Concurso IBGE: funcionários repudiam adiamento do Censo 2021

Após informações sobre a possibilidade do governo adiar o Censo 2021 e, consequentemente, o concurso IBGE, funcionários repudiam medida.

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Publicado em:20/08/2020 às 11:00
Atualizado em:20/08/2020 às 11:00

Na última terça-feira, 18, reportagem do Estadão afirmou que o Governo Federal estuda adiar o Censo Demográfico 2021 e, consequentemente, o concurso IBGE. Tal informação, no entanto, surpreendeu funcionários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Segundo a Associação dos Trabalhadores do IBGE (ASSIBGE SN), o adiamento do Censo Demográfico de 2021 para 2022, por razões orçamentárias, é uma contradição para o próprio governo. 

"Representará um desperdício de recursos já aplicados em equipamentos e recursos humanos. Muito trabalho e esforço da casa já foi direcionado para o Censo 2020, que já havia sido adiado para 2021", diz a categoria.

Segundo o sindicato, toda a atualização do cadastro de endereços e da base territorial, produzida até o final de 2019, ficará desatualizada. "Não há previsão de pré-coleta, operação de atualização feita pelos próprios recenseadores. Serão necessários recursos para atualização cadastral e obsolescência dos equipamentos", explica.

Vale lembrar que, em 2019, o IBGE publicou alguns editais, entre eles:

Todos os processos seletivos tinham os Censos como objetivo. Se a coleta de 2021 for adiada para 2022, será necessário, segundo a categoria, outro treinamento mas sem a possibilidade de novas provas piloto e Censo Experimental. 

"A não ser que se gaste novamente recursos para estes fins. Os contratos dos analistas censitários encerram justamente em 2022. Não haverá pessoal suficiente para etapas de crítica, apuração e tabulação", diz a entidade.

Ainda segundo a ASSIBGE, o Instituto tem um percentual de, aproximadamente, 30% da sua força de trabalho ativa aposentável.

"Uma parte desse pessoal não aguardará a realização do Censo com o novo adiamento. Quem vai capacitar os temporários e passar o know how, aspectos fundamentais para o sucesso das pesquisas do IBGE?", questiona.

Se for confirmado o adiamento do Censo, a categoria ressalta ainda que o resultado só sairá depois das eleições para presidente.

"Trata-se de um desperdício de dinheiro público e um verdadeiro apagão estatístico. Dessa forma, dados concretos também sairiam de cena nos debates sobre o projeto de país", conclui. 

Preparativos para o concurso IBGE seguem em andamento (Foto: Divulgação)
Governo estuda adiar Censo 2021 para 2022
(Foto: Divulgação)

 

Adiar Censo pode gerar 'ocultação de informações'

Ainda segundo a Associação dos Trabalhadores do IBGE, o novo adiamento do Censo significa a ocultação de informações fundamentais para o conhecimento da realidade brasileira e de sua população.

"Em um momento que estamos atravessando gravíssima crise econômica e sanitária. Qual o impacto da Covid-19 nos municípios brasileiros? E na mortalidade? E para a fecundidade?", ressalta a categoria sobre a importância da pesquisa.

O Censo do IBGE continua sendo a única base de dados capaz de fornecer informações municipais e intramunicipais abrangentes, por mais importante que seja a amostra da Pnad Contínua.

"O tratamento do Governo Federal à produção de estatísticas e ao conhecimento em geral, aponta para uma operação 'esconde números'.  Ainda ecoa em nossos ouvidos a frase do ministro da Economia na posse da presidente do IBGE: 'Quem pergunta demais, descobre o que não quer'", diz a categoria.

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Entenda os fatores que podem levar ao adiamento do Censo 2021

concurso IBGE 2021, com mais de 208 mil vagas temporárias, pode ser adiado mais uma vez, ficando assim para 2022. A informação foi divulgada na última terça-feira, 18, pelo Estadão. Segundo a reportagem, o Governo Federal estuda adiar o Censo Demográfico que ocorreria no ano que vem.

Essa possibilidade foi incluída nas discussões da proposta de Orçamento de 2021, que será encaminhada ao Congresso no fim deste mês Neste caso, os recursos para a realização do Censo seriam remanejados para outras áreas.

A ideia é que a verba que seria destinada à pesquisa - R$2,3 bilhões - reforce outros ministérios, como o da Defesa.

Nas discussões sobre a proposta de orçamento, o governo tem privilegiado a ala militar. Para aumentar os recursos da pasta, a equipe econômica busca uma forma de viabilizar esses acréscimos feitos à Defesa. E, uma das possibilidades, é usar o recurso destinado ao Censo.

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Segundo o Estadão, o tema já havia sido levado para a Junta de Execução Orçamentária (JEO), colegiado que define as diretrizes para a execução do Orçamento. 

A justificativa apontada na JEO para transferir o orçamento do Censo a outras pastas seria os efeitos ainda do Coronavírus no ano que vem. O governo, no entanto, já gastou com os preparativos da pesquisa.

adiamento está sendo tratado de forma cautelosa, já que enfrenta resistências dentro do governo. Com o teto de gastos, a solução para remanejar recursos tem sido cortar despesas de uma área para outra.

Concurso IBGE segue previsto para 2021

Em março deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística anunciou a suspensão do seu concurso IBGE devido à pandemia de Coronavírus. Além desta seleção, mais dois editais que estavam previstos para este ano também foram adiados para 2021.

Todos os processos seletivos fazem parte do Censo Demográfico, que, oficialmente, ainda segue previsto para o próximo ano.

Segundo o IBGE, apesar do cancelamento do concurso, o quantitativo de vagas não deverá mudar, permanecendo o mesmo em 2021. 

"O que mudou foi a data de realização do Censo. O quantitativo de vagas deve permanecer o mesmo. Todos os processos seletivos previstos para a operação serão realizados no ano do Censo", disse o Instituto à FOLHA DIRIGIDA. 

Com o Censo sendo realizado em 2021, os processos serão abertos novamente. Desta forma, serão oferecidas 208.695 vagas temporárias, com a seguinte distribuição:

Cargos Vagas Escolaridade Remuneração
Agente censitário municipal 5.462 Nível médio R$2.100 + R$458 (auxílio-alimentação) = R$2.558
Agente censitário supervisor  22.676 Nível médio R$1.700 + R$458 (auxílio-alimentação) = R$2.158 
Recenseador 180.557  Nível fundamental  **valor variável - confira a estimativa por região

 

Além deste, o IBGE tem mais dois editais previstos. O primeiro deles já foi autorizado pelo Ministério da Economia e contará com 192 vagas para os seguintes cargos: agente censitário de pesquisa por telefone (180 oportunidades) e supervisor censitário de pesquisa e codificação (12).

De acordo com o aval, publicado em fevereiro, o Instituto deverá definir a remuneração dos profissionais a serem contratados. Os requisitos também não foram revelados.

Os aprovados irão atuar com pesquisas para o Censo, por telefone. A unidade de atuação será o Rio de Janeiro (capital). Em fevereiro, em resposta à FOLHA DIRIGIDA, o IBGE confirmou que este edital, com 192 vagas, seria publicado em abril.

Já a seleção para codificador ficaria para o final do ano, após a conclusão do Censo em outubro.

"Os codificadores nos ajudam na consolidação dos dados que foram coletados na pesquisa. Esse (edital) a expectativa de entrada é lá para novembro, depois que o Censo já estiver concluído", disse o coordenador de Recursos Humanos do IBGE, Bruno Malheiros.

Com as mudanças, o IBGE deve seguir os trâmites deste ano. Sendo assim, o concurso com mais de 208 mil vagas está previsto para março de 2021, seguido do edital com 192 vagas em abril. Já a seleção para codificadores ficaria para o final do próximo ano.  

De modo a contemplar a data de referência dos últimos Censos realizados no Brasil, o próximo Censo Demográfico terá como marco o dia 31 de julho de 2021, com coleta de dados prevista entre 1º de agosto e 31 de outubro de 2021.

"A decisão leva em consideração a natureza de coleta da pesquisa, domiciliar e predominantemente presencial, com estimativa de visitas de mais de 180 mil recenseadores a cerca de 71 milhões de domicílios em todo o território nacional", disse o IBGE.