Como o fim do auxílio emergencial vai impactar na economia brasileira?
À Folha+, o economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), falou sobre os impactos econômicos do término do auxílio emergencial.
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Publicado em:24/12/2020 às 11:00
Atualizado em:24/12/2020 às 11:00
Após nove parcelas - cinco de R$600 e quatro de R$300 -, o auxílio emergencial chega ao fim neste mês. O benefício destinado aos informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados chegou às mãos de 67,9 milhões de brasileiros, segundo a Caixa Econômica Federal (CEF).
Até o dia 12 de dezembro, quando se encerrou o penúltimo ciclo de pagamentos, foram destinados mais de R$275 bilhões aos beneficiários. Durante esse período, o programa de distribuição de renda teve papel fundamental para conter os danos econômicos causados pela pandemia.
Além de ajudar a conter a extrema pobreza em regiões vulneráveis, o auxílio impulsionou o aumento no consumo das famílias, que é responsável, atualmente, por dois terços do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo Mauro Rochlin, economista e professor da Fundação Getulio Vargas, o término do benefício vai desacelerar a recuperação econômica do Brasil. "O impacto [do fim do auxílio] vai ser uma queda maior do consumo", frisa.
Com a redução de valor do auxílio emergencial e a inflação dos alimentos, os supermercados tiveram desaceleração no ritmo de vendas, segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC).
"Não havendo o auxílio emergencial, o consumo deve cair ainda", afirma o economista. Ele chama atenção para uma redução no ritmo de recuperação que terá efeitos ruins para o mercado de trabalho, o PIB e outros indicadores.
Como será 2021 sem o auxílio emergencial?
Previsto inicialmente para ter três parcelas de R$600, o auxílio emergencial ganhou mais duas parcelas no mesmo valor, além de uma extensão de quatro pagamentos de R$300, que se encerra em 31 de dezembro.
A ideia do Governo Federal era terminar o benefício e fazer uma transição para um novo programa de renda. Entre as discussões, surgiu o Renda Brasil, que seria um substituto do Bolsa Família, programa criado no governo petista.
No entanto, o Renda Brasil esbarrou em questões de financiamento. Após alguns entraves com a equipe econômica, o presidente Jair Bolsonaro desistiu do novo programa e sinalizou o interesse em aumentar o valor do Bolsa Família.
Atualmente, o benefício é de R$41 e pode chegar a R$205, de acordo com critérios do programa. Entretanto, ainda não foi confirmado um aumento no valor nem no número de beneficiários.
O cenário para 2021 não é muito animador. O número de casos de Covid-19 está aumentando e o país ainda não possui um plano de vacinação. Em relação ao mercado de trabalho, o Brasil já registra 14 milhões de desempregados.
Sem o auxílio, o economista Mauro Rochlin explica que alguns setores - que já estavam sofrendo com a pandemia - serão ainda mais afetados, principalmente empresas do setor de serviços, como bares, restaurantes e hotéis.
"A falta do auxílio emergencial vai impactar setores que vinham até se recuperando muito rapidamente, como é o caso, por exemplo, de materiais de construção e bens de consumo durável", afirma.
Seria possível uma nova extensão do auxílio?
Bolsonaro já negou a possibilidade de uma nova extensão do benefício. "Auxílio é emergencial, o próprio nome diz: é emergencial. Não podemos ficar sinalizando em prorrogar e prorrogar e prorrogar", disse o presidente.
Para Rochlin, "a continuidade do auxílio e também da medida provisória 936 (sobre os acordos de redução de carga horária e salários) implica em um gasto fiscal muito grande, com efeitos óbvios sobre endividamento, confiança de investidores e a inflação."
"Por outro lado, não continuar o auxílio significa queda de consumo, dificuldade para alguns setores econômicos, retração do mercado de trabalho. Então, é difícil dizer qual é o resultado final dessa conta", completa.
A solução, segundo o economista, é continuar com o pagamento do benefício e com a MP 936, porém com maior foco. Ele conta que não dá para manter mais de 67 milhões de beneficiários, além das inúmeras empresas que aderiram aos acordos.
"No início da pandemia, o governo deu um tiro de canhão para atender todo mundo, no sentido de tentar atingir o mais número possível de pessoas e empresas". Por isso, o especialista afirma que é difícil seguir com os programas nos moldes atuais.
Para fazer essa filtragem, é necessário, segundo ele, saber quais são os segmentos mais vulneráveis da população e, dessa forma, definir quem realmente precisa continuar recebendo o auxílio emergencial. "Tem que ser um número muito menor, e o mesmo se aplica no caso das empresas", complementa.