Como será o mercado de trabalho na Quarta Revolução Industrial?

Max Damas explica como a tecnologia irá interferir cada vez mais nas relações de trabalho.

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Publicado em:03/10/2020 às 09:00
Atualizado em:03/10/2020 às 09:00

Por Max Damas*

Você já pensou como será o mercado de trabalho na Quarta Revolução Industrial? Vivemos até a primeira década do século XXI o que se denominou como Terceira Revolução Industrial. Essa revolução iniciou-se na metade do século XX, tendo como principal característica a massificação dos meios de produção pela automatização dos processos industriais, principalmente com o uso dos computadores digitais. 

Essa digitalização tomou uma linha crescente no meio dos anos 1990, culminando na Quarta Revolução Industrial a partir dos anos 2010. Essa revolução que estamos vivendo parte de uma combinação imprevisível e crescente que envolve pessoas, processos e tecnologias digitais que interagem na internet e nos inúmeros aplicativos e plataformas digitais. 

Cada interação produz um conjunto extenso de informações que são analisadas, processadas e trabalhadas por ferramentas de análise de dados e de inteligência artificial. Como resultados desse processamento, temos o surgimento recorrente de novas possibilidades na produção de serviços e bens de consumo, o que traz como consequência inevitável uma outra revolução: no mercado de trabalho e nas profissões. 

Como a sociedade e o trabalho serão reorganizados?

É natural que nesse contexto surjam inúmeras dúvidas. Uma delas é se a maior parte das profissões, num futuro próximo, estará relacionada a treinar máquinas para executar processos. A história humana mostra que sempre que ocorreram revoluções tecnológicas:

  • os seres humanos se reinventam;
  • a sociedade se reinventa;
  • os meios de produção e consumo se reinventam.

Dentro dessa perspectiva, é possível imaginarmos a seguinte divisão de atividades do trabalho:

  • aquelas realizadas somente por máquinas;
  • as realizadas pela interação inteligente e colaborativa entre homens e máquinas; 
  • as realizadas por homens interagindo entre si.

Não é possível prever como serão essas atividades e qual será a proporção dessa divisão. Tal imprevisibilidade é natural e já passamos por outras situações semelhantes, sempre que uma revolução tecnológica ocorre. Vivemos, em geral, com um pé no presente e outro no passado, e as revoluções não permitem prever o futuro.

Pensamento Industrial x pensamento Digital

A educação formal e não formal serão cada vez mais importantes. As empresas e os seus processos estarão em permanente mudança (alta volatilidade), o que é uma característica forte da Quarta Revolução Industrial e acelerada exponencialmente pelas tecnologias digitais. 

Sob essa perspectiva, tanto a Educação quanto os estudantes precisarão fazer uma mudança forte, saindo do pensamento estritamente Industrial para o pensamento Digital. Algumas características opostas de cada pensamento são:

  • Massificação x Personalização;
  • Segmentação x Conexão;
  • Linearidade x Imprevisibilidade;
  • Ensinar para x Aprender com.

As habilidades 4 Cs

O que precisamos compreender, e que pode parecer contraditório, é que quanto maior o uso das tecnologias digitais, mais espaço sobrará para exercermos habilidades essencialmente humanas, tais como: 

  • criatividade;
  • comunicação; 
  • colaboração; e 
  • pensamento crítico (critical thinking). 

Essas habilidades são conhecidas como os 4 Cs e são elas que garantirão que continuemos relevantes na sociedade, tanto como produtores de conhecimento, bens e serviços, bem como consumidores dos mesmos. Serão essas características que diferenciarão o ser humano das máquinas e dos seus algoritmos de inteligência artificial.

O estudo dos conceitos, técnicas e procedimentos continuarão importantes para qualquer profissão que já exista ou venha a existir na Quarta Revolução Industrial. No entanto, cada vez mais essas informações e execuções estarão associadas aos dispositivos digitais, cabendo aos seres humanos exercerem a sua inteligência, ou seja, a habilidade de resolver problemas e vencer desafios, a partir do seu repertório interno de experiências, memórias e sentimentos.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Folha Dirigida.

 


Sobre o autor

Max Damas é Pró-reitor Acadêmico do Centro Universitário UniCarioca. Engenheiro de Computação, Mestre em Engenharia de Sistemas e Doutor em Engenharia de Produção. Assessor da Presidência da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES). Avaliador do MEC/INEP. Autor, palestrante e especialista em Educação, Tecnologia e Inovação.