Para Fachin, Reforma Administrativa fere autonomia do Judiciário

Ministro Edson Fachin diz que não concordará com Reforma Administrativa que resulte em redução da autonomia do Judiciário. Entenda!

Reforma Administrativa
Autor:Bruna Somma
Publicado em:06/10/2025 às 17:05
Atualizado em:06/10/2025 às 17:05

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, falou sobre a proposta de Reforma Administrativa durante o XXV Congresso Brasileiro da Magistratura, na sexta-feira, 3.


De acordo com ele, o Poder Judiciário não concordará com qualquer proposta de reforma que resulte em redução da autonomia e da independência da magistratura.

“Se quiser pensar em governança, em gestão pública, em transformação digital e em profissionalização do serviço público e, portanto, em uma reforma de todo o Estado, de todos os Poderes, uma reforma que seja efetivamente merecedora desse nome, haverá não só a nossa participação, como o nosso aplauso. Porém, posso dizer que, como presidente do Supremo Tribunal Federal, não vamos aquiescer em qualquer tipo de reforma que vá tolher a autonomia e a independência da magistratura brasileira”, afirmou o ministro, durante o congresso promovido pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e pela Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar).

O ministro se mostrou preocupado com os textos da Reforma Administrativa, apresentados oficialmente na última quinta, 2, na Câmara dos Deputados.


Os textos preveem, por exemplo, a extinção de privilégios, como fim das férias de 60 dias e fim do adicional de férias superior a ⅓ da remuneração.


Além da possibilidade de demissão de membros do Judiciário e do Ministério Público por processo administrativo no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com ampla defesa e contraditório.


Presidente do STF defende autonomia do Poder Judiciário diante da reforma

(Foto: Divulgação/STF)


“Ninguém pense que fará por cima do Judiciário uma reforma contra o Poder Judiciário brasileiro. Não permitiremos e estarei vigilante para que haja respeito à magistratura brasileira. Não concordamos com circunstâncias eventualmente abusivas, mas é fundamental que todos os Poderes sejam chamados”, disse.

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Relator diz que Reforma Administrativa não fere autonomia do Judiciário

O coordenador do grupo de trabalho da Reforma Administrativa e relator da proposta, deputado Pedro Paulo (PSD RJ), afirmou nesta segunda-feira, 6, que a fala do ministro Fachin não foi contra a reforma e que quer ouvir a posição dele.


Em resposta a jornalistas, Pedro Paulo informou que tem uma reunião marcada com Fachin na terça, 7, às 13h30.


O presidente da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB), Frederico Mendes Júnior, ressaltou, durante o Congresso que Fachin participou, a independência entre os Poderes e a necessidade de respeito às carreiras de Estado.

“A Constituição é clara ao afirmar que Legislativo, Executivo e Judiciário são Poderes independentes e harmônicos. Qualquer medida que busque alterar a organização do Judiciário ou atingir as prerrogativas da magistratura precisa necessariamente partir do próprio Supremo Tribunal Federal", frisou.

Ele acrescentou: “a AMB se coloca firmemente contra propostas que nascem com vício de iniciativa e que pretendem enfraquecer as carreiras de Estado. O Brasil precisa de servidores respeitados, bem remunerados e com condições adequadas de trabalho, para que possam exercer sua função com independência, servindo unicamente ao interesse público e à cidadania. Estaremos vigilantes e mobilizados em defesa da magistratura e da qualidade da justiça que é entregue à sociedade brasileira”.

Reforma Administrativa deve enfrentar resistência na tramitação

Os textos da Reforma Administrativa foram apresentados oficialmente, no dia 2 de outubro, pelo grupo de trabalho na Câmara dos Deputados.


O relatório final do grupo lista 70 propostas divididas em quatro grandes eixos:

  • Eixo 1: Estratégia, Governança e Gestão - com foco no planejamento estratégico, no acordo de resultados e na criação de um bônus por desempenho - opcional para entes com saúde fiscal -, mantendo a diligência com as contas públicas por meio da revisão de gastos;
  • Eixo 2: Transformação Digital - voltada à modernização da máquina pública e à digitalização plena de processos e serviços, incentivando a criação de novos GovBRs e Pix;
  • Eixo 3: Profissionalização do Serviço Público - focada no planejamento da força de trabalho, na ampliação dos níveis de progressão da carreira, no remodelamento do estágio probatório, na adesão de municípios e estados ao concurso nacional unificado e na implantação de uma tabela remuneratória única; e
  • Eixo 4: Extinção de privilégios no Serviço Público - o eixo central do enfrentamento às desigualdades e excessos no serviço público. 

Líderes partidários já apontam que o cenário político sobre o tema é adverso. A proposta foi recebida com ceticismo por líderes partidários.


Conforme apuração da Carta Capital, somente uma articulação direta do ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP AL), poderá dar fôlego ao tema.


Há um sentimento de que é praticamente impossível votar uma medida dessa natureza com uma “eleição na porta”. 


+ Leia o Editorial do Qconcursos - Reforma Administrativa: estabilidade não se negocia

Concursos são impactados na proposta da reforma

A Reforma Administrativa apresentada prevê impactos para concursos públicos. Para publicar novos editais, o governo deverá fazer um "dimensionamento da força de trabalho" para identificar onde existe uma real necessidade de servidores.


Os concursos também deverão priorizar carreiras transversais, em que os profissionais ficam à disposição para atuarem em mais de um órgão, como analista de infraestrutura e especialista em políticas públicas (EPPGG).


A proposta ainda indica é que cada carreira pública tenha, pelo menos, 20 níveis de progressão. A reforma prevê a realização de concursos para níveis maiores de experiência.


Conforme o texto, nem todo servidor precisa começar do nível inicial. Com o planejamento de pessoal traçado, o gestor poderá propor um concurso para níveis mais elevados, em busca de profissionais que já tenham a qualificação e/ou expertise necessárias para a função.


Para evitar que esse modelo vire regra, a proposta é fixar uma trava de 5% do quadro para essas excepcionalidades.


Ainda sobre concursos, a Reforma Administrativa pretende ampliar a atuação do Concurso Nacional Unificado (CNU).


A ideia é assegurar que esse modelo não se perca nas próximas gestões e alcance um caráter ainda mais nacional ao viabilizar a participação dos estados e municípios a este tipo de instrumento de seleção.


Diferente do que vinha sendo divulgado pelo coordenador do grupo de trabalho, o deputado Pedro Paulo (PSD RJ), os textos da Reforma Administrativa não trouxeram a criação de um novo vínculo estatutário no serviço público, válido por tempo determinado de dez anos.


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