Guedes se desculpa por comparar servidores públicos a 'parasitas'

O ministro da Economia, Paulo Guedes, se desculpou publicamente nesta segunda-feira, 10, por comparar servidores públicos a 'parasitas'

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Publicado em:10/02/2020 às 12:05
Atualizado em:10/02/2020 às 12:05

O ministro da Economia, Paulo Guedes, se retratou nesta segunda-feira, 10, após comparar servidores públicos a "parasitas". Ele pediu desculpas por ter se expressado mal e afirmou que sua declaração foi tirada do contexto pela imprensa.

"Eu me expressei muito mal, e peço desculpas não só a meus queridos familiares e amigos, mas a todos os exemplares funcionários públicos a quem descuidadamente eu possa ter ofendido", declarou o ministro em mensagem de Whatsapp enviada a amigos e jornalistas, de acordo com o portal G1.

Guedes disse ainda que "não queria jamais ofender pessoas simples que cumprem seus deveres". Na última sexta, 7, ao defender a Reforma Administrativa durante palestra na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, o ministro fez a analogia de um funcionário público a um parasita

“O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação. Tem estabilidade de emprego, tem aposentadoria generosa, tem tudo. O hospedeiro está morrendo, e o cara virou um parasita. O dinheiro não chega ao povo, e ele quer aumento automático. Não dá mais”, argumentou na palestra.

A declaração causou repercussão entre o funcionalismo e a sociedade de modo geral. Por sua vez, o presidente do Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, publicou um vídeo defendendo o servidor e disparou:

“Temos sim parasitas na Administração Pública. São os operadores de mercado que vêm ganhar dinheiro com o Estado”. Já a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco) pontuou que o assédio institucional que vem sendo praticado por Guedes já ultrapassa os limites legais e merece reação à altura.

Paulo Guedes pede desculpas ao comparar servidores públicos a
'parasitas' (Foto: Jose Cruz/ Agência Brasil)

 

Para deputados e senadores, a frase do ministro pode prejudicar o trâmite da Reforma Administrativa no Congresso Nacional. O texto deve propor mudanças estruturais no serviço público no que tange a estabilidade, benefícios e progressões de carreira.

Diante disso, em seu pedido de desculpas, o ministro Guedes explicou que se referiu a "estados e municípios em casos extremos. Quando toda a receita vai para salários e nada para saúde, educação e segurança. Se o Estado existe para si próprio, então é como um parasita".

"Eu não falava de pessoas, e sim do risco de termos um Estado parasitário. Aparelhado politicamente. Financeiramente inviável. O erro é sistêmico, e não é culpa das pessoas que cumprem os seus deveres profissionais, como é o caso da enorme maioria dos servidores públicos", declarou na mensagem.

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Ministério da Economia já tinha se retratado sobre o caso

Após a má repercussão do discurso de Paulo Guedes, o Ministério da Economia publicou na sexta-feira, 7 de fevereiro, uma nota de esclarecimento. Confira na íntegra abaixo:

“O Ministério da Economia esclarece que, após reconhecer a elevada qualidade do quadro de servidores, o ministro Paulo Guedes, analisou situações específicas de estados e municípios que têm o orçamento comprometido com a folha de pagamento. Durante evento no Rio de Janeiro, ele falou sobre entes da Federação que estão com despesas acima do limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Nessa situação extrema, não sobram recursos para gastos essenciais em áreas fundamentais como saúde, educação e saneamento.

O ministro argumentou que o país não pode mais continuar com políticas antigas de reajustes sistemáticos. Isso faz com que os recursos dos pagadores de impostos sejam usados para manter a máquina pública em vez de servir à população: o principal motivo da existência do serviço público. O ministro defendeu uma reforma administrativa que corrija distorções sem tirar direitos constitucionais dos atuais servidores.

O ministro lamenta profundamente que sua fala tenha sido retirada de contexto pela imprensa, desviando o foco do que é realmente importante no momento: transformar o Estado brasileiro para prestar melhores serviços ao cidadão”.

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Concursos só após a Reforma Administrativa, diz secretário

O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, acredita que novos concursos públicos só sejam abertos após a aprovação da Reforma Administrativa. O texto que propõe as mudanças no serviço público está previsto para ser encaminhado ao Congresso Nacional ainda esta semana.

Em entrevista ao jornal O Dia, o secretário reforçou a ideia de condicionar novas contratações apenas depois da implementação da reforma. 

"Seria o ideal esperar, porque se começa a retomar os concursos públicos antes de fazer a Reforma Administrativa, o pessoal que vai ingressar pelas regras atuais”, revelou.

Mansueto Almeida reconheceu a necessidade de novos concursos públicos para reposição de servidores. Porém, para ele, as remunerações de entrada no funcionalismo são elevadas e alguns profissionais chegam ao topo da carreira em pouco tempo.

De acordo com o presidente Jair Bolsonaro, a Reforma Administrativa está na iminência de ser enviada ao Congresso Nacional. Uma das alterações propostas é que os aprovados em concursos sejam submetidos a uma avaliação de desempenho pela população para ter a estabilidade. 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, também já anunciou que os novos funcionários públicos terão que passar por “filtros de meritocracia” para atingirem o direito garantido atualmente pela Constituição.

Por exemplo, os policiais federais terão que trabalhar de três a quatro anos para atingir esse direito constitucional. Já para os profissionais da área administrativa, esse período poderá ser prorrogado de dez a 15 anos.

A reforma também propõe a redução de carreiras e a progressão salarial. As medidas não serão válidas para os atuais servidores e devem influenciar apenas os futuros funcionários públicos.