
O profissional que hoje ingressa no serviço público por meio de concurso encontra uma realidade distinta das gerações passadas.
As antigas máquinas datilográficas deram lugar aos computadores, telefonemas para contato entre setores ou funcionários foram reduzidos ao e-mail e aos aplicativos de mensagens instantâneas.
Mas, entre os avanços tecnológicos, a Inteligência Artificial (IA) é a que tem causado o maior impacto.
A IA tem a capacidade de executar tarefas que, rotineiramente, seriam realizadas por seres humanos. Por essa razão, a discussão sobre a substituição de pessoas no mercado de trabalho tem ganhado destaque.
De acordo com dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), um em cada quatro empregados no mundo está exposto à transformação causada pela inteligência artificial generativa.
A pesquisa ainda aponta que 3,3% do emprego global se enquadra na escala de exposição com potencial de ser substituído pela IA.
Em meio a essas mudanças, a transformação do dia a dia de trabalho é fundamental para a adequação às novas tecnologias. A IA, por exemplo, quando utilizada como ferramenta complementar, tem sido crucial para que o profissional se destaque.
Aqui, entra a famosa ideia: não há ferramenta mais forte que o homem no uso e no desenvolvimento de máquinas e novas tecnologias.
Pelo fato de estar a serviço da sociedade, o serviço público tem o dever de se adequar à realidade do mundo tecnológico e à inteligência artificial. Mas, afinal, como essa adequação tem sido feita?
Importância do servidor público na transofrmação digital
Para responder ao desafio da adequação tecnológica, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) defende que o Estado assuma a liderança na transformação digital.
Segundo o MGI, por meio dessa iniciativa, é possível fornecer infraestruturas públicas digitais seguras e soberanas, tratando dados como ativos estratégicos e facilitando o acesso em todos os níveis da federação.
Na prática, o avanço é notável: já são mais de 4,5 mil serviços digitais disponíveis na plataforma GOV.BR, que conta com mais de 165 milhões de contas de usuários e dezenas de milhões de acessos mensais.
Contudo, um relatório de 2020 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que, embora o Brasil tenha ganhado terreno na economia digital, ainda há desafios notáveis a serem superados:
- a conectividade irregular;
- a necessidade de melhorar a coordenação entre políticas públicas; e a
- urgência em ampliar a confiança digital.
Neste cenário, o servidor público deve estar atento a esses desafios. O seu papel vai muito além da operação de sistemas digitais, abrangendo a análise e a utilização de dados para subsidiar a tomada de decisões estratégicas.
Além disso, a transformação digital exige uma mudança de cultura interna. É crucial que os servidores participem ativamente do redesenho de processos, proponham melhorias e se capacitem para utilizar as novas ferramentas.
Programas de formação e treinamento em competências digitais são considerados fundamentais para que o Brasil avance na oferta de serviços públicos eficientes, transparentes e inclusivos.
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IA no dia a dia do servidor público
No cotidiano de milhares de servidores públicos, a IA já aparece em diversas frentes. Um guia oficial do Governo Federal mostra que ferramentas de "IA generativa" (capazes de redigir textos, gerar relatórios ou produzir conteúdos visuais) estão sendo orientadas para uso no setor público, com foco na ética, segurança e eficiência.
O servidor público pode, por meio de seu trabalho, utilizar a Inteligência Artificial para a execução de automações, o que resulta na redução da carga operacional e no aprimoramento do fluxo de trabalho interno.
A eficácia dessa aplicação foi destacada em uma audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados.
Na ocasião, a coordenadora-geral do Laboratório de Inovação em Inteligência Artificial da Escola Nacional de Administração Pública (Enap), Patrícia Baldez, afirmou que a IA promove uma redução de 30% nos custos de operação e um aumento de 40% na produtividade dentro do serviço público.
De acordo com a especialista, o potencial da IA vai além da otimização burocrática.
A tecnologia pode auxiliar não apenas no trabalho do servidor, mas também na prevenção de tragédias. Baldez citou como exemplo o que ocorreu no Rio Grande do Sul em 2024, onde fortes chuvas atingiram o estado, e pontuou que a IA poderia ter sido crucial para evitar ou mitigar os desastres, atuando em modelos preditivos e sistemas de alerta de cheias.
"O que aconteceu no Rio Grande do Sul era prveisto e previsível. Poderíamos ter, como estado, ter nos preparado para isso", destacou.
O uso da Inteligência Artificial tem sido ativamente explorado não apenas no âmbito do Governo Federal, mas se expandido por estados e municípios.
Na mesma audiência realizada na Câmara, outros participantes destacaram ações realizadas em nível estadual, como a criação do "Fluência Paraná", um sistema de IA voltado para a avaliação da fluência da leitura dos alunos no estado.
No âmbito municipal, foram citadas iniciativas como a da Associação Nacional das Cidades Inteligentes, Tecnológicas e Inovadoras (Ancite), que atua no desenvolvimento de soluções em diversas cidades.
Todo esse movimento de adoção tecnológica é alinhado a um esforço nacional: a capacitação de profissionais em IA é vista como um dos pilares centrais do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA).
O PBIA tem o objetivo de posicionar o Brasil na vanguarda do desenvolvimento e da aplicação responsável da Inteligência Artificial. O documento reconhece que a tecnologia, por si só, não é suficiente para promover mudanças significativas.
Para que a transformação digital seja bem-sucedida, é indispensável a participação ativa dos servidores públicos.
Novas tecnologias têm impactado no trabalho do servidor público
(Foto: Divulgação)
O servidor público 4.0
Com a transformação digital e o avanço tecnológico em curso, o servidor do futuro precisa ser mais do que um agente executor de tarefas burocráticas, é preciso se tornar um agente ativo de inovação e melhoria contínua.
O profissional deve ser competente digitalmente, sendo capaz de utilizar plenamente ferramentas como a Inteligência Artificial, a análise de dados e os sistemas integrados de governo.
O novo servidor precisa ainda ser adaptável e inovador, mantendo-se atento às novas tecnologias e sendo proativo na busca por soluções que unam o princípio da eficiência às necessidades reais do cidadão.
Nesse contexto de avanço tecnológico, é fundamental destacar a importância da ética. Conforme indicado em normativos essenciais, como a Lei de Acesso à Informação (LAI) e a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o trabalho deve ser realizado não apenas com qualidade, mas com rigorosa transparência e responsabilidade no uso das informações.
Por fim, o aprendizado contínuo deve estar entre as principais atribuições do servidor público. Dessa forma, o novo agente será capaz de conciliar as inovações em sua rotina de trabalho com as necessidades e a constante evolução da sociedade.
