Por outro lado, o órgão revela ainda que, no Brasil, apenas 3% de mulheres ocupam cargos de liderança nas empresas. Ainda em contraste com o baixo aproveitamento da força de trabalho feminino, mulheres representam 60% dos estudantes universitários que concluem o ensino superior no país atualmente.
O relatório "Mulheres em Conselhos de Administração", editado pela Morgan Stanley Capital International (MSCI) em 2019 e o documento "Retratos de Mulheres em Liderança", compilado pela Corporação Financeira Internacional (IFC, na sigla em inglês) com parceiros, também apontam que mulheres ocupam apenas 15% dos cargos em conselhos de administração das empresas; na América Latina, essa porcentagem é de 7%.
São apenas 4% dos cargos de CEO e presidente de conselhos ocupados por mulheres em todo o mundo. Mas por que isso ainda acontece?
Não há uma resposta única e simples para a pergunta. Entre as razões para a disparidade encontram-se preconceitos diversos, estereótipos de gênero e normas culturais. Há ainda a falta de políticas de local de trabalho favoráveis à família. Em muitos casos, não há também a disponibilidade e acesso a programas de mentoria, network adequado, treinamento e, principalmente, compromisso mínimo com a mudança da liderança nas empresas.

Nota-se uma gradual mudança cultural no âmbito corporativo que vem validando a tese de maior inteligência coletiva que se obtém a partir da diversidade de gênero. Empresas que querem atrair talento estão oferecendo flexibilidade de horas, treinamentos e políticas mais transparentes de promoção, crescimento e de combate ao assédio sexual.
E a tecnologia também deverá ajudar nesse avanço. Um exemplo são algoritmos usados em programas de inteligência artificial, que poderão contribuir na identificação de preconceitos de gênero nos casos de contratações e promoções. Apesar dos resultados e impactos dessa tecnologia ainda serem controversos, ela se apresenta como uma ferramenta adicional nas tomadas de decisões.
Com a recente pandemia, também foi possível notar que diferentes tecnologias estão tornando possível o home office ou trabalho de casa. Essa nova tendência deverá ajudar muitas mulheres que necessitam de maior flexibilidade para conciliar família e carreira.
As mulheres da minha geração e das próximas estão determinadas a mudar essas estatísticas. Elas estão menos intimidadas, mais conscientes das suas capacidades, objetivos profissionais e entendendo que é possível equilibrar a vida pessoal e profissional.
Essa maior determinação associada com políticas corporativas mais flexíveis, transparentes e associadas à tecnologia será um grande trampolim para o aumento do número de mulheres em cargos de liderança na próxima década. Afinal, talento não tem gênero.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Folha Dirigida.

Sobre a autora
Carla Ricchetti é Official de Investimentos da International Finance Corporation (IFC) – braço do Banco Mundial que investe no setor privado. Tem mais de 15 anos de experiência no mercado, tendo sido responsável pela movimentação de cerca de US$ 5 bilhões em investimentos em diversos setores como: energia renovável, edifícios verdes e tecnologias limpas em mercados emergentes.