Dia do voluntariado: importância do trabalho voluntário no currículo
Especialistas explicam a importância do trabalho voluntário pessoal e profissionalmente
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Publicado em:28/08/2020 às 12:00
Atualizado em:28/08/2020 às 12:00
O dia 28 de agosto é dedicado à comemoração do Dia Nacional do Voluntariado. Você sabia que além da contribuição social, se dedicar ao trabalho voluntário pode tornar seu currículo mais atraente aos olhos dos recrutadores?
FOLHA DIRIGIDA conversou com especialistas que explicaram como o voluntariado pode agregar para a vida pessoal e profissional das pessoas. Confira dicas sobre como citar o trabalho voluntário no currículo e como essa prática pode ser um diferencial no mercado de trabalho.
Os benefícios de se dedicar a um trabalho voluntário são diversos. Quem opta por realizar esse tipo de trabalho tem a chance de aprender coisas novas, fazer novas amizades, criar uma rede de relacionamento e adquirir novas competências.
"Como há pouca ou nenhuma pressão, você tem a oportunidade de poder ser mais leve e natural e inclusive ir testando novas formas de fazer coisas antigas. Com isso, poderá agir de forma inovadora, exercitando também a curiosidade", destacou Alessandra Nogueira, professora do MBA de RH do IAG — Escola de Negócios da PUC-Rio.
Segundo a professora, essa também é uma boa maneira para o candidato identificar a forma que trabalha melhor: por projetos? Em equipes? Liderando ou sendo liderado?
"Outro benefício é ajudar a refinar suas habilidades. Você poderá exercitar seus pontos fortes, ou ainda ao identificar oportunidades de desenvolvimento, utilizar o trabalho voluntário para, justamente, ganhar novas habilidades e conhecimentos", ressaltou.
Para Pedro Rocha, coordenador pedagógico do Colégio Pensi, a prática do voluntariado entre estudantes traz diversos benefícios para a formação:
"Em um caminho da educação, onde habilidades emocionais e senso cidadão são super requeridos, o voluntariado soma muito para a formação e desenvolvimento desses outros saberes", disse.
Trabalho voluntário pode ser um diferencial no currículo
Entre os recrutadores, o trabalho voluntário é muito valorizado. "Demonstra que você tem um senso de gerar valor, de colaborar e de resiliência. De aprender coisas novas ou até mesmo de aprender a desaprender para ganhar novas perspectivas, competências valorizadas no novo mercado de trabalho", pontuou Alessandra.
Pedro Rocha concorda. O coordenador destacou que na elaboração de um currículo, por exemplo, a inserção de trabalhos voluntários serve como um incremento para a análise do recrutador. "As habilidades socioemocionais e de organização adquiridas no trabalhado voluntário, somam para a prática laboral."
Como indicar o trabalho voluntário no currículo?
Porém, uma dúvida recorrente entre os candidatos é, justamente, como indicar a realização de um trabalho voluntário no currículo. Os especialistas indicaram algumas estratégias.
Uma opção é apresentar declarações ou carta de recomendação emitidas pelas entidades para as quais contribuiu. Divulgar materiais que desenvolveu e matérias que tenham saído na mídia também podem ser uma alternativa.
Outra opção é usar as redes sociais como aliadas, fazendo registros dos aprendizados ou escrevendo artigos no LinkedIn. O candidato ainda pode inserir um apêndice no currículo falando sobre o voluntariado, e se possível, descrever brevemente como foi a experiência e quais soft skills foram desenvolvidas com a atividade.
Soft skills: termo em Inglês utilizado para se referir às competências sociais e emocionais de cada candidato.
O trabalho voluntário pode beneficiar profissionais de qualquer área
Quanto ao tipo de voluntariado, não existe no mercado trabalhos mais valorizados que outros. Segundo Alessandra Nogueira, o importante é o candidato gerar valor, transformar realidades e, sobretudo, aprender durante o processo.
Já Pedro Rocha ressaltou que, apesar de qualquer voluntariado enriquecer de alguma forma a pessoa que se predispõe a isso, pode ser interessante para o candidato buscar experiências correlatas à sua área de atuação.
"Para um acadêmico de Medicina, ser voluntário em uma instituição associada à saúde, tem grande peso para a realidade da futura profissão. Da mesma forma que um futuro gestor de projetos, terá um upgrade em seu currículo quando participa de forma voluntária na logística e organização de algum evento esportivo, por exemplo", explicou.
Profissionais de qualquer área podem se beneficiar com essa prática, a qualquer momento da carreira:
"O trabalho voluntário é uma grande oportunidade de adquirir conhecimentos, ganhar habilidades e desenvolver novas atitudes. Poderá ser uma ótima estratégia para quando está ainda no início da carreira ou então enquanto está buscando uma nova colocação", enfatizou Alessandra.
Matera desenvolve projetos sociais e de sustentabilidade voluntariamente
As empresas também podem contribuir para a prática do voluntariado, estimulando que seus colaboradores participem de ações sociais, que podem ser promovidas pela própria organização. Um exemplo é a Matera, empresa de desenvolvimento de tecnologia para o mercado financeiro, fintechs e gestão de riscos.
Há dez anos, a empresa desenvolve inciativas que visam a contribuir para o desenvolvimento social e sustentável da comunidade. Atualmente, a Matera conta com três projetos em andamento:
⇒ Projeto Educa+
Desde 2017, oferece aulas de Informática e Inglês para crianças de 5 e 6 anos. As aulas são ministradas em instituições de Campinas e Maringá, durante 1h, uma vez por semana, de acordo com o calendário escolar.
Os instrutores são profissionais da Matera. Como as aulas são realizadas em horário de expediente, a empresa disponibiliza um projeto para esses colaboradores apontarem as horas e também oferece o reembolso do valor do transporte até a instituição.
⇒ Matera Inclusiva
Esse projeto, implantado em 2018, tem como objetivo o treinamento profissional de jovens com deficiência intelectual e/ou síndrome de down. A ideia é que esses jovens possam se preparar melhor para o mercado de trabalho e assim conquistar oportunidades igualitárias.
No primeiro semestre da inciativa, a Matera desenhou o treinamento dos participantes de acordo com o perfil dos jovens e realizaram entrevistas, em parceria com a Fundação Síndrome de Down. A partir do segundo semestre, a empresa recebeu um jovem, que foi treinado em todas as áreas da empresa, sempre com o apoio de tutores.
O projeto não é remunerado, mas a empresa oferece transporte fretado e vale refeição aos participantes.
⇒ Adoção Afetiva
O programa é uma parceria com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, e teve início em 2019. A Matera adotou a escola estadual EE. Profº. Luiz Gonzaga Horta Lisboa, onde realiza melhorias na infraestrutura e, principalmente, na parte educacional. Para isso, são promovidas iniciativas com os professores, gestores e alunos.
A primeira ação foi a construção de um Team Building com os professores e gestores, onde o time de agilistas da Matera realizou diversas atividades durante um dia inteiro. Após esse encontro, já foram realizados mais dois workshops.
A Matera também doou mais de 600 livros para a escola no mês do voluntariado do ano passado e promoveu uma peça teatral a partir do direcionamento do Imposto de Renda pela Lei de Incentivo à Cultura. Agora, a empresa apoia a reforma da biblioteca da escola, em parceria com a HM.Clause.
Empresa aposta na construção de legados
De acordo com Denise Castilho, gerente administrativa e de sustentabilidade corporativa da Matera, o mais importante em investir em ações sociais e de sustentabilidade é a construção de legados.
"No início, o nosso foco era apenas filantrópico, que atendia pontualmente a necessidade do momento, mas percebemos que era preciso evoluir e pensar no investimento social privado, seja com o direcionamento do aporte do imposto de renda, na implantação de um projeto de educação ou no treinamento profissional de pessoas com deficiência intelectual e/ou síndrome de down. Ainda atendemos as ações sociais de assistencialismo, porém, o nosso objetivo é deixar algo de valor nas gerações de agora e do futuro."
Denise acredita que o exemplo da Matera pode inspirar outras instituições a aderirem a projetos como os elaborados por eles. A gerente administrativa ainda destacou que com a pandemia as pessoas e as empresas estão mais solidárias e que a expectativa é que, após esse período, sejam percebidos mais investimentos em projetos sociais.
"A pandemia evidenciou ainda mais a realidade do país, isso é fato. Além de uma questão sanitária muito séria, economicamente muitas pessoas foram afetadas, inclusive as famílias atendidas nas instituições parceiras. A Matera se mobilizou doando cestas básicas e contribuindo também com o Movimento Mobiliza Campinas, realizado pela Fundação FEAC", relatou Denise.
Todas essas iniciativas conduzidas pela Matera conta com a colaboração dos funcionários da empresa. Diante disso, alguns benefícios puderam ser percebidos entre os colaboradores que participam dos projetos.
"Cada iniciativa nos transforma, nos renova e certamente nos conecta com os valores da empresa e nossos valores pessoais de ajuda ao próximo, de construir história, de voluntariado. Quanto significado tudo isso tem! Percebemos mais empatia nos profissionais e mais protagonismo, seja nessas iniciativas ou em outras da empresa como um todo, pois as práticas laborais também são transformadas."
Como o trabalho voluntário pode transformar a vida das pessoas?
Há 20 anos, a dentista Susana Rossi oferece atendimento odontológico voluntário às crianças da Casa Menino Jesus de Praga, instituição vinculada à ONG Parceiros Voluntários. A casa acolhe crianças e adolescentes com lesão cerebral grave, comprometimento motor permanente e em situação de vulnerabilidade social.
Suzana conta que inicialmente não tinha certeza se conseguiria dar conta da jornada, porque não tinha experiência. Porém, quando conheceu as crianças, compreendeu que todo o esforço valeria à pena.
"O que eu mais recebi nesse tempo foram lições de vida. Cada vez que saía de lá era com um aprendizado. Por exemplo, conversava com as crianças e,apesar delas não responderem, elas gostam de nos ouvir. Elas interagem. Podemos não entendê-los, mas eles nos entendem. E saber que os toquei de uma forma especial é algo muito lindo."
Outro exemplo é o de Antônio Schenatto, que atua há quatro anos como voluntário em instituições de Porto Alegre e hoje é membro do Projeto Ouvir, da Parceiros Voluntários. A ação tem como objetivo mobilizar voluntários a ouvir, por telefone, idosos em distanciamento social.
O jovem de 17 anos conta que o incentivo veio de sua escola, Colégio Leonardo da Vinci Alfa e Beta, que desde o oitavo ano apresenta e estimula o voluntariado aos seus alunos.
"Hoje, eu participo, normalmente, em ações que envolvem um grupo, geralmente de alunos. E isso pode até não mudar o mundo, mas melhora e muito o dia de alguma pessoa. Isso proporciona um ganho muito grande para quem faz voluntário. Esse é um impacto que aprecio: ajudar a melhorar o dia, a semana, o mês de alguém. No processo, você também transformado."
Segundo Daniel Santoro, presidente do Conselho de Administração da ONG Parceiros Voluntários, o voluntariado é um tecido social que beneficia a todos. "Não apenas um sentimento, mas fazer algo de verdade pelo outro. E isso é essencial para pensarmos como nos desenvolvemos como sociedade, como organismo vivo", declarou.