Como a atual situação financeira do Rio afeta os concursos públicos?

Especialistas analisaram como uma possível saída do Regime de Recuperação Fiscal impactaria em concursos no Rio de Janeiro.

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Publicado em:25/09/2019 às 09:02
Atualizado em:25/09/2019 às 09:02

A lei especifica que está proibida a realização de concursos públicos na Administração Estadual. Porém, há exceções em casos de:

  • Substituição de cargos de chefia e de direção que não acarretem aumento de despesas;
  • Vagas decorrentes de vacâncias de cargos efetivos ou vitalícios de carreiras típicas do Estado.

“A lei não vem para exterminar os concursos públicos, mas sim colocar um freio nos gastos desnecessários, ou seja, os cargos públicos necessários continuarão tendo seus concursos independentemente da lei”, destacou o educador financeiro Carlos Virtuoso.

Vale ressaltar que são consideradas carreiras típicas de estado as atividades de:

  • Fiscalização Agropecuária;
  • Tributária e de Relação de Trabalho;
  • Arrecadação;
  • Finanças e Controle;
  • Gestão Pública;
  • Comércio Exterior;
  • Segurança Pública;
  • Diplomacia;
  • Advocacia Pública;
  • Defensoria Pública;
  • Regulação;
  • Política Monetária;
  • Inteligência de Estado;
  • Planejamento e Orçamento Federal; Magistratura;
  • Ministério Público.

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Carlos Virtuoso, que também é presidente do Instituto de Fomento à Educação Financeira (IFEF), disse que o regime não prejudica a realização de concursos públicos, mas a saída, sim.

“Embora as despesas tenham ficado R$ 4,1 bilhões abaixo do esperado, o governo do Rio teve um gasto com pessoal e encargos de R$ 1,1 bilhão acima do combinado. Dessa forma, até os cargos em vacância podem sofrer, impactando diretamente nas novas contratações uma vez que o gasto com pessoal já está muito alto”, detalhou.

Já o advogado Luis Claudio, do escritório Ferreira da Costa Advogados, lembrou que nenhum órgão pode deixar de disponibilizar serviços básicos de funcionamento, sob pena de colapso generalizado. Para o advogado, é possível que sejam realizados concursos para órgãos onde a necessidade é alta, como no caso da Secretaria de Fazenda. 

“É possível, através de uma readequação das medidas impostas pelo Regime de Recuperação fiscal”, disse.

Carlos Virtuoso concorda: “o estado está em alerta vermelho e precisa fazer contenção de gastos para novas contratações, ou seja, para a realização de novos concursos públicos. A situação é difícil, mas não impossível e depende de um ajuste do governo.”

Regime de Recuperação Fiscal tem prazo de vigência até 2020

O Regime de Recuperação Fiscal permanecerá vigente até setembro de 2020, podendo ser prorrogado por mais três anos. Ou seja, até setembro de 2023.

Se o Rio for retirado antes do prazo do Regime de Recuperação Fiscal, não só o setor de concursos sofrerá com as consequências, como toda a máquina estatal. Conforme explicou Luis Claudio, o estado terá que devolver ao Tesouro o que deixou de pagar enquanto estava no regime. 

“O pagamento das parcelas das dívidas do Rio, hoje suspenso, seria retomado de forma imediata e nas condições contratuais originais. Neste caso, todo o passivo seria recalculado e, sobre o valor, haveria, ainda, incidência de encargos financeiros. Tal situação acarretaria em prejuízos de ordem financeira, econômica e por consequência, nas atividades essenciais do estado.”

Em nota, o Sinfrerj comentou a fala do governador Wilson Witzel, que afirmou que o estado não será excluído do Regime de Recuperação Fiscal, mesmo estando fora dos padrões exigidos pelo Conselho de Supervisão do regime. Para o Sindicato dos Fazendários do Estado do Rio de Janeiro, tal possibilidade ameaça o pagamento dos servidores.

“Se a União romper o acordo, o governo fluminense já terá que pagar R$ 30,8 bilhões ao Tesouro Nacional no mês seguinte a sua saída. O que representa uma clara ameaça ao pagamento do funcionalismo, pois o valor excede a folha salarial (bruta) de um ano, que é de R$ 28,6 bilhões”, publicou o sindicato.

O valor de R$30,8 bilhões é referente ao que o Rio deixou de pagar ao Tesouro Nacional desde 2017. Já o valor total da dívida chega a R$118 bilhões. O total deverá ser pago à União em parcelas, a partir de setembro de 2020 até 2049.

Witzel pretende judicializar questões que envolvem o assunto e recorrer ao Supremo Tribunal Federal caso não tenha sua proposta aceita. A medida está de acordo com o que disse o governador na abertura do Fórum Nacional, realizada na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no último dia 19.

O evento reuniu especialistas para debater a situação fiscal e desafios de crescimento nos estados e no país. De acordo com uma publicação no site do Governo do Estado, Witzel defendeu uma maior flexibilização nas regras do Regime de Recuperação Fiscal para que o governo possa efetuar ações e retomar investimentos em áreas importantes.

"Temos ajustes sim a fazer, mas acredito que a recuperação fiscal foi pensada em um modelo com algumas obrigações que não são factíveis. Além disso, ela “amarra” o Rio de Janeiro em investimentos, já que impede ajustes direcionais", disse.

Especialista acredita na permanência do Rio no regime

Ainda de acordo com a nota publicada pelo Sinfrerj, Witzel já encaminhou ao ministro da Economia, Paulo Guedes, uma proposta de revisão do Plano de Recuperação Fiscal. A proposta foi entregue em junho deste ano.

Segundo o governador, o acordo assinado na gestão de Luís Fernando Pezão apresenta um plano com metas e obrigações pouco viáveis. 

Para Carlos Virtuoso, as chances de apresentação de uma proposta ao Conselho de Supervisão do Regime de Recuperação Fiscal satisfatória para a permanência do Rio de Janeiro no programa, são favoráveis. 

“Através de um estudo e planejamento, é possível a elaboração de um plano estratégico para que o Estado possa apresentar respostas satisfatórias. Tudo depende de vontade política, corte de custos, além de eficiência e eficácia em gestão do Estado.”