Reforma Administrativa: relator defende estabilidade por 10 anos

Em entrevista, o relator da proposta da Reforma Administrativa defendeu a estabilidade de 10 anos para contratos temporparios. Veja os detalhes!

Política e ConcursosReforma Administrativa
Autor:Mateus Melis
Publicado em:29/09/2025 às 18:30
Atualizado em:29/09/2025 às 19:01

Em entrevista ao Canal Livre, da TV Band, o relator da proposta da Reforma Administrativa, deputado Pedro Paulo, defendeu a estabilidade de 10 anos para o novo modelo de ingresso no serviço público previsto no texto.


De acordo com o parlamentar, o modelo de contratação por tempo determinado é uma oportunidade de desobrigar os setores de pessoal do serviço público de contarem com servidores por um longo período.

"Não será a estabilidade total, por tempo indeterminado, porque existem determinadas funções que são eminentemente de Estado mas que, por exemplo, em um planejamento de RH, não exigem a permanência daquele trabalhador por 35 anos ou por 70 anos na folha. Qual é o problema de se ter uma regra de contratação em que esse servidor, nesse período, conte com alguma estabilidade, com a proteção previdenciária, mas cuja regra seja de 10 anos?", destacou. 

O novo modelo de contratação e a estabilidade temporária desses servidores são um dos principais itens do texto da Reforma Administrativa, que deverá ser entregue nos próximos dias.


A reportagem do Qconcursos Folha Dirigida apurou, junto a fontes, que o Governo Federal é contra essa proposta.


O principal questionamento reside no fato de que o tempo determinado de contratação possa ferir a estabilidade e, além disso, abrir espaço para o uso dos cargos em uma possível interferência política nos trabalhos do servidor.


Para o deputado, o modelo de contratação, além de estabelecer um percentual para que não se torne regra no funcionalismo, não fere a estabilidade.

"Tem segmentos que acham que qualquer coisa que não seja um servidor estatutário é uma heresia. Esses vão continuar reclamando, não tem jeito. A contratação temporária não fere a estabilidade do servidor", afirmou.

Reforma e diálogos com o Governo

Na entrevista, o parlamentar também comentou sobre a criação da proposta, cujo texto nasceu na Câmara dos Deputados.


De acordo com o relator, o Governo não é contra a iniciativa, mas existem pontos de divergência entre o texto e o Executivo nacional.


Na visão do deputado, isso não será um empecilho para a tramitação da proposta.

"Eu diria que há algumas questões mapeadas nas quais o Governo encontra problemas, como o vínculo do contrato estatutário por tempo determinado, algo em relação ao qual eles têm uma clara contrariedade. Outra questão em que também demonstram contrariedade é o teto remuneratório para estatais não dependentes. Há um ou outro ponto em que divergem, mas não se trata do mesmo conjunto de divergências ou contrariedades que existia na PEC 32", afirmou.

Recentemente, a ministra da Gestão, Esther Dweck, reforçou a preocupação com alguns pontos da Reforma Administrativa.


Entre eles, a possibilidade de redução de 50% dos salários iniciais das carreiras públicas, o desenvolvimento de uma tabela única salarial para todos os servidores e o bônus por serviços bem executados e que atinjam metas.

"Não conhecemos o texto final, mas tem carreiras que o salário inicial é muito baixo e que tem amplitude [distância do piso ao topo] baixa. No Executivo, para algumas carreiras, reduzimos o salário de entrada. Mas tem carreiras em que não daria para reduzir. Você não pode falar que todo mundo tem que diminuir pela metade", disse Dweck em entrevista concedida no final de agosto.

Além disso, a avaliação de desempenho e a discussão sobre a estabilidade também têm sido alvo de observações da ministra da Gestão

"A estabilidade é uma proteção ao Estado, mas não pode ser uma proteção ao mau servidor. A estabilidade deve ser vinculada a um programa de avaliação de desempenho", disse a ministra Esther.

+Leia o Editorial do Qconcursos - Reforma Administrativa: estabilidade não se negocia

Deputado volta a defender estabilidade por 10 anos

(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)


Ministro destaca estabilidade e desempenho

Em meio ao intenso debate sobre a Reforma Administrativa, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou a importância da conexão entre a estabilidade do servidor e o desempenho no serviço público.


O ministro destacou, em entrevista a um podcast, a legitimidade do controle da qualidade e eficiência nos trabalhos.


Tais aspectos, na visão do ministro, além de proporcionarem um retorno importante à sociedade, seguem também um padrão burocrático do Estado, presente em todo o mundo, que condiciona a estabilidade a regras claras de desempenho.


Para Haddad, é importante pensar na estabilidade e na qualidade dos serviços, respeitando o bem-estar do trabalhador, com uma jornada coerente com as atribuições exigidas pelo cargo.

Quais as principais propostas da Reforma Adminsitrativa?

De acordo com o deputado e relator, Pedro Paulo, a Reforma Administrativa deverá ser dividida em quatro grandes eixos:

  • Governança, Gestão e Estratégia;
  • Recursos Humanos;
  • Transformação Digital; e
  • Privilégios no serviço público.

Serão protocolados três anteprojetos, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), um Projeto de Lei Complementar (PLC) e outro de lei ordinária.


Os textos oficiais ainda não foram apresentados, mas Pedro Paulo já adiantou algumas medidas com impactos para os servidores públicos. Confira!

  • Avaliação de desempenho: a promoção na carreira não será mais baseada somente no tempo de serviço. O avanço acontecerá a partir da avaliação do desempenho individual. Um sistema de avaliação padrão será adotado em todos os poderes e esferas de governo, e cada carreira deverá ter, ao menos, 20 níveis para progressão.
  • Contratações temporárias: será criado um cadastro nacional para essas contratações. Os contratos poderão durar até cinco anos, com um período de 12 meses de "quarentena" antes de uma possível recontratação. Os trabalhadores terão direitos como licença-maternidade e adicional de férias em contratos com duração superior a um ano.
  • Bônus por resultado: funcionários poderão receber bônus se atingirem metas institucionais, desde que a situação financeira do órgão permita. Essa gratificação não se aplica a agentes políticos.
  • Teletrabalho: o limite para trabalhar remotamente será de um dia por semana, mas poderá ser estendido com uma justificativa formal. Haverá exceções para situações especiais, como problemas de saúde ou questões familiares.
  • Concurso Nacional Unificado: o CNU poderá ser usado para selecionar servidores para governos estaduais e municipais, com o objetivo de tornar o processo de seleção mais eficaz e transparente.
  • Concurso intranível: para determinadas carreiras será possível entrar em um nível mais alto. "Na medida que em estamos tornando obrigatório que cada carreira tenha no mínimo 20 níveis, vamos permitir que para determinadas carreiras, em caráter extraordinário, você possa ter um concurso intranível", disse o deputado Pedro Paulo.
  • Planejamento estratégico: governadores, prefeitos e o Presidente da República terão até 180 dias após assumirem o cargo para apresentar um plano de metas e indicadores para o mandato completo.
  • Fim dos privilégios: proibição das férias de 60 dias para juízes e promotores públicos e a regulamentação de 30 dias únicos de férias para todos os servidores.

De acordo com o relator do grupo de trabalho, a Reforma Administrativa atingirá os atuais servidores públicos.


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