Durante muito tempo ouvi a frase: 'Lugar de mulher é onde ela quiser'. Embora essa afirmação fizesse total sentido para mim, eu sempre me perguntava: Será que, na prática, é assim mesmo?
Lugar de mulher é onde ela quiser. Será?
Delegada da PC SP fala sobre dificuldades da mulher no mercado de trabalho e benefícios da carreira pública.
Trabalhei em um banco por aproximadamente 10 anos. Fui estagiária, assistente, advogada júnior e advogada plena. Durante esses anos, tive alguns chefes. Alguns já estavam na instituição quando ingressei, outros chegaram depois. Alguns até tinham o mesmo tempo de formação, mas provavelmente menos experiência. No entanto, eles eram meus chefes.
Cheguei a questionar algumas vezes: por que eu não ocupava esse tal cargo de chefia? Aliás, na prática, eu sempre ocupei, mas no papel e no salário, nunca. Após alguns bons anos trabalhando na iniciativa privada e percebendo que não chegaria aonde eu desejava, resolvi me lançar em uma carreira solo.
E, foi nesse voo solo, que descobri que lugar da mulher é onde ela quiser, principalmente quando ela sai desse ciclo ainda mantido por muitas instituições predominantemente machistas (que tem sido cada vez menos aceito), de promoções de homens em detrimento de mulheres, não por competência ou experiência, mas pelo costume de se manter homens no poder.
E, assim, percebi que as mulheres podem alçar voos altos, sem serem limitadas por uma sociedade historicamente dominada por homens. Principalmente se escolherem empresas que priorizam a igualdade de oportunidades ou se decidirem empreender ou prestar concurso público. E quando eu digo concurso público, pode ser qualquer carreira.
Inclusive a minha carreira, de liderança em uma instituição policial, onde a presença feminina ainda é minoritária. No setor público, as mulheres concursadas têm as mesmas oportunidades (salariais e de promoção) e desfrutam de todos os seus direitos (licença maternidade, acompanhamento dos filhos em consultas médicas etc.), sem o risco de demissão.
Aliás, eu vivi na prática a paz de poder gozar da licença-maternidade sem o temor de uma posterior demissão, a possibilidade de emendar essa licença com férias e outras licenças pendentes, bem como, a tranquilidade de retornar ao meu local de trabalho com a minha equipe, tendo respeitados os meus direitos de exercer uma maternidade presente, sem precisar desistir da minha carreira, independentemente da empatia e compreensão de chefes e superiores hierárquicos.
Hoje, como delegada concursada, posso afirmar que acredito e me identifico com a frase: 'Lugar de mulher é onde ela quiser'. E, pensando nessa frase, resolvi criar essa coluna para compartilharmos os desafios e realizações da mulher concursada, que consegue viver todos os seus papéis, com equilíbrio, mesmo numa sociedade ainda tão machista.