Concurso INSS: 'temporários não serão suficientes', diz CNTSS
Após autarquia prever concurso INSS para a partir de 2022, presidente da CNTSS comenta perspectivas e perigos da demora na seleção.
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Publicado em:22/06/2020 às 04:30
Atualizado em:22/06/2020 às 04:30
Em maio, o Instituto Nacional do Seguro Social informou que vai fazer um redimensionamento do seu quadro de pessoal para realizar o concurso INSS a partir de 2022. Até lá, os mais de 5 mil profissionais temporários contratados precisam normalizar a fila de benefícios, que chegou a quase 2 milhões de processos pendentes este ano.
Contudo, o número de cargos vagos na autarquia atualmente preocupa. Ele já passa de 22 mil, segundo auditoria da Controladoria Geral da União. O dado foi passado à reportagem da FOLHA DIRIGIDA pelo presidente da CNTSS/CUT, Sandro Alex.
A CNTSS – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social – representa nacionalmente os profissionais da saúde, previdência e assistência social. E a entidade é mais uma que tem criticado a contratação de militares e aposentados no INSS, cobrando a realização de um concurso para efetivos.
Um dos principais motivos alegados pelo Governo Federal para não autorizar a seleção para efetivos agora é que a força-tarefa (com os temporários) e toda a reestruturação da prestação de serviços, o que inclui a digitalização, vão resultar em novas necessidades e menos servidores. Por isso o redimensionamento do quadro.
Mas na visão do representante da CNTSS esse discurso se distancia da realidade. Ele lembra que o instituto recebe, em média, cerca de 300 mil pedidos de benefícios todos os meses. E são necessários servidores com conhecimento técnico e um quadro experiente para lidar com a demanda.
“Os benefícios vão continuar crescendo e não haverá trabalhadores para atender. Isso que estão tentando fazer, de contratação temporária, já foi visto antes e não deu certo. Agora não será diferente.”
Alex defende que os 5 mil temporários, que encerram suas atividades em um ano, não vão mudar a realidade do quadro permanente, cujo déficit cresce a cada mês e não é o suficiente, em números, para atender a quantidade de pedidos de benefícios que chegam.
“Porque não é uma coisa simples (analisar e conceder benefícios), é algo que requer um conhecimento bem específico em Legislação Previdenciária. Não é simples analisar um processo e dizer se uma pessoa tem direito ou não a uma determinada modalidade de benefício.”
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Situação do INSS demanda concurso e outros investimentos
Em nota, a Confederação reforçou que “o quadro atual só será revertido com a realização de concurso público e a incorporação de profissionais capacitados e com perspectiva de desenvolvimento de carreira no Seguro Social.”
Junto a esta medida, a organização ainda cobra que sejam ampliados os investimentos em infraestrutura, tecnologia da informação, formação de seus quadros técnicos, programas de informática para facilitar os processos laborais, entre outras medidas.
A CNTSS informou que desde a promulgação da Lei nº 13.846/2019, que instituiu o programa especial de análise de benefícios com indícios de irregularidade, o INSS não atualizou sistemas e normas.
“Os problemas que sempre apontamos foram referendados até mesmo por Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), em 2013, Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), em 2016, e Recomendação do Ministério Público Federal do DF, em 2019.”
Por essas questões, a entidade diz que vai manter sua estratégia de cobrar das autoridades a realização de concursos públicos, entendendo que essa é a única forma de resolver efetivamente os problemas no INSS; além de respaldar o respeito ao corpo técnico de servidores e fortalecer a carreira do Seguro Social.
INSS tem mais de um milhãos de benefícios pendentes
(Foto: Divulgação)
O que dizem o Governo e o INSS sobre a necessidade de contratações
A política apresentada pelo Governo Federal é a de priorizar as contratações de áreas que considera essenciais, o que tem resultado em menos autorizações no Poder Executivo. No caso do INSS, apesar da emergência apresentada, a saída proposta foi a contratação dos temporários.
Inicialmente, a ideia era chamar apenas militares da reserva, mas após diversas entidades questionarem a medida, o Governo ampliou o chamamento público a servidores aposentados do INSS e de outros órgãos da União.
Ainda assim, muitos questionamentos seguiram sendo apresentados a respeito, chegando inclusive a pedido de suspensão dos contratos temporários. A ideia do Governo, com a seleção restringindo a participação de outros civis, seria torná-la mais rápida e menos burocrática.
Com isso, a previsão é que a força-tarefa regularize a fila de benefícios ainda este ano. E até o final de 2021, quando encerram esses contratos, o redimensionamento do quadro será feito permitindo a realização de um novo concurso.
É importante destacar que a própria autarquia reconhece a necessidade de servidores, embora considere válida a proposta de regularizar a fila de benefícios com os profissionais temporários.
O presidente do INSS, Leonardo Rolim, disse que quer regularizar a situação entre agosto e outubro. E já declarou que reconhece a necessidade de concurso público, mas disse que este não é o momento.
A autarquia vai realizar um redimensionamento do quadro de pessoal até o final de 2021, de modo que um edital para efetivos possa ser estudado para sair no ano seguinte. O último pedido de concurso foi encaminhado em 2018.
Na ocasião, foram solicitadas mais de 10 mil vagas, sendo mais de 2 mil referente ao concurso anterior (que ainda estava vigente na época) e 7.888 vagas em um novo edital.
A solicitação contemplava 3.984 vagas de técnico (nível médio), 1.692 vagas de analista (nível superior) e 2.212 vagas de médico perito (nível superior). Dados de 2019 apontam que o déficit já passou dos 10 mil cargos.
Mas o número de vagas que serão contempladas em um próximo edital ainda é uma incógnita. Já que o Instituto irá fazer um redimensionamento do quadro. Confira as vagas do último pedido:
TÉCNICO
ANALISTA
MÉDICO PERITO
- Escolaridade: nível médio - Nº de vagas: 3.984 - Remuneração: R$5.186,79
- Escolaridade: nível superior - Nº de vagas: 1.692 vagas - Remuneração: R$R$7.659,87
- Escolaridade: nível superior em Medicina - Nº de vagas: 2.212 - Remuneração: R$12.683,79
Em entrevista à FOLHA DIRIGIDA, um dos diretores da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), disse que precisam ser contratadas pelo menos 20 mil pessoas para repor o quadro efetivo da autarquia.
O último concurso para técnicos e analistas do INSS foi realizado em 2015. A seleção contou com 950 vagas, mas o número foi considerado inexpressivo diante do déficit já existente na época. No caso de médico perito, a seleção anterior foi aberta em 2011, com 375 vagas.