a Fenajufe, a reforma "aumenta a desigualdade social, transferindo recursos do serviço público para o setor privado, ampliando a exclusão e prejudicando principalmente a população mais vulnerável, que depende das políticas públicas. Com o enfraquecimento do estado, a capacidade de atuação do poder público fica reduzida em áreas essenciais como Saúde, Educação, Segurança e Justiça".


O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos PB) indicou que pretende levar o texto ao Plenário no início de setembro.

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