A demora nas convocações dos concursos Correios já inquieta aprovados nas duas seleções mais recentes. À medida que os prazos se aproximam, crescem as dúvidas sobre como resguardar a nomeação.
O caso mais sensível é o do SESMT, homologado em 22 de novembro de 2024. A validade inicial iria até 22 de novembro de 2025. Sem chamadas, o prazo foi prorrogado até novembro de 2026.
A seleção da área Operacional (carteiro e analista), homologada em 14 de abril de 2025 e válida até abril de 2026, também gera apreensão, pois muitos temem a repetição do cenário do SESMT.
Em meio a uma crise financeira da estatal que conta com 4,37 bilhões de déficit, ainda não há cronograma público para convocações, o que exige planejamento jurídico e pessoal dos candidatos.
Este texto contextualiza o cenário, explica os fatores que travam as nomeações e apresenta caminhos administrativos e judiciais, com análise do advogado Sergio Camargo.
A crise financeira pode justificar adiar nomeações nos concursos Correios?
O advogado Sergio Camargo, especialista em concursos públicos, ressalta que as estatais seguem regras de planejamento orçamentário, o que inclui a previsão de despesas com pessoal.
“O orçamento, ele já tá pré-estabelecido pelas leis que o regem, que é o Plano Plurianual, a Lei de Diretrizes Orçamentais e a Lei do Orçamento Anual. Então, a verba já tá sinalizada há quatro anos”, explica.
Ainda assim, Sergio Camargo destaca que alguns órgãos redirecionam recursos para outras finalidades e, posteriormente, alegam falta de verba para despesas originalmente previstas, uma prática que, segundo ele, é juridicamente frágil.
Dessa forma, caso a demora nas convocações seja justificada por problemas financeiros, órgãos de controle podem, e devem, apurar a real situação orçamentária da estatal.
O que o aprovado pode fazer se os prazos avançarem sem chamadas
Camargo explica que os instrumentos processuais disponíveis para candidatos são bem conhecidos e não dependem de uma “demora excessiva” para serem utilizados.
“As medidas são as de praxe, independente de haver uma excessiva demora da gestão”, afirma.
Na prática, o primeiro passo é provocar formalmente a Administração. Caso não haja resposta ou se a justificativa for insuficiente, o caminho seguinte é a judicialização, a fim de proteger a ordem de classificação e a finalidade do concurso.
“Ação ordinária de obrigação de fazer, e não fazer, com pedido de Tutela Antecipada", destaca o advogado.
Isso pode ser manejado individual ou coletivamente, com pedidos de tutela para impedir preterição, exigir motivação e resguardar dotação orçamentária para provimento.
Entenda crise financeira e atraso nas convocações
A falta de um cronograma para a convocação dos aprovados acontece em meio a uma grave crise financeira nos Correios, que travam qualquer avanço nas nomeações.
Os balanços recentes mostram um acúmulo de prejuízos ao longo dos últimos anos. Em 2023, a empresa fechou com déficit de R$ 633,5 milhões. Já em 2024, o rombo cresceu para R$ 2,6 bilhões.
Em 2025, o cenário se agravou ainda mais: somente no primeiro trimestre, a estatal registrou perda de R$ 1,7 bilhão, chegando a R$ 4,37 bilhões no primeiro semestre, segundo dados divulgados pela imprensa.
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Concurso Correios ainda não convocou aprovados nos dois últimos editais
(Foto: Agência Brasil)
Ao longo deste ano, a situação financeira continuou deteriorando. Reportagens do Qconcursos Folha Dirigida, em maio e setembro, mostraram que os Correios poderiam necessitar de um aporte bilionário da União, hipótese mencionada pelo próprio governo.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu a gravidade da crise e a vinculou ao modelo do setor. Segundo ele, os Correios mantêm serviços postais em localidades remotas, enquanto os concorrentes privados atuam apenas nos segmentos mais rentáveis.
“Enquanto todos os concorrentes ficam com o filé mignon, os Correios arcam com o osso, sem recursos para subsidiar”, disse Haddad em entrevista recente, ao justificar os sucessivos prejuízos.
O problema também levou à renúncia do presidente Fabiano Silva dos Santos, em julho, seguida da indicação de Emmanoel Schmidt Rondon, funcionário de carreira do Banco do Brasil, para assumir a estatal em setembro.
A nomeação do novo presidente chegou a aumentar a expectativa pela convocação dos aprovados, já que o Banco do Brasil tem histórico de chamar todos os classificados em seus concursos. No entanto, as convocações foram de fato adiadas.
O que dizem os Correios sobre as convocações
Em meio a esse cenário, a empresa respondeu ao Qconcursos Folha Dirigida que:
“A convocação dos candidatos aprovados será iniciada conforme a necessidade da empresa e a ordem de classificação.”
Convocações do concurso Correios devem ficar para 2027
Ao final de novembro, os Correios informaram um novo prazo para convocação dos aprovados. Conforme informação divulgada pelos jornais O Globo e Estadão, os candidatos só serão convocados em 2027.
Este prazo, no entanto, batem de frente com o prazo máximo de convocação, estabelecidos com a homologação dos concursos. Em 2027, os prazos do concurso SESMT e do concurso correios de carteiro e analista já estariam expirados.
A reportagem do Qconcursos Folha Dirigida apura junto à empresa os novos prazos e informações sobre as chamadas de aprovados.
Em contatos anteriores, foi dito que:
"a convocação dos candidatos aprovados nos processos seletivos, para os cargos das áreas de Saúde e Segurança do Trabalho e Operacional, será iniciada de acordo com a necessidade da empresa e a ordem de classificação".
Pressão sindical pediu providências ao governo
Após o anúncio do plano estratégico e a indefinição sobre convocações, a Federação Interestadual dos Empregados da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (Findect) enviou um ofício ao ministro da Casa Civil, Rui Costa, solicitando que intermedeie uma audiência com o presidente Lula.
Entre as demandas apresentadas ao governo estão:
- devolução parcial dos dividendos retirados entre 2011 e 2016;
- criação de um comitê de crise com participação dos trabalhadores;
- investimentos em tecnologia, logística e marketplace próprio;
- defesa da valorização dos Correios como empresa pública;
- revogação da “taxa das blusinhas”, que impacta o e-commerce.
A Findect sustenta que a estatal permanece essencial ao país, lembrando que, na pandemia, garantiu a distribuição de vacinas em todo o território nacional e, em 2024, transportou centenas de toneladas de doações às vítimas das enchentes em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul.
Concurso Correios: vacâncias evidenciam necessidades
Um fator relevante para acelerar as convocações dos aprovados é o grande número de cargos vagos na empresa, que pode aumentar ainda mais nos próximos meses.
Levantamento do Qconcursos Folha Dirigida aponta mais de 10,6 mil vacâncias dos Correios. O total pode ser ainda maior, pois a base oficial mais recente é a de novembro de 2024. O PDV em curso tende a ampliar os desligamentos e, com isso, os postos sem ocupação.




















