43% dos universitários negros não falam Inglês, diz pesquisa

Levantamento mostra nível de inglês, Excel e geolocalização dos candidatos às vagas de estágio

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Publicado em:11/06/2020 às 11:30
Atualizado em:11/06/2020 às 11:30

Uma pesquisa interna da Companhia de Estágios, a consultoria especializada em programas de estágio e trainee mais bem avaliada entre estudantes, 43% dos candidatos negros dessas vagas não possuem qualquer conhecimento em Inglês. Entre os alunos mestiços (pardos), esse número representa 66%.

Quase o mesmo cenário se repete quando o assunto é nível de conhecimento em Excel. Apenas 44% dos universitários negros declararam no momento em que fizeram inscrições no site da Cia de Estágios que não conhecem a ferramenta, entre os mestiços (pardos), esse número equivale a 66%.

O objetivo da empresa ao realizar o levantamento é ter dados para embasar a inclusão de mais diversidade racial nas empresas que anunciam vagas no seu site. Além do nível de Excel e Inglês dos inscritos, o estudo também avaliou dados sobre região onde os estudantes estão localizados.

A pesquisa foi realizada com base em dados internos da Cia de Estágio, ou seja, dos estudantes com cadastro na plataforma, para entender quem são os universitários negros e pardos que se candidatam às vagas de estágio anunciadas. 

Cia de Estágio quer fomentar diversidade racial nas empresas

Para o diretor da Cia de Estágios, Tiago Mavichian, o mapeamento é importante para entender a realidade desse grupo ao redor do Brasil, que compõe a maior parte da população, e pensar em maneiras de incluí-los mais e melhor no mercado de trabalho. 

“Entendemos a necessidade de trabalhar mais a diversidade no ambiente corporativo, por isso achamos necessário fazer esse levantamento, porque a partir do momento que conseguimos saber quem são os negros e pardos que se candidatam às vagas, podemos, juntamente com os clientes que atendemos, buscar meios para tornar os processos de recrutamento e seleção mais inclusivos.”

A maior parte das empresas, principalmente as de grande porte, costumam exigir nas vagas de estágio esses tipos de conhecimento. Em muitos casos o Excel e, pelo menos, o nível intermediário em Inglês é obrigatório. 

Mas, como destaca a Cia de Estágios, mesmo que tenha se tornado comum esse tipo de exigência, ainda é difícil encontrar alguém que atenda o perfil desejado. E o problema agrava ainda mais quando se trata da população negra e parda, que historicamente e de forma geral está mais distante dos recursos para ter acesso a esses aprendizados.

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Estagiário
Cia de Estágios quer promover a diversidade racial nas empresas
(Foto: Reprodução/ Pixabay)

 

Empresas estão tentando reverter esse quadro?

Segundo Mavichian, esse não é um movimento apenas da Companhia de Estágios. Ele afirma que os clientes que a empresa atende também compreendem a importância de pensar em políticas de diversidades no mercado de trabalho

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E o diretor também entende que as companhias devem se comprometer com essa pauta, uma vez que possuem poder de mudança significativo para promover essa transformação. 

Um exemplo destacado pela plataforma de estágios é a Corteva Agriscience, multinacional do setor agrícola que fez um processo seletivo por meio da Cia de Estágios com foco em diversidade.

Para conseguir abranger mais pessoas e tornar o processo seletivo mais inclusivo, a empresa não exigiu fluência em Inglês para parte dos candidatos. O diretor da Companhia destacou que o principal objetivo é tornar a seleção menos excludente.

“Esse tipo de iniciativa é necessário, porque o estágio é a porta de entrada para muitas pessoas no mercado de trabalho e quando inclui fluência no idioma o processo acaba sendo excludente com vários candidatos com potencial para a vaga. E o nosso objetivo não é esse, mas, sim,  poder dar oportunidade e contribuir com o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes."

Projeto Pretos no Enem também promove diversidade racial nas provas

Também com vistas à promoção da diversidade racial, a iniciativa Pretos no Enem foi criada com o objetivo de auxiliar pessoas pretas no primeiro passo para o acesso ao ensino superior.

Ação, criada por podcasters cearenses, atraiu apoiadores em vários outros estados do Brasil. O Pretos no Enem pagou as taxas de inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio de pessoas negras em situação de vulnerabilidade socioeconômica que não conseguiram quitar o valor, nem pedir isenção.

Até a última segunda-feira, 6, o mais de 20 mil voluntários já tinham se disponibilizado a pagar inscrições. Os pedidos de pagamento foram encerrados na tarde dessa terça, 10. Até semana passada, mais de 300 mil candidatos ainda não haviam efetuado o pagamento.

Um dos organizadores da ação, Luan Alencar, falou sobre o processo, que visa ser simples e fácil para todos: 

“O único critério é a confiança mútua. Se você se identifica como uma pessoa negra e não conseguiu pagar sua inscrição do Enem, basta entrar em contato com a gente e o pagamento será feito de acordo com a quantidade de voluntários que forem chegando. Não há transferência de dinheiro, taxa ou qualquer movimentação financeira. O que existe é a emissão do boleto de inscrição. Checamos a autenticidade e o pagamos.”