Após PEC da Blindagem, Hugo Motta mira na Reforma Administrativa

De acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, Reforma Administrativa terá prioridade na Casa.

Política e Concursos
Autor:Mateus Melis
Publicado em:23/09/2025 às 11:48
Atualizado em:23/09/2025 às 12:09

Após a polêmica aprovação da PEC da Blindagem, votada na última semana na Câmara dos Deputados, o presidente da Casa, Hugo Motta, afirmou que voltará suas atenções para a tramitação da proposta da Reforma Administrativa.


Durante participação em um evento promovido pelo BTG Pactual, em São Paulo, na última segunda-feira, 22, Motta discutiu diversos pontos sobre projetos da Casa, incluindo as mudanças que poderão impactar os servidores públicos.


De acordo com Motta, "pautas tóxicas" precisam ser retiradas, priorizando assim textos como os da Reforma Administrativa, que, segundo o presidente da Câmara dos Deputados, "realmente importam".


Além da reforma, temas como a proposta que concede isenção do Imposto de Renda e a PEC da Segurança Pública também estão na mira do presidente.


Segundo o parlamentar, entre os assuntos que devem ser debatidos no Legislativo, a Reforma Administrativa é vista como essencial.

"A Reforma Administrativa é urgente. O cidadão não aguenta mais pagar tão caro por um Estado ineficiente. Precisamos entregar serviços públicos de qualidade, com rapidez e eficiência, como a nossa população precisa. Isso só será possível se dermos um choque nos sistemas de serviços públicos como um todo", destacou.

Ainda de acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, o texto da Reforma Administrativa deverá ser entregue nos próximos dias, para dar início às discussões e, posteriormente, a tramitação na Casa.


Hugo Motta também destacou que o deputado e relator da proposta, Pedro Paulo, tem promovido um "amplo diálogo" por meio de um grupo de trabalho com diversos atores e poderes.


No entanto, apesar da informação do presidente da Câmara, centrais sindicais reforçam que não foram convidadas a participar do grupo de trabalho (GT) instituído pelo autor da Reforma Administrativa.


Em encontro com a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, e com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, as entidades representativas dos servidores públicos ressaltaram a ausência de textos concretos e reforçaram a importância de uma reunião entre as centrais sindicais, o relator da Reforma Administrativa os demais integrantes do GT e do Governo Federal.


De acordo com Dweck, a Reforma Administrativa é uma iniciativa do Congresso Nacional, na qual o Governo Federal participa apenas com a apresentação de propostas.


Quais as principais propostas da Reforma Adminsitrativa?

De acordo com o deputado e relator, Pedro Paulo, a Reforma Administrativa deverá ser dividida em quatro grandes eixos:

  • Governança, Gestão e Estratégia;
  • Recursos Humanos;
  • Transformação Digital; e
  • Privilégios no serviço público.

Serão protocolados três anteprojetos, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), um Projeto de Lei Complementar (PLC) e outro de lei ordinária.


Os textos oficiais ainda não foram apresentados, mas Pedro Paulo já adiantou algumas medidas com impactos para os servidores públicos. Confira!

  • Avaliação de desempenho: a promoção na carreira não será mais baseada somente no tempo de serviço. O avanço acontecerá a partir da avaliação do desempenho individual. Um sistema de avaliação padrão será adotado em todos os poderes e esferas de governo, e cada carreira deverá ter, ao menos, 20 níveis para progressão.
  • Contratações temporárias: será criado um cadastro nacional para essas contratações. Os contratos poderão durar até cinco anos, com um período de 12 meses de "quarentena" antes de uma possível recontratação. Os trabalhadores terão direitos como licença-maternidade e adicional de férias em contratos com duração superior a um ano.
  • Bônus por resultado: funcionários poderão receber bônus se atingirem metas institucionais, desde que a situação financeira do órgão permita. Essa gratificação não se aplica a agentes políticos.
  • Teletrabalho: o limite para trabalhar remotamente será de um dia por semana, mas poderá ser estendido com uma justificativa formal. Haverá exceções para situações especiais, como problemas de saúde ou questões familiares.
  • Concurso Nacional Unificado: o CNU poderá ser usado para selecionar servidores para governos estaduais e municipais, com o objetivo de tornar o processo de seleção mais eficaz e transparente.
  • Concurso intranível: para determinadas carreiras será possível entrar em um nível mais alto. "Na medida que em estamos tornando obrigatório que cada carreira tenha no mínimo 20 níveis, vamos permitir que para determinadas carreiras, em caráter extraordinário, você possa ter um concurso intranível", disse o deputado Pedro Paulo.
  • Planejamento estratégico: governadores, prefeitos e o Presidente da República terão até 180 dias após assumirem o cargo para apresentar um plano de metas e indicadores para o mandato completo.
  • Fim dos privilégios: proibição das férias de 60 dias para juízes e promotores públicos e a regulamentação de 30 dias únicos de férias para todos os servidores.

De acordo com o relator do grupo de trabalho, a Reforma Administrativa atingirá os atuais servidores públicos.


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Texto pode contar com novo vínculo estatutário temporário

Entre os pontos de maior divergência com o Governo Federal está a proposta de criação de um novo vínculo estatutário no serviço público, válido por tempo determinado de até dez anos.


A medida prevê que, exceto nas carreiras consideradas típicas de Estado, as contratações poderão ocorrer por esse período, assegurando estabilidade ao servidor.

“Se você tiver uma atividade muito específica e ela se acabar, qual o problema de não contratar mais? O gestor continua tendo a opção do concurso tradicional. A gente está só deixando uma possibilidade a mais”, disse Pedro Paulo no dia 3 de setembro.

Segundo o deputado, existe a interpretação de que a proposta acabe com a estabilidade no serviço público.


Em entrevista ao Estadão/Broadcast, ele rechaçou esse argumento, invocando contratações públicas para funções que podem se tornar obsoletas em prazos de dez anos.

“Não vai acabar com a estabilidade, vai garantir a estabilidade pelo reconhecimento, porque existem carreiras que são exclusivas para servidores públicos”, afirmou.

Ainda conforme o relator, esse tipo de contratação já existe em casos específicos, como professores e militares.


A reportagem do Qconcursos Folha Dirigida apurou com fontes que o Governo Federal é contra essa proposta. Inclusive, é uma das principais polêmicas envolvendo a Reforma Administrativa.

Hugo Motta mira na Reforma Administrativa

(Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Ministra demonstra preocupação com a Reforma Administrativa

A ministra da Gestão vem reforçando que a Reforma Administrativa é uma iniciativa do Congresso Nacional e que o Governo Federal participa apenas com a apresentação das propostas.


Mesmo que o texto ainda não tenha sido apresentado, Dweck tem demonstrado preocupação com alguns pontos.


Entre eles, a possibilidade de redução de 50% dos salários iniciais das carreiras públicas, o desenvolvimento de uma tabela única salarial para todos os servidores e o bônus por serviços bem executados e que atinjam metas.

"Não conhecemos o texto final, mas tem carreiras que o salário inicial é muito baixo e que tem amplitude [distância do piso ao topo] baixa. No Executivo, para algumas carreiras, reduzimos o salário de entrada. Mas tem carreiras em que não daria para reduzir. Você não pode falar que todo mundo tem que diminuir pela metade", disse Dweck em entrevista concedida no final de agosto.

Outro ponto que tem sido alvo de críticas é o bônus por resultado.


Por meio desse mecanismo, os servidores públicos poderão receber gratificações caso atinjam metas institucionais, desde que a situação financeira do órgão permita.


De acordo com a ministra da Gestão, estados e municípios podem acabar recorrendo ao Governo Federal para solicitar recursos destinados ao pagamento desses valores.


Além disso, a avaliação de desempenho e a discussão sobre a estabilidade também têm sido alvo de observações da ministra da Gestão

"A estabilidade é uma proteção ao Estado, mas não pode ser uma proteção ao mau servidor. A estabilidade deve ser vinculada a um programa de avaliação de desempenho", disse a ministra Esther.

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