Não é de hoje que mulheres travam uma batalha em busca de igualdade e respeito dentro do ambiente de trabalho. Salários desiguais, jornadas duplas (e, às vezes triplas) e a falta de oportunidades para ocupar cargos de liderança são algumas das dificuldades que elas precisam enfrentar dia a dia.
Além disso, muitas mulheres ainda vivenciam situações de assédio dentro desse ambiente. “Infelizmente, ouvir frases machistas e viver situações nas quais somos diminuídas é quase rotina para nós mulheres”, conta Livia Rigueiral, CEO do Homer, uma proptech que oferece soluções tecnológicas aos corretores de imóveis.
Quando assumiu o cargo e começou a frequentar compromissos de negócios, ela observou que ainda existia uma diferença de tratamento com ela. “Os participantes dessas reuniões não me dirigiam a palavra e sequer olhavam para mim enquanto eu expunha minhas ideias.”
Para fazer um experimento e descobrir a causa desse tratamento desigual, ela passou a levar o seu sócio, que é homem, nas reuniões, e logo notou a diferenciação. “Ele era ouvido atentamente pelos participantes das reuniões, enquanto eu seguia praticamente invisível aos olhos deles.”
“Hoje, conquistei meu espaço neste mercado e sou reconhecida pelo que faço, e não gostaria de ver outras mulheres passando por isso que já passei um dia.”
Em sua vida profissional, Livia conseguiu inovar e levar tecnologia ao mercado imobiliário, que é área extremamente tradicional, e, segundo a CEO, esse foi um grande desafio. Em concomitância, ela ainda tinha que se manter forte e romper todas as barreiras que o machismo colocava no caminho dela.
A CEO conta que o mercado imobiliário atua em momentos de grandes mudanças na vida das mulheres, como uma promoção no trabalho, um casamento ou até mesmo o nascimento de um filho - que são momentos em que eles decidem comprar um imóvel próprio.
“A tomada de decisão quando o assunto é compra de imóveis sempre envolve elas, então por que não dar destaque às corretoras, que conseguem enxergar pela ótica das potenciais compradoras e, consequentemente, ter mais chances de efetuar vendas?”, questiona.
A executiva disse acreditar que homens e mulheres têm cada um sua forma de enxergar o mundo, e poder unir essas opiniões diferentes é necessário. Por isso, ela reforça que se não há presença feminina no mercado, se perde essas ideias que poderiam agregar. “A diversidade anda de mãos dadas com a inovação.”
No Homer, apesar de não haver um programa específico de diversidade de gênero, todas as ações, segundo ela, são embasadas na igualdade. “Como contamos com duas C-Levels, uma delas sou eu, promovemos isso com naturalidade junto à equipe. Tanto que 51% dos nossos colaboradores são mulheres, e 49% homens”, conta.
Falta de oportunidades desestimula ingresso de mulheres em área de Tecnologia
Carla Melhado construiu uma longa jornada profissional em telecomunicações, área, segundo ela, extremamente competitiva e assídua por novidades. Assim, conseguiu entender que a velocidade e a adaptabilidade que a tecnologia proporciona são chaves para toda indústria, e acabou, de forma espontânea, fazendo uma mudança de área.
Os acontecimentos da minha carreira ocorreram de forma muito natural e fluida, mas entendo que possa ter sido uma exceção. Talvez, a maior barreira de entrada às mulheres no mercado de tecnologia seja a capacidade de adaptação. É um mercado muito competitivo e frequentemente pouco atrativo às mulheres.
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Atualmente, Carla é presidente da Mutant, empresa do setor de Tecnologia da Informação. Ela reconhece que parte considerável da força de trabalho nessa área ainda é composta por homens e pontua duas razões para essa baixa presença feminina: a falta de incentivo para a formação técnica e a falta de oportunidades para as mesmas.
“Até pouco tempo, poucas mulheres se sentiam atraídas a começar estudos em tecnologia da informação, por exemplo. Em contrapartida, muitas não percorrem essa trajetória, pois entendem não ter as mesmas oportunidades que os homens. E está aí o paradoxo desse mercado: há poucas oportunidades, pois há poucas profissionais qualificadas para tal, ou o inverso?”.
Para ela, ter mulheres no setor tem importância irrevogável e estratégica: