Cada aprovação conta uma história. A de Ricardo Baronovsky começou com o desejo de alcançar a tão sonhada estabilidade profissional e financeira, além de poder fazer seus planos pessoais com a tranquilidade de receber o salário no quinto dia útil.
Autodenominado "concurseiro profissional", ele conta que foi bolsista na faculdade e presenciou tanto o auge quanto o pior momento da carreira de seu pai, na iniciativa privada.
Por isso, há 15 anos, decidiu prestar concurso público em busca de estabilidade, para que seu sucesso dependesse exclusivamente de seu mérito e não de sorte.
"Enquanto muitos querem ousar e arriscar na vida profissional, eu buscava estabilidade, receber o salário no quinto dia útil e depender apenas do meu esforço. Não queria ficar à mercê da sorte no mercado ou da vontade da chefia. Queria que minha competência fosse o suficiente para me manter em um cargo público", disse Ricardo.
Atualmente professor de Direito Constitucional e coordenador de Educação no Qconcursos, Baronovsky revela que já prestou mais 100 concursos. No entanto, não gosta de contar as aprovações, mas sim as reprovações.
"São elas que permitem entender o sentimento de quem está estudando, as frustrações, as derrotas, e entender que cada reprovação é um degrau na sua jornada", detalha.
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Desacreditado pelo pai no início, Baronovsky perseguiu seu objetivo e provou que era possível mudar sua vida por meio de concursos públicos.
Para isso, precisou de muita organização. Foram cerca de 50 provas prestadas até alcançar essa conclusão, e ele chegou a ouvir do pai o conselho para desistir.
"Eu lembro bem, meu pai um dia desceu na escada e falou: 'olha, você é um ótimo filho, trabalhador, estudioso, vai concluir a faculdade com mérito, mas é um péssimo concurseiro, vai para a advocacia, foge dessa área'. Ali eu percebi então que bastava uma aprovação para mudar toda a minha trajetória", conta o professor e coordenador.
O primeiro concurso que ele prestou foi para o cargo de procurador municipal da Prefeitura de Diadema, em São Paulo, no qual obteve uma colocação muito ruim.
Algum tempo depois, conseguiu a primeira aprovação e depois a sua posse no cargo prúblico. Ele conta que nunca vai esquecer o dia em que pôs o contracheque na mesa de jantar e viu a emoção em formato de lágrimas.
"Naquela fração de segundos, daquela lágrima de alguém que tinha me desacreditado tempo atrás, não porque havia alguma antipatia com o concurso, mas porque queria o melhor para o filho. Quem passa em concurso muda não só a sua trajetória, mas muda a história da sua família", comenta Baronovsky.
Baronovsky acumula dezenas de aprovações em concurso, incluindo para delegado de polícia
(Foto: Arquivo Pessoal)
Para Baronovsky, quem se dedica aos estudos para concursos por muitos anos acaba desenvolvendo um instinto acadêmico, um desejo de se tornar professor e ajudar outras pessoas a enfrentarem essa jornada de forma menos difícil do que a sua.
"Foram vários momentos prestando concurso, desde os concursos mais simples, concursos municipais, concursos de servidor, de nível médio, até depois concursos de nível superior, aí entravam os concursos de analista, procuradorias, concursos um pouco mais difíceis, até chegar em um outro momento que eu já era professor", conta.
Segundo Baronovsky, quem dá aula para concursos precisa ter experimentado a realidade de ser concurseiro.
"A principal característica hoje para quem quer dar aula para concurso é mais do que conhecer a matéria, isso é básico. O melhor método de estudos é "tempo na cadeira", ou seja, é aquela jornada que só você conhece, são dezenas, centenas de milhares de horas em que você para a sua vida", comenta ele.
O professor ainda reforça sua visão com a frase: "Eu digo que o prêmio é proporcional ao grau de sacrifício que você faz".
Leia também a história de outros aprovados em concursos:
Baronovsky relata que, apesar de acumular mais de dez aprovações em concursos, nenhuma delas foi em carreiras jurídicas.
Ele nutria a ambição de ser aprovado em cargos como delegado, juiz e promotor.
Foi então que, já servidor público e atuando como professor, desfrutando de uma qualidade de vida considerada excelente, decidiu interromper tudo e voltar aos estudos.
"Abri mão de várias aulas, de funções de confiança no meu cargo público, reduzi minha renda para menos da metade e voltei a estudar", afirma Ricardo.
Em seguida, conseguiu ser aprovado nos concursos de delegado de polícia e promotor de Justiça, ambos em São Paulo.
Nessa segunda fase de estudos, Baronovsky relembra um momento marcante de sua trajetória: a prova oral para delegado de polícia.
O professor e servidor comenta que esse episódio foi a "redenção em sua vida de concurseiro", pois, embora já tivesse alcançado estabilidade, decidiu voltar aos estudos para compreender melhor o sentimento de quem acompanhava sua jornada acadêmica.
"Sou um recém-aprovado, fui nomeado em março de 2021, mas, ao mesmo tempo, já dou aulas há 12 anos, o que me ajudou a entender o que sente quem estuda", diz ele.
Baronovsky relata que, por diversas vezes, desejou ser juiz e almejou outras carreiras.
Foram mais de 50 viagens para prestar concursos fora de seu estado, imaginando que moraria em cada local, mentalizando como seria levar sua família para determinados restaurantes.
Sonhador, ele diz que todo concurseiro faz planos e se empolga ao longo da jornada, mas, muitas vezes, esquece que o concurso pode ter várias etapas.
Ele recorda as provas da magistratura que realizou, nas quais foi eliminado na última fase ou na prova escrita. Cada reprovação era um verdadeiro balde de água fria.
Por fim, deixa uma lição:
"Não é você que escolhe o concurso, é o concurso que te escolhe".
A aprovação no concurso público começa com um motivo, um propósito, uma vocação e uma história.
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